Estudo da Cebrap e da UFABC mostra que as regiões com produção de soja no Brasil não melhoram seus indicadores socioeconômicos
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O ano de 2021 foi de comemoração para os produtores de soja no Brasil. A temporada 2020/21 marcou a maior produção histórica da soja no País: 137,1 milhões de toneladas. Apesar dos números expressivos, a produção de soja brasileira não aumenta a qualidade de vida das populações das regiões produtoras.
Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o nosso país bateu recorde de exportações da oleaginosa no ano passado, foram 86,63 milhões de toneladas exportadas.
Dessa forma, o número reflete um aumento de 5,3% nas exportações em relação ao ano anterior. O último recorde tinha sido em 2018, quando as exportações alcançaram 83,78 milhões de toneladas de soja.
Apenas as exportações da soja renderam uma receita de US$ 38,6 bilhões. Apesar de os números sugerirem que o setor pode garantir uma boa qualidade de vida a todos os envolvidos na produção, estudos mostram que esse não é o caso.
O relatório Campeões em produção, campeões em desenvolvimento? Uma análise dos indicadores socioeconômicos em territórios de produção da soja no Brasil, desenvolvido por pesquisadores do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP) e da Universidade Federal do ABC (UFABC) lançou luz às relações sociais na cadeia produtiva da soja.
Os pesquisadores reuniram dados de 30 anos para traçar um panorama multidimensional sobre as regiões produtoras de soja. A análise não se limita a olhar dados como Produto Interno Bruto (PIB) per capita e pobreza, considerando também indicadores como desigualdade, desocupação, escolaridade e mortalidade infantis, gênero, violência e segurança alimentar, comparando-os com a média nacional.
A conclusão é que a riqueza produzida pela soja não é distribuída. Segundo os pesquisadores, a narrativa de que os impactos ambientais negativos são compensados pelos impactos econômicos e sociais positivos não encontra fundamentação na realidade.
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O trabalho demonstra que existe heterogeneidade entre as regiões analisadas. Mais de 50% dos municípios produtores do País têm índices socioeconômicos abaixo da média do estado em pelo menos metade dos indicadores analisados.
Cerca de 30% apresentam dados abaixo da média do estado em dois terços dos indicadores, e apenas 21% apresentam desempenho superior à média do estado em pelo menos dois terços dos indicadores.
Quando considerados os 20 municípios campeões na produção agrícola, o quadro é contraditório. Em apenas três deles, os dados socioeconômicos têm desempenho superior à média nacional em dois terços dos indicadores analisados. Quatro destes municípios estão no extremo oposto, com dois terços ou mais dos indicadores analisados abaixo da média nacional, e o restante se mantém próximo da média.
Em relação à renda per capita, para cada aumento percentual na área de plantio de soja, o crescimento é de 0,008%, nas Regiões Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sul. No Sudeste, porém, a renda cai 0,001% por área plantada. Índices de pobreza extrema aumentam quando a soja monopoliza os campos, essa tendência só não é vista na Região Sul.
Segundo a conclusão do estudo, a expansão agrícola não gera maior oferta de serviços públicos e de infraestrutura local. Dados de queda da mortalidade infantil, de presença de agências bancárias e de escolaridade ficam abaixo da média nacional nas zonas rurais.
Uma das constatações do trabalho é a concentração da riqueza nas mãos dos proprietários (por vezes empresas proprietárias), que, na maioria das vezes, não moram no município nem sequer na região da produção. Isso impede a circulação dos recursos nas localidades.
Fonte: Cebrap, United Nations Environment Programme, SNA.