Produção de soja no Brasil não gera qualidade de vida

11 de abril de 2022 4 mins. de leitura
Estudo da Cebrap e da UFABC mostra que as regiões com produção de soja no Brasil não melhoram seus indicadores socioeconômicos

Conheça o mais relevante evento sobre agronegócio do País

O ano de 2021 foi de comemoração para os produtores de soja no Brasil. A temporada 2020/21 marcou a maior produção histórica da soja no País: 137,1 milhões de toneladas. Apesar dos números expressivos, a produção de soja brasileira não aumenta a qualidade de vida das populações das regiões produtoras.

Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o nosso país bateu recorde de exportações da oleaginosa no ano passado, foram 86,63 milhões de toneladas exportadas.

Dessa forma, o número reflete um aumento de 5,3% nas exportações em relação ao ano anterior. O último recorde tinha sido em 2018, quando as exportações alcançaram 83,78 milhões de toneladas de soja.

Apenas as exportações da soja renderam uma receita de US$ 38,6 bilhões. Apesar de os números sugerirem que o setor pode garantir uma boa qualidade de vida a todos os envolvidos na produção, estudos mostram que esse não é o caso.

Concentração da riqueza

O relatório Campeões em produção, campeões em desenvolvimento? Uma análise dos indicadores socioeconômicos em territórios de produção da soja no Brasil, desenvolvido por pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e da Universidade Federal do ABC (UFABC) lançou luz às relações sociais na cadeia produtiva da soja.

Foco em exportação não garante a seguranaça alimentar das populações das áreas de produção da soja. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Produção de soja com foco em exportação não garante a segurança alimentar às populações das áreas de produção de soja. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Os pesquisadores reuniram dados de 30 anos para traçar um panorama multidimensional sobre as regiões produtoras de soja. A análise não se limita a olhar dados como Produto Interno Bruto (PIB) per capita e pobreza, considerando também indicadores como desigualdade, desocupação, escolaridade e mortalidade infantis, gênero, violência e segurança alimentar, comparando-os com a média nacional.

A conclusão é que a riqueza produzida pela soja não é distribuída. Segundo os pesquisadores, a narrativa de que os impactos ambientais negativos são compensados pelos impactos econômicos e sociais positivos não encontra fundamentação na realidade.

Leia também:

A produção de soja continua rentável com a alta nos fertilizantes

Horta comunitária: projeto de lei quer incentivar a prática

Trigo: preço em alta deve afetar a mesa dos brasileiros

O trabalho demonstra que existe heterogeneidade entre as regiões analisadas. Mais de 50% dos municípios produtores do País têm índices socioeconômicos abaixo da média do estado em pelo menos metade dos indicadores analisados.

Cerca de 30% apresentam dados abaixo da média do estado em dois terços dos indicadores, e apenas 21% apresentam desempenho superior à média do estado em pelo menos dois terços dos indicadores.

A mecanização das lavouras aumenta o desemprego, a extrema probreza é maior em áreas de grande monocultura. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)
A mecanização das lavouras aumenta o desemprego, a extrema pobreza é maior em áreas de grande monocultura. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Quando considerados os 20 municípios campeões na produção agrícola, o quadro é contraditório. Em apenas três deles, os dados socioeconômicos têm desempenho superior à média nacional em dois terços dos indicadores analisados. Quatro destes municípios estão no extremo oposto, com dois terços ou mais dos indicadores analisados abaixo da média nacional, e o restante se mantém próximo da média.

Desempenho econômico

Em relação à renda per capita, para cada aumento percentual na área de plantio de soja, o crescimento é de 0,008%, nas Regiões Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sul. No Sudeste, porém, a renda cai 0,001% por área plantada. Índices de pobreza extrema aumentam quando a soja monopoliza os campos, essa tendência só não é vista na Região Sul.

Segundo a conclusão do estudo, a expansão agrícola não gera maior oferta de serviços públicos e de infraestrutura local. Dados de queda da mortalidade infantil, de presença de agências bancárias e de escolaridade ficam abaixo da média nacional nas zonas rurais.

Uma das constatações do trabalho é a concentração da riqueza nas mãos dos proprietários (por vezes empresas proprietárias), que, na maioria das vezes, não moram no município nem sequer na região da produção. Isso impede a circulação dos recursos nas localidades.

Quer saber mais? Assista aqui à opinião e explicação dos nossos parceiros especialistas em agronegócio.

Fonte: Cebrap, United Nations Environment Programme, SNA.

Este conteúdo foi útil para você?

177641cookie-checkProdução de soja no Brasil não gera qualidade de vida