Produtores de uva do Rio Grande do Sul afirmam que o problema acontece há cerca de cinco anos e causou prejuízos de milhões de reais
Publicidade
Conheça o mais relevante evento sobre agronegócio do País
O presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha, Valter Potter, revela que um insumo utilizado na plantação de soja tem causado prejuízos a vários produtores de uva da região. A perda chega a 1 milhão dos 7 milhões de quilos da fruta colhidos na safra de 2021/2022.
Há cerca de cinco anos, o uso de herbicidas hormonais (que têm como princípio ativo o 2,4-D) tem causado prejuízos aos produtores de uva no Rio Grande do Sul. O insumo é aplicado nas lavouras de soja para eliminar a buva, planta invasora muito resistente e comum na região.
Segundo denúncias registradas na Secretaria da Agricultura, o agrotóxico se espalha com o vento por até 30 quilômetros e causa prejuízos milionários em culturas sensíveis como uvas, maçãs, oliveiras e outras frutíferas.
O grande vilão da história é o ativo 2,4-D, pois mata plantas novas e causa enrugamento de folhas e abortamento de vegetais em época de floração, o que reduz o vigor das plantas e baixa drasticamente a produção.
Ainda segundo Potter, a Secretaria da Agricultura criou normativas para tentar regular o uso do agrotóxico e aplicar multas aos infratores que continuem aplicando o produto; contudo, a iniciativa funciona apenas no papel.
O presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha afirma que o problema segue acontecendo, já que todos os vinhedos de Don Pedrito, onde ele tem sua produção e uma vinícola, e grande parte dos vinhedos de Bagé, de Livramento e de Jaguari sofreram com a deriva do 2,4-D em 2021.
Para investigar o que estava acontecendo nas plantações, a Divisão de Insumos da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) do Rio Grande do Sul coletou 101 amostras de culturas sensíveis aos produtos hormonais da safra 2021/2022. O resultado confirmou que 88% dos materiais recolhidos tinham a presença do 2,4-D. No total, 68 propriedades de 24 municípios foram atingidas.
A pesquisa também revelou que o problema tem aumentado nos últimos anos, já que o percentual positivo cresceu em relação a anos anteriores, mesmo com o número menor de amostras e os sintomas mais fracos.
Para a próxima safra, a divisão pretende firmar normativas restritivas para a compra e a aplicação dos herbicidas nas plantações de soja, além de multas para infratores.
A aplicação de multas nos casos de contaminação ainda é bastante difícil de acontecer, pois só é possível quando há a identificação da origem do produto.
Rafael Lima, chefe da Divisão de Insumos da Seapdr do Rio Grande do Sul, cita um caso de contaminação em um pomar de maçãs em Vacaria que surpreendeu os fiscais e foi passível de punição.
A denúncia e os sintomas eram claramente de deriva de 2,4-D, mas o laudo deu negativo para o produto hormonal e acusou a presença de glifosato, que havia sido usado tanto pelos vizinhos quanto pelo produtor das maçãs. “Nesse caso foi impossível identificar a origem do produto para a aplicação de multas”, explicou Lima.
Quando a origem é identificada, além de receber multas que variam de R$ 1 mil a R$ 23 mil, o produtor infrator fica sujeito a ser processado pelo Ministério Público.
Na maioria das vezes, segundo Lima, a deriva ocorre por deficiência ou má regulagem do equipamento de aplicação ou porque não são observadas as condições climáticas no momento de usar o produto na lavoura.
Leia mais:
Agropecuária, agricultura e agronegócio: semelhanças e diferenças
Insumos agrícolas: saiba o que são e conheça os diferentes tipos
6 passos para um agronegócio mais sustentável
Em dezembro de 2020, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha e a Associação Gaúcha dos Produtores de Maçãs (Agapomi) abriram uma ação civil pública na Justiça estadual para pedir a proibição do uso de produtos com o princípio ativo 2,4-D em todo o Estado.
A ação já teve uma liminar favorável: o juiz Eugênio Couto Terra, da 4ª Vara da Fazenda Pública de Porto Alegre, determinou que o governo gaúcho deve apresentar um cronograma de implantação de plano efetivo para o controle de uso dos pesticidas hormonais, com metas aferíveis em curto, médio e longo prazos. Porém, o Estado recorreu e os produtores terão de contestar o recurso.
Fonte: Terra Solos.