Saiba como a eleição dos EUA impacta o agronegócio brasileiro - Summit Agro

Saiba como a eleição dos EUA impacta o agronegócio brasileiro

1 de novembro de 2020 6 mins. de leitura

Enquanto Biden deseja um mercado mais aberto, Trump defende a manutenção de medidas protecionistas visando à reeleição

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Até 3 de novembro deste ano, quando os estadunidenses forem às urnas para eleger quem estará à frente do país pelos próximos quatro anos, há muita água para rolar. Seja qual for o resultado, o mundo todo será afetado, inclusive o Brasil, que tem no agronegócio a principal agenda comercial com os Estados Unidos.

Saiba de que forma a eleição mexe com os planos do agronegócio mundial.

Política econômica

Política econômica dos Estados Unidos nos próximos anos definirá as tendências do mercado. (Fonte: Shutterstock)

A eleição para a presidência dos Estados Unidos é a mais importante do planeta porque a agenda política do país, que tem a maior economia do mundo, interfere em contratos e acordos bilionários. Nos últimos quatro anos, o Governo Trump apresentou políticas econômicas protecionistas; embora defendesse uma política liberal, diminuiu incentivos para acordos entre os EUA e outras nações, sobretudo por meio de taxação de produtos e por um condicionamento maior nas trocas.

Essa opção, que contrasta com a regra geral adotada pelos estadunidenses no período anterior ao mandato atual, estimula o comércio interno e afeta a multilateralidade dos acordos ao reconhecer o peso econômico do país. Para o Brasil, isso significa mais dificuldade para exportar, razão pela qual essa política sofre críticas de parceiros comerciais do mundo todo. Mas os estadunidenses foram firmes ao longo do último período e, entre erros e acertos, isso garantiu um dólar fortalecido durante o mandato de Donald Trump.

Um exemplo de como isso afeta o agro é a opção de o governo pagar diretamente ao produtor, prática condenada pela Organização Mundial do Comércio, que reconhece a ação como competição desigual. Nesse caso, independentemente da colheita, o governo estadunidense pagaria ao produtor local um valor próximo ao total da safra e evitaria oscilações significativas no preço de commodities produzidas no país. 

O problema de decisões como essa é que outros países não têm margem para fazer o mesmo. Além disso, o fortalecimento artificial da economia prejudica outras moedas, a exemplo do real, que segue um histórico de depreciação em relação ao dólar. Em contrapartida, o dólar alto pode ser bom para produtores com lastro nessa moeda para a comercialização da produção, conseguindo ser mais competitivos no mercado externo e potencializando o lucro.

Liberalismo conservador?

Há uma série de variáveis em jogo nas eleições, a exemplo da manutenção do protecionismo. (Fonte: Shutterstock)

Trump também optou por uma agenda que outros líderes de direita do mundo manifestaram: liberal na economia (embora menos que os antecessores), mas conservadora nos costumes. 

Caso Joe Biden ganhe as eleições, espera-se uma gestão próxima da tradição democrata: mais liberal e menos conservador, como o Governo Obama. Nesse caso, embora fatores importantes da política externa sejam mantidos, a área financeira deve ser mais flexível e permitir que os players ditem com mais força o jogo econômico.

Além disso, ocorreria uma reconfiguração mundial. O mercado de ações poderia achar os EUA menos atrativos e migrar para outros países. Em alternativa, uma política mais aberta poderia estimular novos acordos comerciais, o que beneficiaria o agronegócio brasileiro, cujos custos de produção já são fixados em dólar e por isso há dificuldade em vender em um mercado interno depreciado.

Outra mudança para o agronegócio brasileiro pode ser uma tolerância menor com problemas ambientais, a exemplo das queimadas que assolam o País. O Governo Trump com frequência refuta o aquecimento global e resiste a acordos climáticos, o que não será igual em um possível governo democrata, que tende a se comportar de forma mais parecida com o mercado europeu e valorizar a produção mais sustentável.

China e pandemia

Guerra comercial entre a China e os EUA faz parte do pano de fundo do pleito estadunidense. (Fonte: Shutterstock)

As eleições presidenciais dos EUA sempre carregam tensão, mas esta, em particular, ocorre em meio a dois fenômenos excepcionais: a pandemia da covid-19, que obrigou os governos a ofertarem políticas de proteção social mediante a impressão de moeda, e uma intensa guerra comercial com a China, que atinge seu pico neste momento.

Motivada pelo fato de ter o maior mercado interno do mundo, o país asiático apresenta retração que também demonstra política protecionista. O objetivo da potência emergente é ser menos dependente do mercado externo e menos suscetível em relação à guerra comercial com os EUA — no longo prazo, isso pode implicar perdas para a balança comercial do agronegócio brasileiro.

Além disso, a austeridade do governo chinês foi uma vantagem no controle do contágio da pandemia, portanto tem menos pressão política e financeira; não à toa, no primeiro debate presidencial Trump voltou a culpar a China pela contaminação mundial pela covid-19. Esse é um termômetro de como o governo dos EUA está pressionado.

Seja qual for o resultado do pleito, definirá a tendência do mercado mundial e exigirá uma adaptação do agronegócio brasileiro, cujas margens estão rebaixadas e precisa exportar mais diante da alta do dólar, de uma possível volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e da perda de poder de compra causada pelo desemprego dos cidadãos.

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Fonte: Amcham e Summit Agro.

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