Preocupação com sustentabilidade na agricultura faz produtores procurarem alternativas para o uso de fertilizantes e agroquímicos
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A crise logística deflagrada pelo confronto entre Rússia e Ucrânia escancarou um problema do agronegócio brasileiro: a dependência de insumos importados. Sejam fertilizantes, sejam agrodefensivos, os produtores sofreram com a falta de matéria-prima e de produtos, e também com a disparada de preços. Nesse cenário, bioinsumos se mostraram uma solução na busca por alternativas mais sustentáveis e cuja produção nacional já é bastante avançada.
Bioinsumos, ou insumos biológicos, são substâncias formuladas com organismos vivos, utilizadas para inibição do crescimento de ervas daninhas, na fertilização do solo e na estimulação de agentes biológicos e microbiológicos de controle de pragas.
Existem cinco tipos principais de bioinsumos:
Os bioinsumos apresentam uma série de vantagens em relação aos fertilizantes tradicionais, principalmente por não oferecerem riscos ao meio ambiente. Métodos que utilizam bioinsumos exibem maiores taxas de sequestro de carbono e um risco menor de desenvolvimento de resistência nas pragas. Além disso, os bioinsumos aumentam a fertilidade do solo, combatendo o esgotamento dele.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), os bioinsumos são considerados uma das principais soluções para o problema da fome no mundo. A agência estima que, em 2050, a população mundial alcance 9 bilhões de pessoas, e grande parte da produção agrícola do planeta ainda é nociva ao meio ambiente. Bioinsumos e métodos agrícolas mais sustentáveis garantirão o futuro do planeta e reduzirão o risco de contaminação das pessoas por agrotóxicos.
O aumento da preocupação com maneiras mais sustentáveis de produção de alimentos tem fomentado o desenvolvimento do mercado de bioinsumos. Segundo levantamentos da Fortune Business Insights, publicados pela Forbes, estima-se que o mercado global de biopesticidas movimente US$ 6,51 bilhões (cerca de R$ 33,6 bilhões) anualmente. A expectativa é que o número chegue a US$ 18,15 bilhões (R$ 93,7 bilhões) em 2029.
O Brasil é um dos líderes no desenvolvimento da tecnologia de bioinsumos, e de acordo com pesquisa da consultoria Spark Inteligência Estratégica, o mercado atingiu investimentos de R$ 1,7 bilhão na safra 2020/2021. A tendência é que o crescimento siga em passos largos.
A crise gerada pela falta de insumos fez o País repensar a dependência da importação de fertilizantes e pesticidas. Em maio de 2020, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou o Programa Nacional de Bioinsumos para fomentar as pesquisas do setor. Em dezembro de 2022, o Projeto de Lei (PL) que regulamenta o tratamento e a produção de bioinsumos por meio do manejo biológico on farm, foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) na Câmara dos Deputados.
O PL está em votação no Senado e, se for aprovado, deve facilitar a vida de produtores rurais no Brasil. A lei regulamentará a produção agroindustrial de bioinsumos nas próprias fazendas onde serão utilizadas. Conforme estudos citados no projeto, estima-se que os agricultores poderão alcançar uma economia de 70% nos gastos com outros insumos agrícolas.
A lei também diferenciará a produção de bioinsumos de uso próprio dos fabricados para a comercialização. Independentemente da finalidade, os produtos deverão seguir normas rígidas para garantir a segurança alimentar e a ausência de contaminação nos produtos finais.
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Segundo a Agrivalle, a movimentação do mercado de bionematicidas, bioinseticidas, inoculantes e biofungicidas deve alcançar R$ 6,2 bilhões até 2025. O Mapa estima que, até lá, apenas o uso de bioinsumos no controle biológico de pragas possa gerar uma economia de R$ 165 milhões por ano ao setor agrícola nacional, isso porque 97% dos produtos do setor comercializados no País são de fabricação brasileira.
A preocupação com uma agricultura mais sustentável é uma demanda de produtores e consumidores, nacionais e internacionais. Por isso, medidas como o uso de bioinsumos, iniciativas como a Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e a agricultura orgânica regenerativa têm conquistado espaço, indicando um futuro promissor para a continuidade do crescimento do agronegócio brasileiro, mantendo o respeito ao meio ambiente.
Fontes: Ministério da Agricultura e Pecuária, Embrapa, Agrivalle, Forbes