Dependência de um modal para o escoamento agrava o aumento do preço dos alimentos no País. Situação pode piorar com a crise hídrica
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Um dos maiores problemas para a competitividade internacional das commodities brasileiras é o custo do transporte. O Movimento Pró-Logística fez um levantamento, em 2019, que demonstrou que na Argentina o custo para levar uma tonelada de grãos até a China era de US$ 57 e nos Estados Unidos de US$ 56, enquanto no Brasil o valor chegava a US$ 110.
Essa discrepância de valores tem causas geográficas e logísticas. Enquanto a Argentina tem uma distância bem menor a percorrer entre as localidades produtoras e os portos, os Estados Unidos, que tem dimensões similares a do Brasil, aposta em pluralidade de modais, como as hidrovias e ferrovias para baratear o transporte.
O Brasil depende muito das rodovias para o escoamento. Estima-se que 62% do transporte de cargas seja rodoviário e com isso o custo aumenta. O valor elevado não é apenas pelo preço dos combustíveis fósseis que estão em alta, mas também pela falta de investimento na malha viária, tempo de deslocamento, acidentes e manutenção dos veículos.
Duas alternativas podem desafogar o gargalo causado pela dependência das rodovias. Medidas relativas à exploração da malha ferroviária e da navegação de cabotagem prometem transformar o cenário do transporte de cargas no Brasil.
Em 30 de agosto, entrou em vigor a medida provisória (MP) nº 1065/2021, que simplifica os requisitos para a construção de novas ferrovias, excluindo a necessidade de leilões de concessão.
Com isso, requerimentos para projetos ferroviários serão avaliados diretamente pelo Ministério da Infraestrutura. Até 2 de setembro, o governo já havia recebido dez pedidos de construções de novas ferrovias, segundo o Ministério da Infraestrutura. “As novas ferrovias devem abranger 3,3 mil quilômetros de trilhos, em nove Estados. O investimento previsto é de R$ 53 bilhões”, publicou o Ministério.
Por outro lado, uma das alternativas mais utilizadas para o transporte de grãos para os portos são as hidrovias, mas o setor está passando por uma grande crise. A seca que se abateu sobre os Estados do Sul e parte do Sudeste afetou a bacia do Rio Paraná e os efeitos podem ser sentidos no custo dos alimentos. A hidrovia Tietê-Paraná, uma das mais importantes do País que, escoa grãos do Centro-Oeste ao porto de Santos, está sofrendo com a diminuição de volume.
O Departamento Hidroviário do estado de São Paulo vem gradativamente reduzindo o calado máximo das embarcações, o que também reduz o número de comboios em atividade. Um dos problemas é a quantidade de hidrelétricas na região que demandam, e têm preferência, sobre a água.
Com a necessidade de manter a água nos reservatórios, os operadores da hidrovia afirmam que até o final do mês esta não deva mais apresentar condições para o funcionamento do transporte de cargas. A última vez que a hidrovia foi paralisada foi durante a crise hídrica de 2014 e 2015 e o prejuízo estimado foi de R$ 700 milhões.
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Em relação à navegação, o setor aguarda a aprovação do projeto conhecido por “BR do Mar”, um programa que muda as leis de navegação de cabotagem para ampliar a oferta e aumentar a concorrência. Assim, o setor terá mais condições de enfrentar crises como a atual.
Hoje, a navegação de cabotagem só pode ser feita por navios estrangeiros caso não haja nenhum navio nacional que realize a rota. A mudança, que promete permitir a livre concorrência, independente da bandeira, deve afetar a concorrência, diminuir os preços e ser uma alternativa à dependência do escoamento de cargas por caminhões.
Fonte: Senado Notícias, Gov.BR, Agência Brasil.