Brasil deve produzir 9,5 milhões de toneladas de trigo na atual safra, mas o volume é insuficiente para atender à demanda nacional
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Brasil deve produzir 9,5 milhões de toneladas de trigo na safra 2022/2023, segundo o último Boletim de Safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Mas o volume não será suficiente para atender à demanda interna, que deve passar de 12 milhões de toneladas, além de outras 2,6 milhões de toneladas destinadas à exportação.
Para atender o consumo de trigo para produzir pães, bolos e outros alimentos, o País vai precisar importar 5,6 milhões de toneladas do cereal. Quase metade das importações vem da Argentina, mas o Uruguai e a Itália também desempenham um papel importante no atendimento à demanda brasileira.
Com a guerra na Ucrânia, um dos dez principais produtores de trigo do mundo, o volume produzido do grão caiu pela metade no país do Leste Europeu. Isso provocou uma lacuna no mercado global, aumentando a necessidade de independência do Brasil na produção do cereal.
Apesar de ser o maior produtor global de alimentos, o Brasil enfrenta dificuldades para alcançar a autossuficiência na produção de trigo. A cultura é adaptada a climas temperados, enquanto o clima brasileiro é predominantemente tropical, o que pode afetar a produtividade e a qualidade do grão cultivado.
Embora exista potencial para expansão da área de cultivo do cereal no território nacional, especialmente no Cerrado, a disponibilidade de terras adequadas para a plantação do grão é limitada devido às características do solo. A falta de acesso a tecnologias e a práticas de manejo também são obstáculos para o desenvolvimento da cultura.
Além disso, o trigo importado muitas vezes chega ao País com preços mais competitivos e oferecendo mais qualidade do que o grão nacional, devido a subsídios e a escala de produção em outros países produtores. Isso torna difícil para os agricultores brasileiros competirem no mercado interno, o que desestimula o aumento da produção nacional.
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O desenvolvimento de novos cultivares de trigo adaptados ao Brasil é uma área de pesquisa essencial para impulsionar a autossuficiência na produção de trigo. A busca por variedades mais produtivas, resistentes a doenças e adaptadas às condições climáticas é fundamental para melhorar a qualidade e aumentar a quantidade de trigo nacional.
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desempenha um papel crucial no desenvolvimento de novos cultivares adaptados ao Brasil. Essas pesquisas envolvem a seleção e cruzamento de diferentes linhagens de trigo para obter características desejáveis, como a tropicalização do grão e a resistência ao estresse hídrico.
Atualmente, quase toda a produção tritícola é realizada nos Estados da Região Sul. Entretanto, as novas variedades do cereal têm proporcionado a expansão das fronteiras do trigo, com o crescimento de áreas de cultivo com destaque para Roraima, Ceará, Piauí e Maranhão. Isso permitiu um salto de 50% no volume produzido nos últimos três anos.
O Brasil deve se tornar autossuficiente na produção de trigo nos próximos dez anos, de acordo com projeções realizadas pela Embrapa. Essa previsão é baseada em iniciativas de expansão do cultivo no Cerrado do Brasil Central, o qual apresenta potencial para aumentar a área de produção e melhorar a produtividade do trigo.
Para que isso aconteça, a melhoria da tecnologia de cultivo e o aprimoramento do manejo também são fatores essenciais. A concretização desse objetivo dependerá de diversos fatores, incluindo investimentos, políticas públicas, condições climáticas, demanda interna e outros aspectos que podem influenciar a produção e o consumo de trigo no País.
Fontes: Agência Senado, Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa)