O aumento de importação acontece no momento de maior produção brasileira, derrubando os preços do leite no mercado
Publicidade
O Brasil importou da Argentina 14 mil toneladas em produtos lácteos no valor de US$ 41,5 milhões em outubro, segundo Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro (Agrostat). O volume é maior que o dobro do que foi importado no mesmo mês do ano passado. Em outubro de 2019, os argentinos venderam 6,5 mil toneladas ao valor de menos US$ 20 milhões.
O volume de importação não é tão grande quando comparado ao tamanho do mercado brasileiro. Todas as compras de produtos lácteos no exterior representaram 7% do total nacional em setembro. No entanto, o crescimento das importações argentinas coincide com o aumento da produção leiteira nacional.
Dessa forma, as importações da Argentina têm causado um desequilíbrio entre oferta e demanda no Brasil, pressionando o preço dos lácteos para baixo. Enquanto isso, o valor de insumos para a produção de ração animal, como soja e milho, continua em alta, reduzindo as margens de lucro dos pecuaristas.
O aumento das vendas de produtos lácteos argentinos no mercado brasileiro está ligado intimamente à pandemia de covid-19. A Argentina passa por uma nova onda de contaminações pelo coronavírus.
Isso fez com que o governo argentino voltasse a adotar medidas preventivas mais rígidas para controlar o avanço do vírus, como o isolamento social, o que atingiu fortemente o consumo de seu mercado interno.
Dessa forma, os argentinos estão redirecionando o excedente de sua produção para o mercado externo, em especial para o Mercosul aproveitando a isenção tarifária do bloco econômico. Como o Brasil é o maior mercado regional, acaba absorvendo grande parte desses produtos. Em outubro, cerca de 64% das importações brasileiras de lácteos tiveram como origem a Argentina.
A situação tem gerado um alerta entre a cadeia produtiva láctea brasileira. O temor de setor é a criação de uma oferta artificial excessiva por conta das importações que não deve ser sustentada no próximo ano, quando os brasileiros deixarão de receber o auxílio emergencial pago pelo governo federal.
A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) chegou a pedir ao governo brasileiro que fizesse uma intervenção no mercado. No mesmo sentido, a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) tem pressionado o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para adotar medidas emergenciais.
De acordo com a CNA, “há forte tendência de pequenos e médios produtores venderem seus animais para o abate devido aos altos preços da arroba ou mesmo saírem da atividade, o que ocasionará problemas sociais no campo e menor oferta de leite para o próximo ano”.
Já conhece o Estadão Summit Agro? Saiba o que rolou na última edição do evento
Fonte: Agrostat