Carne bovina já enviada à China pode ser recusada, causando prejuízos

8 de novembro de 2021 4 mins. de leitura
País asiático, nosso maior importador, suspendeu as compras de carne bovina no início de setembro, após casos atípicos de “mal da vaca louca”

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A confirmação de dois casos de encefalopatia espongiforme bovina — popularmente chamada de “mal da vaca louca” — gerou a suspensão das exportações de carne brasileira para a China, nosso principal importador. Trata-se de casos atípicos, que apareceram de forma espontânea nos animais por conta de sua idade, e não representam riscos à saúde. Sendo assim, o caso já foi dado como encerrado pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e o Brasil continua sendo classificado como região de risco insignificante para a doença.

Contudo, os chineses ainda não autorizaram a retomada do comércio com o Brasil — nem há sinal de quando pretendem fazê-lo —, mesmo sem motivo técnico para embargo. O protocolo sanitário entre os dois países exige a notificação de qualquer caso de “vaca louca” e suspensão imediata das importações. Mas, assim que houve comprovação da natureza atípica dos casos, esperava-se que o comércio fosse retomado — o que ainda não aconteceu.

Ainda mais preocupante do que isso é a possibilidade de que as cargas já enviadas para a China, logo após o embargo, sejam recusadas nos portos do país. A partir disso, essa carne pode ser incinerada ou enviada de volta ao Brasil — causando graves prejuízos, de qualquer forma. 

Caso de “vaca louca” no Brasil já foi dado como encerrado pela OIE, mas China mantém embargo (Imagem: carboxaldehyde/Pexels)
Caso de “vaca louca” no Brasil já foi dado como encerrado pela OIE, mas China mantém embargo (Imagem: carboxaldehyde/Pexels)

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Animais já estavam abatidos e poderiam ser aceitos

O problema descrito acima acontece porque a sinalização dos casos de “vaca louca” à China, com a suspensão do comércio aconteceu em 4 de setembro. Todas as cargas que já estavam inspecionadas e autorizadas puderam zarpar rumo à Ásia. Porém, diversos produtores que tinham cargas aguardando liberação e só receberam os certificados depois do dia 4 optaram por enviar seus contêineres mesmo assim.

Estima-se que 60% das 218 mil toneladas de carne exportadas pelo Brasil em setembro — um índice recorde, diga-se de passagem — estejam nessa situação. Trata-se de animais que já haviam sido abatidos antes do dia 4, mas só embarcaram depois do embargo por atrasos ou por falta de contêineres nos portos brasileiros. Em tese, elas poderiam ser aceitas sem maiores problemas, mas a China também pode recusá-las, justificando o embargo.

Essa indefinição do país asiático causa grandes problemas para o setor de carne bovina no Brasil, já que ele corresponde a 57% do valor exportado. Além de incineradas, as carnes recusadas pela China podem ser enviadas de volta ao Brasil. Ainda assim, haveria um enorme custo logístico e o mercado interno seria inundado com produtos, forçando a queda dos preços. 

Carne brasileira enviada após 4 de setembro pode ser recusada na chegada à China (Imagem: Mari Maeder/Pexels)
Carne brasileira enviada após 4 de setembro pode ser recusada na chegada à China (Imagem: Mari Maeder/Pexels)

Por outro lado, é possível que a China também comece a precisar do produto brasileiro, já que somos responsáveis por quase um terço do que eles importam. A Argentina e o Uruguai vem em seguida, porém oferecem produtos diferentes dos brasileiros. A aposta, então, é que os chineses estejam justamente buscando uma queda dos preços para ter mais vantagem nas negociações. Com efeito, a cotação do boi gordo despencou de altas de R$ 320 para algo em torno de R$ 270 e R$ 280, desde a imposição do embargo.

É interessante observar que restrições semelhantes foram impostas pela China a outros países que lhe fornecem carne bovina, como a Grã-Bretanha. A diferença é que lá foi detectada a doença da vaca louca clássica, transmissível e que oferece maiores riscos.  

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Fonte: Portal DBO, Money Times, Reuters, Agência de Notícias Brasil-Árabe.

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