Por que a Argentina suspendeu a exportação de carne bovina?

2 de fevereiro de 2022 5 mins. de leitura
Argentina suspendeu a exportação de cortes bovinos até o fim de 2023. Entenda por que e como isso afeta o Brasil

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O governo da Argentina soltou uma declaração sobre a suspensão da exportação de alguns cortes de carne. O tema tem gerado muita discussão dentro e fora do país, já que há implicações globais na decisão. 

Confira o assunto, saiba qual é o contexto da medida e veja como ela afeta o cenário brasileiro.

Por que houve a suspensão da exportação de carnes argentinas?

Alberto Fernandez suspendeu a exportação de carnes até o fim de 2023 para conter a inflação e garantir o abastecimento interno. (Fonte: Shutterstock/Matias Baglietto/reprodução)
Alberto Fernandez suspendeu a exportação de carnes até o fim de 2023 para conter a inflação e garantir o abastecimento interno. (Fonte: Shutterstock/Matias Baglietto/reprodução)

A notícia veio no “apagar das luzes”: em 30 de dezembro de 2021, o governo da Argentina editou um decreto que suspende a exportação de cortes de bovinos inteiros frescos, resfriados ou congelados.

A medida se aplica aos seguintes cortes bovinos considerados fundamentais no abastecimento da população:

  • meio gado;
  • quartos dianteiros com osso;
  • quarto traseiro com osso;
  • bovinos com osso incompleto;
  • quartos dianteiros incompletos com osso;
  • assados com ou sem osso;
  • saia;
  • abate;
  • tampa assada;
  • nádega;
  • paleta vazio.

Segundo a Casa Rosada, isso foi necessário para aumentar a produção, estimular a pecuária e o peso médio de abate, gerando previsibilidade para o produtor e também aumentando os volumes até então exportáveis.

Essa não foi a primeira vez que o Executivo argentino optou por interromper a venda de cortes bovinos para o exterior. Em abril do ano passado, a mesma medida foi tomada após as carnes somarem mais de 60% no acumulado dos 12 meses anteriores. A suspensão seguiu até setembro.

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Contexto que levou à suspensão das exportações

O peso argentino tem "derretido" diante do dólar e levado o governo a contar com métodos mais intervencionistas na economia. (Fonte: Shutterstock/Antonio Salaverry/reprodução)
O peso argentino tem “derretido” diante do dólar e levado o governo a contar com métodos mais intervencionistas na economia. (Fonte: Shutterstock/Antonio Salaverry/reprodução)

O churrasco é um dos patrimônios dos argentinos: os asados porteños por si só merecem uma visita a Buenos Aires, capital da parrilla. Mas, quando se fala no país, não é só a carne que costuma vir à mente: a inflação também é um cartão de visita. E dos piores.

A má fama vem da fragilidade do peso argentino. Com reservas cambiais precárias, uma dívida pública que corresponde a 90% do Produto Interno Bruto (PIB) e muita dificuldade em mobilizar a economia sob recessão, a Argentina assistiu a uma escalada dos preços na ordem de 50% em 2021.

Foi tentando driblar a inflação que o presidente Alberto Fernández proibiu a exportação de carne até o fim de 2023. A expectativa é que a medida estimule o segmento e garanta que a população não pague o mesmo valor que os importadores do produto, que compram em dólar.

Economia e política

A economia é a razão da suspensão das exportações, mas existe um elemento político na balança: 2023 é o ano de eleição presidencial para a Casa Rosada. Assim, adiantar-se para fazer o inevitável e desidratar o impacto da medida podem ser um cálculo importante para Fernández.

Embora o governo alegue que a iniciativa foi acordada com as entidades produtoras e a indústria frigorífica com base em estudos técnicos, ainda há dúvida sobre isso. Na suspensão de abril, os representantes da Mesa de Enlace (fórum das principais entidades do agro argentino) decidiram interromper o abastecimento do mercado interno por uma semana.

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O que muda para o Brasil?

A decisão reverbera em todo o mundo, inclusive no Brasil. Até então, a Argentina era o quarto maior exportador de carne bovina do mundo e, em 2020, exportou cerca de 820 mil toneladas. Com esse vácuo, o Brasil pode ganhar espaço no mercado, sobretudo porque a China flexibilizou os embargos à carne do País em novembro do último ano.

Mas essa é uma faca de dois gumes: a oportunidade de crescimento exige cautela. O Brasil está longe de ter uma margem inflacionária do tamanho da Argentina, mas esse é um problema que precisa ser monitorado, já que a saída de produtos bovinos pode significar mais aumento de preços na carne.

Isso preocupa porque a pecuária de corte está entre os itens que mais têm inflacionado. De acordo com o Índice de Preços de Supermercado (IPS), a cesta de carnes soma uma alta de 13% nos últimos 12 meses.

Fonte: Governo da Argentina, Suno, Portal DBO.

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