Embora não sejam parceiros diretos da pecuária brasileira, Rússia e Ucrânia causam impactos nos custos de ração e fretes
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Rússia e Ucrânia não figuram entre os mais importantes parceiros comerciais dos pecuaristas brasileiros: o primeiro é o 36º e o segundo é só o 75º maior destino para importações de agro, de modo que não devem afetar as vendas diretamente. Mesmo assim, os reflexos do conflito na agricultura já começam a preocupar os produtores de proteína animal.
Isso porque o custo de importantes insumos, como grãos, está intimamente ligado ao conflito: a Rússia é responsável por cerca de 23% de todos os fertilizantes usados na produção agrícola nacional, junto de seu aliado Belarus, que é incumbido dos outros 3%.
Logo no começo do conflito, cargas dos fertilizantes que vinham de Belarus para o Brasil foram impedidas de passar por portos da Lituânia, por exemplo. Essa escassez pode pressionar os preços do milho e da soja, que, por sua vez, são indispensáveis para a pecuária, servindo de ração para os animais. Isso deve onerar bastante os criadores de suínos e aves, em especial, segundo representantes de entidades como a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
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Uma vez que esses impactos não são diretos, ainda é cedo para definir exatamente o que acontecerá com a pecuária brasileira nos próximos meses. Porém, é sensato projetar que os custos da ração animal — soja e milho, principalmente — vão pesar bastante nos cálculos de pecuaristas e, por consequência, no bolso do consumidor.
O milho, aliás, já estava com suas cotações em alta, por problemas na safra anterior. Com o estopim da guerra na Ucrânia e a disparada geral de preços, o cenário só tende a piorar em todos os setores que dependem desse grão. Até porque, ainda que não faltem fertilizantes, Ucrânia e Rússia são importantes fornecedores de grãos para outros países — e a guerra vai acabar pressionando as cotações no mercado internacional, de qualquer modo.
O peso desse custo para a pecuária é muito preocupante: no frango, pode corresponder a 76% do total, chegando a quase 83% dos custos para criação de suínos, de acordo com estimativas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Com efeito, os índices de custo de produção publicados pela entidade estão nos maiores patamares dos últimos 12 meses: 439,2 para as aves e 437,07 para os suínos — trata-se de uma pontuação geral, cuja fórmula observa cotações de nove itens importantes para a pecuária.
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Outra questão primordial para os pecuaristas é a disparada no preço do combustível, seguindo uma tendência internacional de aumento na cotação do petróleo — que passou de 140 dólares no início de março. De uma só vez, a Petróleo Brasileiro S.A. (Petrobras) repassou aumentos que chegaram aos 15% no caso do diesel usado pelos caminhões no Brasil.
Esse movimento é especialmente preocupante porque os caminhões são importantes em todo o País e simplesmente indispensáveis para a agropecuária: eles trazem insumos e servem para escoar a produção. Além disso, considerando que grande parte das fazendas e frigoríficos está localizada no interior do País, a dependência do transporte rodoviário é ainda maior — o que torna o setor ainda mais sensível ao custo do diesel e dos fretes.
Porém, mesmo nesse cenário preocupante, é possível encontrar alguns reflexos positivos para a pecuária nacional. Países árabes que importavam carnes da Ucrânia, por exemplo, podem ter que recorrer aos nossos frigoríficos para abastecer suas prateleiras.
Fonte: CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil), SNA (Sociedade Nacional de Agricultura).