Questão de lógica

23 de fevereiro de 2021 5 mins. de leitura
Acreditar que um dos objetivos da agricultura é destruir o meio ambiente não faz o menor sentido

Christian Lohbauer

*Christian Lohbauer é doutor em ciência política e presidente executivo da CropLife Brasil**

**CropLife Brasil (CLB) é uma associação que reúne especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias em quatro áreas essenciais para a produção agrícola sustentável: germoplasma (mudas e sementes), biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos.

A lógica, de maneira simplista, é uma área do conhecimento relacionada a como estruturamos o pensamento. Quando algo “tem lógica” significa que faz sentido. Trata-se de uma argumentação racional amparada na observância de um conjunto de regras. 

Sugerir que um dos objetivos da agricultura é destruir o meio ambiente é algo totalmente desprovido de lógica. Não faz sentido. A agricultura depende de árvores em pé, rios limpos, chuva e organismos polinizadores, entre outras coisas, para prosperar. 

Em 40 anos, o Brasil passou de importador a um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta. Ainda assim, está entre os países que mais conservam suas áreas florestais.  

Se no passado distante o país possuía 9,8% das florestas mundiais, hoje detém 28,3%.  A Europa – excluindo a Rússia –   detinha 7% das florestas, atualmente conta com apenas 0,1% da cobertura original. A África, por sua vez, possuía quase 11% e agora tem 3,4%.  A Ásia já deteve quase ¼ das florestas mundiais e nos dias atuais abriga 5,5%. Já a América do Sul, que detinha 18,5 % das florestas, hoje figura com 41,4%, sendo o Brasil, o grande responsável por esse crescimento, de acordo com os dados são da Embrapa Territorial.

A agricultura depende de árvores em pé, rios limpos, chuva e organismos polinizadores, como as abelhas neste girassol, para prosperar (Foto: Odin Aern)

A extensão do território brasileiro é de 8,5 milhões de km². O país conta com apenas 79.246 milhões de hectares (ou 792.460 km²) usados para a agricultura, segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do IBGE. Ou seja, menos de 10% da área nacional.  

A vegetação nativa do país, de acordo com os dados da Embrapa Territorial, é de 569 milhões de hectares, o que corresponde a 66% do território nacional. Desse total, 53% ficam em propriedades privadas, índice que reforça a importância do novo Código Florestal para a preservação da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos, os benefícios que a natureza proporciona ao homem e à lavoura. 

Todo imóvel rural, de acordo com o Código Florestal, deve manter uma área com cobertura de vegetação nativa a título de Reserva Legal. A agricultura intensiva não pode ser praticada na reserva, mas pode ser explorada por atividades de coleta de produtos florestais não madeireiros ou pelo manejo sustentável com baixo impacto ambiental. A área destinada à reserva legal depende do bioma no qual a propriedade está inserida. Corresponde a 80% do terreno na Amazônia Legal; 35% no Cerrado; e 20% nos Campos Gerais e demais biomas. 

Além da reserva, existe a Área de Proteção Permanente (APP), que é uma área natural intocável, com rígidos limites, onde não é permitido construir, cultivar ou explorar economicamente. 

A intenção do novo Código Florestal, em suma, é evitar que o desenvolvimento e a degradação ambiental caminhem juntos. Em certo sentido, ele procura reforçar a definição de “desenvolvimento sustentável”, termo cunhado em 1987 no relatório Nosso Futuro Comum pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. O documento falava em “satisfazer as necessidades presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

“A produção rural é fundamental para o povo e para a economia brasileira, assim como a preservação de áreas nativas em propriedades privadas é fundamental para o agronegócio”, já afirmou o biólogo Miguel Moraes, diretor sênior da Conservation International (CI), uma das maiores ONGs ambientais do mundo. 

E o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que aliás completou 32 anos no dia 22 de fevereiro, tem papel importante para a manutenção desse cenário. Cabe a ele conceder licenciamento ambiental, autorizar a utilização de recursos naturais e, principalmente, monitorar e fiscalizar o patrimônio ambiental nacional.

A destruição da vegetação nativa e as alterações nas chuvas têm grande potencial de prejudicar diretamente o agronegócio. Levando em conta que, no Brasil, apenas 5% da produção total e 10% da produção de grãos é irrigada, a precipitação pluviométrica afeta diretamente a produção agrícola. 

Umidade, qualidade do solo, polinizadores, pragas e doenças. Tudo isso é influenciado pelo desmatamento e pelo aumento das temperaturas. Um clima mais seco pode comprometer a vazão dos rios e dos reservatórios, afetando a produção de energia elétrica, que também é importante para o agronegócio.  

Notícias sobre áreas desmatadas na Amazônia e Pantanal, além de influenciarem negativamente a imagem do país, estimulam empresas estrangeiras a cancelar contratos de importação de produtos nacionais. É ruim para todo mundo.  

Do lado da cadeia produtiva, diversas iniciativas são adotadas para reforçar a sustentabilidade do agronegócio – entre elas, a comprovação da legalidade daquilo que vendem para coibir possíveis irregularidades. 

No campo, sistemas de cultivo sustentável como Manejo Integrado de Pragas e Doenças, Plantio Direto e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) são cada vez mais difundidas e adotadas no país. 

A razão disso tudo é uma só: manter árvores em pé, rios limpos, polinizadores saudáveis e a chuva caindo com frequência. Afinal, sem meio ambiente equilibrado não há agricultura que sobreviva. Uma questão de lógica. 

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**CropLife Brasil (CLB) é uma associação que reúne especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias em quatro áreas essenciais para a produção agrícola sustentável: germoplasma (mudas e sementes), biotecnologia, defensivos químicos e produtos biológicos.

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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