Como o agronegócio brasileiro recebeu o aumento da taxa Selic?

19 de março de 2021 5 mins. de leitura
O Canal Agro conversou com o economista Guilherme Bellotti de Melo para entender o impacto do aumento da taxa Selic no setor

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Após quase seis anos de baixas consecutivas, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) aumentou a taxa Selic de 2% para 2,75%. Esse índice regula os juros básicos da economia e tem consequências importantes na produção e no consumo das famílias brasileiras.

A medida foi anunciada nesta quarta-feira (17) e surpreendeu especialistas financeiros, que esperavam uma mudança menos abrupta — algo em torno de 0,5%. A alta dividiu opiniões entre entidades importantes: a Confederação Nacional da Indústria classificou a medida como “apressada”; já a Associação Comercial de São Paulo julgou como um acerto.

Mas como esse aumento impacta o agronegócio brasileiro? Para responder a essa pergunta, o Canal Agro conversou com o economista Guilherme Bellotti de Melo, gerente de Consultoria Agro do Itaú BBA. 

Saiba como a alta da Selic foi recebida pelo mundo agro

O aumento de 0,75% na taxa Selic foi maior do que o esperado pela maior parte dos especialistas da área financeira. (Fonte: Jo Galvão/Shutterstock)
O aumento de 0,75% na taxa Selic foi maior do que o esperado pela maior parte dos especialistas da área financeira. (Fonte: Jo Galvão/Shutterstock)

Para o economista, o aumento em 0,75% na taxa Selic não causa grande preocupação no agronegócio brasileiro. Apesar de a economia doméstica passar por problemas — a medida foi uma resposta à inflação, que está próxima dos 5%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado dos últimos doze meses —, o segmento passa por um período de estabilidade.

A tendência favorável permitirá ao agronegócio absorver bem o aumento da Selic, cuja consequência mais direta é a elevação no custo de capital. Isso significa que, ao investir, o produtor poderá sentir os juros de crédito e financiamento um pouco mais “salgados”, mas nada que ameace o setor, cuja produção bruta deve bater R$ 1 trilhão neste ano.

Segundo o consultor, os produtores maiores devem sentir mais o impacto. Como as políticas de juros subsidiados que o governo oferece têm um limite por CPF, os grandes negócios fazem uso de crédito de cestas de financiamento do mercado. Já os pequenos proprietários têm incentivos setoriais que não dependem da Selic. 

No entanto, Melo considera que, em ambos os casos, o aumento da taxa básica de juros está longe de ser um vilão, já que o índice acumula um histórico de quedas. O Copom se reúne a cada 45 dias, e esse é o primeiro aumento desde junho de 2015, quando houve um reajuste de 13,75% para 14,25% — números muito superiores aos atuais 2,75%.

“Avalio que o cenário é bastante positivo para o agronegócio brasileiro. Temos desafios, mas o setor como um todo vai bem. Os juros de 2,75% ainda são baixos em relação ao histórico da Selic”, comentou Melo.

Conheça o contexto que fortalece o agronegócio

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a produção bruta do agronegócio brasileiro deve chegar a R$ 1 trilhão. (Fonte: Diego Grandi/Shutterstock)
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), a produção bruta do agronegócio brasileiro deve chegar a R$ 1 trilhão. (Fonte: Diego Grandi/Shutterstock)

Mas como o agro brasileiro continua estável, apesar do desemprego, da pandemia e da inflação? Segundo o economista, isso ocorre graças ao mercado internacional, que se movimenta bem desde o início da vacinação e demanda as commodities brasileiras. 

O principal destaque é a China, que está recompondo o seu rebanho suíno e triplicou a importação de milho e soja. Entre 2018 e 2019, o país teve um surto de peste africana e ,desde então, o manejo dos animais passou a ser mais próximo do praticado no Brasil: com forte controle nutricional e aumento da demanda de grãos para algo próximo de 30 milhões de toneladas.

Para Melo, isso ajuda a explicar por que o desafio não está no aumento da taxa Selic, mas em como resolver a questão da economia doméstica. Nesse caso, é mais difícil repassar aumentos de custo para o consumidor final. O aumento no consumo de ovos, em relação ao de carnes, exemplifica a questão — frente a aumentos, o consumidor procurará uma opção mais barata.

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Entenda por que a taxa básica de juros subiu

O mercado interno tem dificuldade de acompanhar a alta no preço da carne, cujo preço é puxado pela alta dos grãos. (Fonte: Thiago B. Trevisan/Shutterstock)
O mercado interno tem dificuldade de acompanhar a alta no preço da carne, cujo preço é puxado pela alta dos grãos. (Fonte: Thiago B. Trevisan/Shutterstock)

A flutuação na taxa de juros ocorre porque o Banco Central procura dosá-la de acordo com a inflação. Quando ela está alta, os juros são elevados para reduzir o consumo e, assim, provocar queda nos preços. Já com inflação mais baixa, os juros também podem estar em índices menores, de forma a estimular o consumo.

A política do Copom é uma tentativa de oferecer uma resposta firme à escalada inflacionária, sobretudo de itens alimentícios. Além do aumento de 0,75% dessa semana, espera-se um novo aumento nesse valor na próxima reunião, agendada para o início de maio. A expectativa do setor é que a Selic possa chegar a 4,5% até o fim do ano, patamar vigente no fim de 2019. 

Como a inflação acumulada dos últimos doze meses é de 5,2%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o governo aumenta os juros como uma forma de diminuir o consumo e desinflacionar o preço. Esse é o maior índice desde 2016, quando a inflação bateu a casa de 6,3%.

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Fonte: BC, LinkedIn Itau, O Bom da Noticia.

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