Considerado essencial durante a pandemia, o agronegócio pode diminuir efeitos da crise na economia brasileira
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Enquanto a pandemia de coronavírus afeta a economia mundial, impactando a exportação brasileira de carnes e grãos, medidas são tomadas por entidades agropecuárias e pelo governo para garantir o abastecimento de alimentos no País. A cadeia produtiva do agronegócio é considerada essencial para a superação da crise, e o setor está autorizado a manter suas atividades durante a quarentena.
O momento pode ser uma oportunidade para que a contribuição da agropecuária ganhe destaque, avalia Débora Toledo, assessora de investimentos e advogada tributarista. “O avanço da doença no País pode tornar o setor mais visível e melhorar a percepção da população sobre o agronegócio”, comenta.
Toda a cadeia produtiva será afetada, mas o agronegócio será o setor menos impactado, podendo, inclusive, contribuir para mitigar os efeitos da crise na economia brasileira, segundo a especialista. “O agronegócio mais uma vez será o fiel da balança, diminuindo no PIB [Produto Interno Bruto] o peso de uma eventual recessão”, declara Toledo. O setor é responsável atualmente por aproximadamente 20% do PIB brasileiro.
O agronegócio como um todo terá um desempenho razoável durante a crise, avalia Toledo. Alguns setores serão muito beneficiados, como os ligados aos grãos, favorecidos pela alta do valor da soja e do milho no mercado internacional. A agropecuária não deve enfrentar problemas de demanda, pois haverá consumo tanto no Brasil quanto no exterior. A produção também não será problema para a agricultura, que espera colher mais de 249 milhões de toneladas de grãos em uma supersafra.
A China, principal comprador de produtos da agroindústria brasileira, parou de importar durante o ápice do surto de coronavírus por lá, mas retomou com força as compras pela demanda reprimida de grãos e carne. A alta do dólar também tende a ser mais favorável ao aumento do lucro sobre os resultados das exportações do que prejudicial ao elevar os custos de produção. Um câmbio alto pode subir o custo de produção, mas a parte dolarizada das despesas de produção não é 100% do preço, segundo a assessora de investimentos. “Mesmo que aumente o custo, o ganho é melhor proporcionalmente”, completa.
O real desvalorizado incentiva a produtividade da agroindústria do Brasil, pois reduz a concorrência de importações, aumentando o mercado interno ao mesmo tempo que torna o preço das commodities nacionais mais atrativo nas exportações.
A especialista avalia que o principal risco para agronegócio no momento é a logística. “A diminuição de caminhoneiros nas estradas e o problema para o escoamento da safra poderiam afetar o agronegócio”, comenta. A tarefa de minimizar esses riscos é do governo, que precisa atuar de forma integrada para facilitar o transporte da produção: “É preciso coordenar uma ação conjunta dos ministérios da Agricultura, Infraestrutura e Economia para que possam evitar que o problema da logística interfira na exportação”.
E o Ministério da Infraestrutura está tomando medidas eficazes: os portos seguem operando normalmente e foi feito um acerto com secretários estaduais de transporte para que não houvesse obstrução de rodovias.
Um segundo risco apontado por Toledo não está sob o controle do governo brasileiro: a chegada de insumos agrícolas, como ração e defensivos, pode ser interrompida ou diminuída, já que muitos produtos vêm da China e da Índia, países que enfrentam um movimento forte de isolamento.
“Há várias oportunidades durante esse período, principalmente para o setor bancário ligado ao agronegócio, promovendo ações para aumentar o volume para exportação, já que o campo não parou”, observa Toledo.
A assessora de investimentos prevê que o crédito pode até não ser mais fácil, mas há possibilidade de aumento de demanda, principalmente quando o mercado internacional se tornar mais ativo, culminando em uma forte retomada em dois meses. Aplicações tecnológicas no campo por meio de empresas como agrotechs terão mais oportunidade. “Temos uma série de desafios com a crise do coronavírus e precisamos investir em tecnologia, principalmente para promover grande monitoramento de produção sem necessidade de acompanhamento físico”, finaliza Toledo.
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Fonte: Estadão, IBGE.