Falta de milho e soja prejudica retomada da indústria de carnes

19 de novembro de 2020 3 mins. de leitura
Elevação dos preços dos componentes da ração animal tem aumentado os riscos para produtores de proteínas

Este ano tem sido bom para produtores de soja e milho, que têm demandas globais e internas amplas em um cenário de elevação recorde de preços. Em 2020, os principais fatores que contribuíram para essa alta no Brasil foram a valorização do dólar frente ao real e o contexto pandêmico mundial.

Se a variação cambial foi uma notícia boa para os produtores de grãos, a indústria de carne tem tido dificuldade para segurar a elevação de preços das proteínas no mercado interno. A soja e o milho, além de serem os dois principais produtos agrícolas brasileiros, são a base da alimentação de animais, então qualquer variação no custo da ração tem impacto direto na indústria da carne.

O dólar vem registrando valorização histórica frente ao real. A moeda estadunidense esteve na faixa dos R$ 3 de 2016 a 2018 e a partir de 2019 teve súbita alta, alcançando quase R$ 6 em 2020. Seguindo a tendência, o preço da soja praticamente dobrou de janeiro a novembro de 2020, enquanto o milho valorizou mais de 50% no mesmo período.

Redução da produção de proteína

Alta de preços de ração dificulta produção pecuária. (Fonte: Shutterstock)
Alta de preços de ração dificulta produção pecuária. (Fonte: Shutterstock)

A valorização do milho e da soja tem levado à dificuldade de acesso aos grãos pela indústria de proteína animal. Cerca de 60% da próxima safra brasileira de soja, por exemplo, já está negociada no mercado com exportações batendo recordes. Mas esse cenário também, de certa forma, estrangulou a indústria de carnes no Brasil. Com o aumento das vendas, o mercado interno ficou desabastecido, tendo sido necessário importar soja dos Estados Unidos a um preço maior do que a brasileira foi vendida para a China.

Isso provoca elevação do preço dos insumos para a fabricação da ração animal, pressionando os produtores de carnes. Ainda assim, o valor da proteína no mercado interno não tem acompanhado a alta de preços na mesma velocidade, diminuindo a margem de lucro do produtor. A indústria de aves, por exemplo, pretende reduzir a produção, porque o preço do frango não está compensando o aumento de custos.

Proteção de riscos

Sem utilizar contratos futuros, indústria de aves tem de reduzir produção para diminuir riscos. (Fonte: Shutterstock)
Sem utilizar contratos futuros, indústria de aves tem de reduzir produção para diminuir riscos. (Fonte: Shutterstock)

A indústria de carnes pode aprender uma lição com os produtores de soja e de milho, que estão acostumados a iniciar o plantio com a safra vendida em contratos futuros ou a termo, que podem ser negociados na Bolsa de Valores. Esse tipo de acordo garante um preço predeterminado no prazo estabelecido mediante a entrega dos produtos previstos no contrato. Esse mecanismo é utilizado para proteger a margem de lucro dos agricultores frente às variações do mercado, como o dólar e o preço de commodities, e pode ser um recurso para a cadeia produtiva da pecuária.

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Fonte: Canal Rural, Investing, Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

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