Líderes mundiais veem o evento como uma última chance de cumprir as metas do Acordo de Paris
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Neste domingo (31) teve início a 26ª Conferência das Nações Unidas para a Mudança do Clima (COP-26), em Glasgow, na Escócia. O evento reúne líderes mundiais com o objetivo de definir metas para o combate da crise climática que o planeta enfrenta. Além disso, o encontro serve para que líderes mundiais travem acordos e estratégias comerciais relacionadas a políticas de proteção ao meio ambiente.
O COP-26 acontece até o próximo dia 12 e reúne 21 mil representantes de governos, 14 mil observadores e 4 mil jornalistas. Sem participação do presidente Jair Bolsonaro, a comitiva brasileira é liderada pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.
A fala de abertura do encontro foi do presidente da COP-26, Alok Sharma, que afirmou que este encontro será ainda mais difícil do que o de Paris, em 2015. Enquanto a reunião na França traçou um quadro e metas gerais, a COP-26 deve definir estratégias e regras detalhadas para que se alcance a meta de manter o aumento da temperatura em até 1,5°C, e definir as metas de redução de emissão de gás carbônico.
Nesta segunda-feira (1º), duras falas foram feitas pelo presidente e anfitrião do evento Boris Johnson, e pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres. Johnson comparou a luta contra o aquecimento global a uma bomba relógio que precisa ser desarmada. Guterres fez críticas ao vício e a dependência de governos e empresas privadas ao uso de combustíveis fósseis e afirmou que estamos “cavando a nossa própria cova”.
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Os olhos do mundo estão sobre a comitiva brasileira e sobre os próximos passos definidos pelo País. O Brasil cumpre um papel estratégico na luta contra o aquecimento global. O País é o sexto maior emissor de gases causadores do efeito estufa (GEE), mas, além disso, detém uma peça fundamental para a redução dos gases na atmosfera: a Floresta Amazônica.
Ela faz parte dos chamados hotspots (pontos de interesses), lugares capazes de equilibrar a temperatura do planeta por capturarem e estocarem grandes quantidades de dióxido de carbono. Além da Amazônia, outros pontos são a Groenlândia e o Ártico.
A Floresta Amazônica por ser muita antiga e uma das poucas florestas primárias (não alteradas pela ação humana) contém árvores gigantes que armazenam muito carbono na forma de biomassa, quando essas árvores são derrubadas, mesmo que haja reflorestamento, as plantas mais novas não conseguem absorver as mesmas quantidades do gás.
Na contramão do mundo, o Brasil teve um aumento de 9,5% da emissão de gases poluentes em 2020, os dados são do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima. Os maiores responsáveis pelas emissões de carbono no País são o desmatamento, principalmente o ilegal, e a agropecuária — juntas as atividades somam quase 70% das emissões totais do Brasil. No mesmo ano, o País ainda teve a maior taxa de desmatamento desde 2008 e o maior número de incêndios da última década.
Há o temor por parte dos cientistas de que a floresta alcance um ponto de não retorno, momento em que a ação humana causa um conjunto de mudanças climáticas que altera o ecossistema de um bioma para sempre. No caso, o ciclo de aumento do desmatamento e a consequente impossibilidade da distribuição das chuvas, pode fazer com que a Floresta Amazônica se torne uma savana (similar ao serrado brasileiro). Caso isso aconteça a floresta não conseguirá mais equilibrar a temperatura mundial, e estima-se que o clima no País possa ter um aumento de 4°C, em média.
Estimativas afirmam que o ponto de não retorno deve ser alcançado se 20% ou 25% da área da floresta for desmatada, atualmente a taxa já está em 18%. Se o ritmo de queimadas e desmatamento continuar o ponto será alcançado em menos de 20 anos.
Esses efeitos terão consequências desastrosas para a fauna, flora, para a vida humana e também para a economia: uma das primeiras culturas afetadas pode ser o plantio de soja e de outros grãos em toda a faixa central do Brasil, que podem não resistir a aumentos tão drásticos de temperatura e de ausência de chuvas. A Amazônia é responsável por 70% das chuvas que irrigam as áreas cultiváveis das Regiões Centro Oeste, Sul e Sudeste do Brasil.
Na sua primeira participação no COP-26, o ministro Joaquim Leite anunciou uma meta mais ambiciosa para a redução de emissão de gases do efeito estufa. A nova estratégia é reduzir em 50% as emissões até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Apesar da meta audaciosa, especialistas veem o anúncio com desconfiança: é a terceira vez que o Brasil refaz a meta em menos de um ano, e não foram apresentadas porcentagens, nem a base de cálculo das reduções.
Fonte: UK COP26, Agência Brasil, United Nations Climate Change.