Amazônia é importante regulador do clima para o agronegócio e pode ser fonte de geração de renda com sustentabilidade
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A Amazônia é o maior bioma brasileiro preservado e tem papel fundamental na regulação climática para o agronegócio. As mudanças climáticas podem inviabilizar as práticas agropecuárias no centro do Brasil, segundo alerta Paulo Artaxo, cientista brasileiro e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 2022, o desmatamento na floresta amazônica atingiu recorde pelo quinto ano consecutivo, de acordo com o monitoramento por satélite do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Isso aumenta o risco de o bioma se aproximar do ponto de não retorno, quando o ecossistema perderia o equilíbrio e seria induzido a um processo contínuo de desertificação.
No evento Amazônia é Solução, do Estadão Blue Studio, o cofundador do Imazon, Beto Veríssimo, comentou que a região amazônica tem um ambiente econômico deteriorado, com os piores índices sociais do País. “Temos uma economia que gera pouca riqueza, polui muito e, como subproduto desse processo, há muita pobreza”. No entanto, a região é uma solução para a transição climática global.
O Brasil tem posição privilegiada e grande oportunidade, mas ainda precisa reconhecer a importância do bioma. Um dos principais pontos é compreender que existem muitas “amazônias” e, para atuar de forma eficaz, é preciso conhecer as diferentes zonas da Amazônia Legal, que representam cerca de 60% do território brasileiro.
Além da degradação ambiental, a região enfrenta desafios de governança, educação, saúde, comunicação e até criminalidade. A economia gerada pelo tráfico de drogas no território amazônico, por exemplo, é equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, como estimou o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.
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A rede Uma Concertação Pela Amazônia apresentou um documento chamado 100 primeiros dias de governo: propostas para uma agenda integrada das Amazônias, que propõe ações concretas a serem tomadas no início da nova gestão dos governos federal e estadual, além do Congresso Nacional, para preservar a floresta amazônica.
O primeiro passo é a retomada do Fundo Amazônia, que tem R$ 3 bilhões paralisados que poderiam ser usados para ações planejadas. “Precisamos ter um planejamento para o controle e a prevenção do desmatamento. Esse planejamento tem que ser interministerial, intersetorial e interfederativo”, defendeu Sueli Araújo, especialista sênior do Observatório do Clima.
Entre as propostas, o documento sugere a criação de um grupo de trabalho para a definição de uma Política Nacional de Governança de Terras e do Plano Nacional de Ordenamento Territorial para realizar a regularização fundiária no bioma. Isso deverá ser feito a partir da integração e da digitalização da base de dados ligada à terra e ao uso do solo.
As iniciativas para a preservação e o desenvolvimento sustentável da Amazônia devem reconhecer a existência e a importância dos povos indígenas, que representam a maior parte da população da região. “O mundo ainda olha para nós por satélite e não consegue enxergar nossa vida”, ressaltou a liderança indígena e técnica de Saúde Vanda Witoto.
Um novo modelo de desenvolvimento que contemple a conservação da natureza não poderá ser concretizado sem as pessoas que vivem na região. “A floresta é feita por pessoas, e somos nós e o nosso modo de vida muito simples circularmente milenarmente que têm garantido a Amazônia em pé”, considerou ela.
Fonte: Estadão Live Talks – Amazônia é Solução, Estadão, Uma Concertação pela Amazônia, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)