Geadas: como o frio afeta o agronegócio

16 de agosto de 2021 4 mins. de leitura
O preço dos alimentos deve subir após os efeitos das geadas deste inverno, especialistas dizem que ainda é cedo para determinar o tamanho do problema

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O frio intenso registrado em julho de 2021 trouxe, além da neve e da chuva congelada, episódios de geadas que atingiram todos os estados do Sul e partes de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Causadas pelas massas de ar frio e de ar polar, as geadas deste ano foram as mais intensas desde 1994.

Para o setor agropecuário, a notícia preocupa pelo risco de danos e perdas produtivas que este clima causa. Os prejuízos em lavouras perenes e culturas de ciclo curto (como os hortifrutigranjeiros) causados pelas geadas já estão sendo contabilizados, mas a matemática é simples, quanto menor for a oferta de alimentos maior será o preço para o consumidor. Para Fábio de Salles Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), a situação fica ainda mais preocupante devido à inflação de 14% sobre alimentos registrada no ano passado.

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 A geada afetará diferentes safras. (Fonte: Shutterstock/Anikin Stanislav/Reprodução)
A geada afetará diferentes safras. (Fonte: Shutterstock/Anikin Stanislav/Reprodução)

Quais foram as safras mais afetadas pelas geadas?

Estudos como o de pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP e o da consultoria Agro Itaú já disponibilizam dados sobre quais foram as safras mais afetadas até o momento. Os relatórios alertam que os danos totais só serão entendidos depois da passagem do frio intenso (estão previstas três frentes frias para agosto ainda).

Café

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou que 21% da área total de plantio de café arábica foi afetada e que a próxima safra (2022/23) certamente será prejudicada. Os prejuízos ainda não são totalmente claros porque mesmo em áreas sem geadas, portanto sem queima da planta, o frio pode afetar a fisiologia do pé de café, danificando a florada e a formação de frutos. Neste cenário o preço já aumentou, o Indicador Cepea/Esalq do arábica tipo 6 já passou dos R$ 1 mil/saca de 60 kg.

Milho

As safras de milho sofreram consecutivas ameaças no último ano, primeiro com a praga cigarrinha, depois com as secas e agora com as geadas. Nesse período o preço futuro da saca (60 kg) passou de R$ 50 para R$ 100.

Cana-de-açúcar e etanol

A cana-de-açúcar também já havia sido prejudicada pela seca de 2020 e as geadas diminuíram a produção que já tinha uma expectativa baixa, com isso há preocupação no mercado sucroenergético.

Hortifruti

A Região Sul foi beneficiada pela variedade e pelos ciclos de cultura que conferem maior resiliência às geadas. Na Região Sudeste, porém, alguns polos foram muito afetados, é o caso de pomares de laranja em São Paulo. A preocupação é o impacto no vigor do citro que está em fase de indução floral. Esses prejuízos só podem ser medidos no futuro, mas é certo que a produção deste ano terá uma qualidade menor, com a fruta com interior seco e cristalizado.

Trigo

É uma cultura bastante resistente à geada nos estágios iniciais e por isso houve pouca perda nas lavouras. Segundo o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) pode haver perdas pontuais em regiões no Norte do estado.

Pecuária

Os efeitos das geadas também poderão ser sentidos no preço da carne. Isto devido a queimaduras em muitas áreas de pastagens e também porque o preço dos grãos afeta o rendimento da carcaça (a quantidade de insumos necessários que se transformarão em alimento no abate).

Fonte: Radar Agro, Elevagro, Faesp Senar, Cepea.

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