Aquecimento global pode inviabilizar agronegócio no Brasil

9 de agosto de 2021 4 mins. de leitura
Cientista aponta que a temperatura pode subir até 5,5 °C na região central do Brasil, impossibilitando o cultivo de soja e a criação de gado

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A primeira parte do novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgada nesta segunda-feira (09), aponta que é provável que o aquecimento global provoque, entre 2030 e 2052, uma temperatura média 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, caso o ritmo de crescimento continue.

De acordo com o documento, os impactos das mudanças climáticas já estão sendo sentidos em muitos ecossistemas terrestres e oceânicos, mas podem se tornar ainda mais intensos, com eventos climáticos cada vez mais extremos. Alguns impactos, segundo o IPCC, “podem ser duradouros ou irreversíveis”, alterando para sempre as características climáticas regionais.

O secretário-geral da ONU, António Gutierres, considerou que o relatório é um “alerta vermelho para a humanidade”. O chefe da ONU afirma que o documento “deve soar como uma sentença de morte para os combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta”. Para ele, uma catástrofe maior pode ser evitada com o corte profundo na emissão dos poluentes e o aumento de investimentos em energias renováveis.

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Impacto no agronegócio brasileiro

A região central do Brasil pode ficar mais quente e com estiagens mais longas, tornando inviável o agronegócio. (Fonte: Shutterstock/ Tanja Esser/Reprodução)
A região central do Brasil pode ficar mais quente e com estiagens mais longas, tornando inviável o agronegócio. (Fonte: Shutterstock/ Tanja Esser/Reprodução)

O cientista brasileiro Paulo Artaxo, membro do IPCC, avalia que as “mudanças climáticas podem inviabilizar soja e gado no Brasil”. Em entrevista ao Deutsche Welle (DW), Artaxo afirma que a região central do País, uma das principais fronteiras agropecuárias brasileiras, pode ter temperaturas aumentadas em até 5,5 °C e redução de chuvas em até 30% até o final do século.

O cerrado, que ocupa todo o Centro-Oeste, além de partes do Sudeste e do Nordeste, é o local das nascentes de 8 das 12 bacias hidrográficas do Brasil. O constante desmatamento reduz o volume de chuvas e aumenta as temperaturas locais, colocando em risco a produção de alimentos. No fim de 2020, produtores de soja já puderam sentir o quão prejudicial é a estiagem para a cultura.

Esse cenário impossibilitaria essas áreas de produzir de forma competitiva daqui 10 a 30 anos, segundo o cientista. Além disso, o relatório do IPCC também aponta que, por conta das mudanças climáticas, haverá mais estiagem no Nordeste e mais enchentes no Sudeste.

Importância da Amazônia

Queimadas tornam a Amazônia uma grande emissora de gases de efeito estufa. (Fonte: Shutterstock/apiguide/Reprodução)
Queimadas tornam a Amazônia uma grande emissora de gases de efeito estufa. (Fonte: Shutterstock/apiguide/Reprodução)

A falta de chuva e a perda de biodiversidade decorrentes do desmatamento no sul da Amazônia podem causar um prejuízo ao agronegócio de R$ 5,7 bilhões por ano até 2050, segundo um artigo científico publicado recentemente na revista Nature Communications.

Outro estudo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) aponta que as regiões da Floresta Amazônica com desmatamento de 30% ou superior apresentam uma estação seca, entre agosto e outubro, com uma estiagem mais longa e temperaturas mais quentes. Isso tem provocado um maior estresse sobre todo o bioma.

Os pesquisadores avaliam que a Amazônia deixou de sequestrar carbono da atmosfera para ser uma fonte emissora de gases de efeito estufa devido às constantes queimadas. A floresta emite 0,29 bilhão de toneladas de carbono na atmosfera por ano para além do que consegue absorver. 

Fonte: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Organização das Nações Unidas (ONU), Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Deutsche Welle. 

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