Embargos internacionais contra a Rússia dificultam exportações do café brasileiro
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O Brasil exportou, para Rússia e Ucrânia, 1,4 milhão de sacas de 60 quilos de café em 2021, com receita aproximada de US$ 209 milhões, de acordo com dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafe). Quase 90% desse volume foram embarcados para a Rússia, o sexto maior comprador do grão brasileiro.
O conflito no Leste Europeu parece não ter prejudicado as exportações de café. Nos dois primeiros meses de 2022, os embarques para a Rússia ficaram em 233 mil sacas, o que representa crescimento de 14,4% frente ao mesmo período do ano anterior, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.
Além de ser grande consumidora de café solúvel, a Rússia tem recebido bem os cafés especiais do Brasil. “Fazemos um trabalho com os cafés especiais desde 2004, quando organizamos o primeiro cupping para convidados de torrefações locais”, relata Edgard Bressani, fundador e Chief Executive Officer (CEO) da exportadora Latitudes Grand Cru Coffees.
Apesar da aparente normalidade no volume exportado, os produtores brasileiros enfrentam desafios para enviar o produto para o território russo. “Com os embargos, tenho tido demanda de clientes que querem café, mas pedem para enviar via Dubai, visto que não podemos mandar diretamente para a Rússia”, informa Bressani.
A situação fica ainda mais complicada com a alta dos fretes marítimos, reflexo ainda do colapso provocado pela pandemia de covid-19. Segundo o CEO, antes havia “clientes que levavam cafés para a América do Norte, por exemplo, por US$ 2 mil; hoje custa US$ 10 mil”.
Outra preocupação dos cafeicultores brasileiros é receber os pagamentos, uma vez que os canais bancários com a Rússia foram fechados após a exclusão do sistema financeiro russo da Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais (Swift). “Tem gente com café vendido e sem poder exportar ou receber”, lamenta o brasileiro.
Essa dificuldade gera problemas de abastecimento no mercado russo, enquanto os produtores brasileiros precisam adiar embarques e podem sofrer prejuízos com o atraso nas vendas. Bressani comenta que “Como a guerra já dura mais de um mês, tudo vai se complicando”.
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A cafeicultura, como todo o agronegócio brasileiro, já vinha sofrendo com o aumento dos preços de combustíveis e fertilizantes. Com o início do conflito europeu, o temor é que o fluxo de envios de insumos do Leste Europeu seja interrompido, apesar da promessa russa de manter os embarques até 2023.
Rússia e Belarus, juntos, respondem por quase metade de todo o fornecimento global de potássio. No entanto, outros fornecedores, como Canadá e China, podem ajudar a diminuir o risco de desabastecimento. “É preciso torcer para não faltar fertilizantes, o que poderia gerar problemas para as lavouras e reflexos mais duradouros”, avalia Bressani.
A “tempestade perfeita” para os cafeicultores brasileiros é completada pela redução dos preços internacionais do café. Desde o início da guerra, o Indicador do Café Arábica do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) já recuou 16%, o que pressiona ainda mais as margens dos produtores. Mas a retração não está relacionada diretamente ao conflito.
Bressani analisa que “A queda dos preços está mais ligada às estimativas de safra que dizem que a produção será maior do que 60 milhões de sacas e pela presença de fundos investindo em commodities”.
A curto prazo, é impossível prever o comportamento do mercado global de café; contudo, a expectativa a longo prazo é positiva. Até 2050, serão necessários 300 milhões de sacas para atender à demanda mundial se houver crescimento de apenas 2% ao ano, segundo calcula Bressani. A demanda atual é de cerca de 160 milhões de sacas. “Isso serve para animar o produtor brasileiro de que haverá procura por café e principalmente por qualidade”, finaliza o executivo.
Referências: Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafe) | Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) | Edgard Bressani/Latitudes Grand Cru Coffees.