Como funcionam as medições de desmatamento na Amazônia?

27 de janeiro de 2023 4 mins. de leitura
Medições indicam avanço de desmatamento na Amazônia, que corre o risco de ultrapassar o ponto de não retorno

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Entre 2019 e 2022, o desmatamento na Amazônia cresceu 59,5%, sendo a maior alta percentual em um mandato presidencial desde o início das medições por satélite, em 1988, de acordo com dados recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia Legal foi de 10.267 quilômetros quadrados, de janeiro até 30 de dezembro de 2022, sendo a pior marca da série histórica anual do sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter). Somente em dezembro, o índice aumentou 150% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Além disso, na Amazônia, há mais de 1 milhão de quilômetros quadrados em degradação, que pode ser provocada de diversas maneiras. “Uma delas é pela extração seletiva de madeira, quase toda feita de forma ilegal, retirando grande número de árvores e abrindo estradas que levam à continuada degradação”, explica o climatologista Carlos Nobre.

Como funcionam as medições?

Foto aérea de uma parte da floresta amazônica onde houve desmatamento, com árvores derrubadas e solo exposto
Sistema de monitoramento é capaz de identificar desmatamento e degradação na Amazônia. (Fonte: Vinícius Mendonça/Ibama/Reprodução)

Existem dois programas principais de monitoramento da Amazônia. Ambos são operados pelo Inpe utilizando o sistema TerraAmazon, baseado na biblioteca TerraLib, disponível com código aberto que permite o desenvolvimento colaborativo de ferramentas.

Prodes

O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) foi desenvolvido principalmente para medir a extensão de desmatamento na Amazônia Legal, ou seja, áreas de onde a floresta é removida. Ele usa imagens de satélite para detectar e mapear espaços em que a cobertura florestal foi desmatada completamente.

O Prodes utiliza registros de satélite da classe LANDSAT, com 20 metros a 30 metros de resolução espacial e taxa de revisita de 16 dias para minimizar o problema da cobertura de nuvens e garantir critérios de interoperabilidade.

Deter

O Prodes é projetado para medir a extensão de desmatamento, e não a intensidade ou a gravidade da degradação florestal. Outros sistemas de monitoramento, como o Deter, podem fornecer informações mais detalhadas sobre a degradação florestal.

O Deter analisa as imagens de satélite de forma automatizada, comparando registros atuais com anteriores para identificar alterações na cobertura. Ele é capaz de detectar desmatamento em áreas maiores que 3 hectares tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas com exploração de madeira, mineração e queimadas.

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Por que as medições de desmatamento são importantes?

Foto aérea de parte da floresta pegando fogo, com uma grande quantidade de fumaça branca se espalhando no ar
Redução da cobertura florestal pode transformar bioma amazônico em savana tropical. (Fonte: MP-PA/Reprodução)

Na Amazônia, o desmatamento gera impacto significativo no clima mundial, por ser uma importante fonte de emissão de gases de efeito estufa. A redução dos serviços ecossistêmicos da floresta altera indiretamente o sistema, incluindo o aumento da temperatura, a redução da umidade e a mudança das estações de chuva.

O desmatamento intensifica a emissão de gases de efeito estufa. “Mais de 50% das emissões brasileiras vêm do desmatamento e da degradação florestal”, explica Nobre. Também há impactos indiretos por redução de serviços ecossistêmicos da floresta. “Sem florestas, a temperatura já aumentou entre 2°C e 3°C em áreas desmatadas”, completa ele.

Além disso, há risco de redução do transporte de umidade pelos rios voadores, o que pode impactar sistemas de chuva fora da Amazônia, incluindo o centro-sul da América do Sul, os Andes e até mesmo a Colômbia. Caso a estação seca passe de seis meses, o bioma em equilíbrio é o cerrado, e não mais o amazônico.

“Se o desmatamento ultrapassar cerca de 25%, estudos indicam que não seria mais possível reverter o ponto de não retorno”, alerta o climatologista. “Para evitar esse risco, é essencial zerar o desmatamento, a degradação e o fogo, bem como iniciar grandes projetos de restauração florestal”, argumenta o cientista.

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Fonte: Jornal da USP, Unisinos, Carlos Nobre – climatologista, Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe).

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