Trigo transgênico testado no Brasil pode suprir demanda global - Summit Agro

Trigo transgênico testado no Brasil pode suprir demanda global

6 de julho de 2022 5 mins. de leitura

Experimento com trigo transgênico realizado pela Embrapa pode impulsionar a produção no Egito, principal importador global do cereal

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O trigo transgênico HB4, da argentina Bioceres, está sendo cultivado de forma experimental pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O Egito, principal importador global do cereal, tem interesse na pesquisa e deseja importar as sementes para reduzir a dependência externa do país.

Os egípcios consomem 21 milhões de toneladas de trigo por ano e importam metade desse volume, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Dos embarques, 80% dos grãos tinham origem em portos ucranianos e russos.

Depois do início da guerra, a cotação internacional do cereal subiu 60%, e a situação causa preocupação por conta da frágil segurança alimentar dos países africanos. O trigo da Rússia e da Ucrânia abastecia 44% do cereal consumido em toda a África.

A situação levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a conduzir negociações para liberar cerca de 20 milhões de toneladas do cereal, que poderiam ser enviados a partir da Ucrânia, e a Rússia pede a retirada das minas nos portos que impedem uma invasão militar para abrir um corredor de exportação. O impasse está longe de ser resolvido.

Situação da oferta global de trigo

Comercialização de produção ucraniana de trigo foi interrompida pela guerra. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
A comercialização da produção ucraniana de trigo foi interrompida pela guerra. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Antes da guerra, a Rússia e a Ucrânia respondiam por mais de 27% da demanda global de trigo, estimada em 202 milhões de toneladas por ano. Os russos exportaram 39,1 milhões de toneladas do grão em 2021, enquanto os ucranianos embarcaram 16,9 milhões de toneladas.

Os Estados Unidos, que é o segundo maior exportador, vendeu 26,8 milhões de toneladas no ano passado, mas enfrenta questões climáticas na safra atual. Cerca de 69% das lavouras estão em áreas de estiagem, o que deve derrubar a produtividade e restringir ainda mais a oferta global, elevando os preços.

“O mercado vai continuar apertado por um bom tempo, mesmo que acabe a guerra. A produção de trigo na Ucrânia é exatamente na área que está sendo ocupada agora pelos russos”, explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa.

O Brasil não corre risco de desabastecimento, uma vez que importa a maior parte do cereal da Argentina e conta com alternativas como os Estados Unidos, o Canadá e outros países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) para atender à demanda interna.

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Resistência aos alimentos transgênicos

(Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Pesquisa brasileira com trigo transgênico argentino pode contribuir para a segurança alimentar da África. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

O Brasil foi o primeiro país a autorizar a importação e a comercialização do trigo modificado geneticamente. Os alimentos transgênicos são criticados por potenciais prejuízos à saúde das pessoas e ao meio ambiente.

As sementes da HB4 são resistentes ao estresse hídrico e ao herbicida glufosinato de amônio. Órgãos, como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), apontam que o maior uso do defensivo agrícola deve contaminar os alimentos. A substância é considerada neurotóxica e pode afetar o sistema reprodutivo humano, segundo relatório da ONU.

No entanto, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio) assegurou a segurança alimentar da farinha derivada de organismos geneticamente modificados (OGM). A autoridade fiscalizadora também autorizou os testes feitos pela Embrapa.

Mudança de posição da indústria nacional

Inicialmente, entidades da indústria brasileira ligadas à cadeia produtiva do cereal, como a Abitrigo, posicionaram-se contrariamente ao uso da farinha transgênica no Brasil. Contudo, seis meses depois, passaram a defender a ideia.

Em novembro, na época de decisão da CTNBio, a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi) cogitou até uma medida judicial cautelar para suspender a liberação.

Tudo mudou em maio, quando uma pesquisa encomendada pela instituição apontou que 72% dos consumidores não teriam restrição ao consumo de trigo e derivados do grão transgênico. “Nós estávamos preocupados com a questão mercadológica”, afirma o presidente da Abitrigo. “Se o mercado aceita essas mercadorias, nós não temos o porquê recusar”, completa Barbosa.

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Fonte: Rubens Barbosa/Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec),Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi)

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