Venda direta de etanol é viável?

17 de maio de 2021 4 mins. de leitura
Eliminação de intermediário poderia baratear combustível, mas ainda há dúvidas sobre a efetividade da proposta

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Em janeiro de 2021, o presidente Jair Bolsonaro comunicou o desejo de extinguir a necessidade de intermediários entre as usinas de álcool e os postos de gasolina para agitar o mercado. 

Além do setor de combustíveis, que foi diretamente impactado pelo anúncio, outros também manifestaram preocupação com o anúncio do governo federal, que coloca em xeque o papel das distribuidoras. 

A alteração no custo do álcool pode alterar a dinâmica da gasolina e também do diesel, usado no transporte rodoviário, principal modal logístico do País.

Entenda a mudança proposta pelo governo

Mudança permitiria contato direto entre produtores e pontos de revenda de álcool. (Fonte: A Kisel/Shutterstock)
Mudança permitiria contato direto entre produtores e pontos de revenda de álcool. (Fonte: A Kisel/Shutterstock)

Atualmente, o setor de combustíveis tem três pilares principais: os produtores, os distribuidores e a revenda. Isso vale tanto para álcool como para a gasolina e o diesel.

O que o governo federal propôs é que, no caso do etanol, possa haver a supressão do elo intermediário. Dessa forma, as usinas poderiam vender diretamente aos postos de combustível, o que hoje fere a legislação. Em tese, sem as distribuidoras, o processo permitiria uma economia ao consumidor final.

Ainda segundo a proposta anunciada por Bolsonaro, isso não seria obrigatório, e sim facultativo aos postos de gasolina, que poderão adquirir diretamente das usinas próximas ou manter a aquisição por meio das distribuidoras.

Conheça os possíveis benefícios da medida

Se for aprovada, a medida poderia baratear o preço de compra do álcool pelos postos de combustível de bandeira branca, ou seja, aqueles que não têm fornecedores fixos. Mas, existem limitações, inclusive logísticas. 

O Nordeste, por exemplo, é o local com o maior potencial de inserção da nova forma de distribuição. Como a Zona da Mata fica próxima ao litoral, onde estão as capitais desses estados, a reorganização da cadeia seria mais factível.

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A proposta é recebida com cautela

As distribuidoras têm estrutura capaz de armazenar o etanol para garantir a oferta mesmo na entressafra. (Fonte: Ratchat/Shutterstock)
As distribuidoras têm estrutura capaz de armazenar o etanol para garantir a oferta mesmo na entressafra. (Fonte: Ratchat/Shutterstock)

A mudança na forma de distribuição exigiria a formação de um novo elo de fornecimento, e não está nítido se os custos seriam de fato menores, sobretudo por se aplicar a uma pequena parcela do setor.

Além disso, como a proposta foi acenada sem um projeto que subsidie o debate em termos financeiros, teme-se que a carga tributária que cabe ao elo intermediário seja distribuída entre as duas pontas do setor, caso optem por não usar as distribuidoras tradicionais.

Segundo representantes das distribuidoras, elas são mais que intermediárias e não são as vilãs do processo. Elas seriam fundamentais na garantia da qualidade do produto e no armazenamento, já que precisam manter a distribuição no período de entressafra da cana-de-açúcar.

Também deve entrar na balança o fato de que, como o Brasil tem dimensões continentais, somando-se ao fato de que a gasolina e o diesel manteriam os três pilares do setor, a medida seria pouco efetiva.

Por esse conjunto de razões, não há nitidez quanto à redução de preço para o consumidor final. Isso explica a resistência do setor especializado, que ainda não está convencido sobre a viabilidade da venda direta de etanol.

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Fonte: Nova Cana. 

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