Guerra na Ucrânia: quais são as projeções para a safra de grãos?

9 de maio de 2022 4 mins. de leitura
Conflito na Ucrânia ainda não tem previsão para acabar, e tensão no Leste Europeu continua afetando o agronegócio brasileiro

A guerra promovida pela Rússia na Ucrânia já passa de dois meses. Apesar de as negociações pela paz estarem em andamento, o conflito ainda não tem previsão de chegar ao fim. Mesmo que a tensão diminua, os impactos no agronegócio serão sentidos por algum tempo e devem afetar a produção de grãos na safra 2022/2023.

O Brasil não tem importantes relações comerciais com o mercado ucraniano, mas as sanções comerciais dos países ocidentais contra o governo russo podem impactar as compras brasileiras, especialmente de fertilizantes. Além disso, o confronto armado tem o potencial de desequilibrar todo o mercado global de commodities.

Depois do susto inicial, produtores agrícolas começaram a avaliar os fatores envolvidos no conflito para adotar as melhores estratégias para a próxima temporada, especialmente de soja e de milho. Confira uma rápida retrospectiva do que já aconteceu e quais são as principais perspectivas para o mercado diante da guerra.

Variação cambial

Em meio à instabilidade global provocada pelo conflito na Ucrânia, real se valorizou sobre o dólar. (Fonte: Shutterstock)
Em meio à instabilidade global provocada pelo conflito na Ucrânia, real se valorizou sobre o dólar. (Fonte: Shutterstock)

O câmbio tem impacto duplo na cadeia do agronegócio. Enquanto a valorização do dólar pode elevar o custo de aquisição de insumos no mercado internacional, o movimento contrário pode derrubar o preço das commodities exportadas.

Em uma crise global, o real costuma se desvalorizar frente à moeda norte-americana. Entretanto, o câmbio apresentou um comportamento “contraintuitivo”, como explica Pedro Renault, economista do Itaú Unibanco. O dólar saiu de R$ 5,75 no início de 2022 e chegou a R$ 4,60 em abril.

A combinação da baixa exposição do Brasil à Rússia com uma taxa maior do Sistema Especial de Liquidação de Custódia (Selic) e commodities mais caras favorece o fluxo de capitais para o mercado doméstico. Mas o cenário não se sustenta. O Brasil ainda tem uma dívida pública elevada e enfrenta incertezas políticas. “Nossa expectativa para o fim do ano é de R$ 5,50, com viés de baixa”, afirma Renault.

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Custos de produção

(Fonte: Shutterstock)
Diversos fatores, além da guerra, contribuem para o aumento dos custos de produção. (Fonte: Shutterstock)

O custo médio de uma lavoura de soja no sudeste de Mato Grosso subiu 60% para a temporada 2022/2023, alcançando R$ 4,8 mil por hectare frente aos R$ 3 mil por hectare da safra anterior. “Quanto mais antecipadamente os produtores compraram insumos para safra 2021/2022, mais barato foi o custo de produção”, garante Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA.

Fertilizantes, defensivos agrícolas, sementes, diesel e até a própria mão de obra contribuíram para a alta. Esse aumento nos custos deve impulsionar a tomada de crédito pelos produtores rurais até que a situação se torne mais estável.

E o preço do petróleo deve cair lentamente, como avalia o executivo. Já a preocupação com os fertilizantes pode ser minimizada pelo alto nível de adubação das lavouras nas últimas temporadas e pela busca de alternativas no fornecimento dos insumos. Contudo, a redução do fluxo de exportação russa contribui para deixar elevados os preços dos fertilizantes.

Preço das commodities

A relevância dos russos e dos ucranianos em algumas cadeias de produção de grãos, em especial de milho e trigo, exerce pressão no mercado global. A região do Mar Negro exporta quase 28% do trigo negociado no mundo e 20% do milho, com destaque para a Ucrânia, informa Bellotti.

“Devemos ter mais um ano de redução dos estoques finais”, avalia o executivo. E há possibilidade de preços internacionais em patamares bastante elevados, completa. Tudo isso desconsiderando a ocorrência de intempéries, como as que ocorreram nas duas últimas safras sob influência do La Niña.

No Brasil, existe uma expectativa de segunda safra de milho com volume de 88 milhões de toneladas, o que deve contribuir um pouco para a queda da commodity no mercado doméstico. “Mas ainda são preços elevados do ponto de vista histórico”, considera Bellotti.

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Referências: Agro em Pauta/Itaú BBA

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