Trigo transgênico coloca indústria de farinhas e de panificação em posição oposta a empresas desenvolvedoras de sementes e decisão sobre liberação é adiada
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A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Telecomunicações (MCTI), adiou a análise sobre a importação e a comercialização do trigo HB4 — que estava prevista para junho. Com isso, a decisão sobre a liberação do produto no Brasil deve ficar para agosto.
O trigo HB4 é um organismo geneticamente modificado (OGM) e oferece como vantagem a alta resistência à falta de água. A característica poderia contribuir para que o Brasil ampliasse a oferta do cereal, atingisse a autossuficiência, garantindo, assim, a segurança alimentar. Atualmente, o País importa mais da metade do trigo necessário para atender à demanda interna.
A aprovação do trigo transgênico, entretanto, está cercada de polêmica. Entidades do agronegócio, organizações ambientais e da área de saúde são contrárias à liberação. Em nota, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), a inovação não traz “benefícios evidentes às pessoas, sendo objeto exclusivo de busca de aumento de produtividade do campo”.
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A Biocers, responsável pelo desenvolvimento do trigo HB4, afirma que o OGM é capaz de aumentar, em média, 20% a produtividade do cereal durante as estações de cultivo impactadas pela seca.
O HB4, segundo a empresa, também facilita o cultivo duplo, que alterna sazonalmente a soja e o trigo, e que hoje é limitado pela disponibilidade de água. A semente modificada geneticamente, quando cultivada com práticas regenerativas do solo, também seria capaz de capturar mais carbono do que as convencionais.
A autorização regulatória do trigo transgênico no Brasil segue a aprovação da soja HB4, que foi liberada por autoridades brasileiras, dos Estados Unidos e da Argentina, segundo a empresa. A Biocers afirma ainda que o trigo modificado também está sendo analisado nos Estados Unidos, no Uruguai, no Paraguai e na Bolívia.
Um ofício enviado à CNTBio pelo Ministério Público Federal (MPF), Ministério Público do Trabalho (MPT), Campanha Contra os Agrotóxicos e pela Vida, Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) argumenta a falta de transparência na discussão da aprovação.
Em nota, de acordo com a Abitrigo, a inovação não traz “benefícios evidentes às pessoas, sendo objeto exclusivo de busca de aumento de produtividade do campo”. Para a entidade, o trigo é diferente da soja e do milho, duas culturas com produção transgênica autorizada e que são usadas para alimento animal.
Uma das principais preocupações dos opositores é a maior resistência do HB4 ao agrotóxico glufosinato de amônio, classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como potencialmente cancerígeno e proibido na Europa, bem como na maioria dos países desenvolvidos.
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Fonte: Biocers Crop Solutions, Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), Estadão.