O risco do greenwashing involuntário - Summit Agro

O risco do greenwashing involuntário

11 de agosto de 2022 5 mins. de leitura

Nações prometeram o que não seria possível entregar – e corrigir essa falha pode desgastar a credibilidade sobre a importância de ações focadas em proteção ambiental

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Por Maurício Palma Nogueira

A escassez de diversos produtos, causando a pressão inflacionária no mundo todo, vem provocando flexibilizações nas políticas de proteção ambiental em diversos países. Com isso, a crença de que as políticas de governança ambientais e sociais (ESG, em inglês) tenham sido mero modismo vem ganhando força. Acredita-se, equivocadamente, que as políticas ESG não tenham se sustentado diante da realidade global: peste suína africana, pandemia e conflito militar no leste europeu.

No entanto, a verdade é um pouco mais complexa. O que o mundo assiste, no momento, é o ajuste entre as políticas ambientais e o pragmatismo exigido na administração. Está ocorrendo o encontro entre os discursos e as ações. Ambos precisam se ajustar. São vários exemplos relacionados ao avanço sobre áreas protegidas com o objetivo de plantar ou explorar alternativas rápidas para a produção de energia.

É importante entender que a tendência não mudou. As políticas ESG vieram para ficar. Tendem, inclusive, a ganhar mais força.

A expressão greenwashing tem sido usada para classificar as empresas que se dizem eco-friendly e sustentáveis, mas que fazem uso dessa imagem apenas para enganar os consumidores. Nesse caso, espera-se que o desencontro entre ações e discursos seja proposital, estrategicamente planejado com o intuito de ludibriar a sociedade. Mas e quando esse desencontro ocorre de forma inconsciente ou acidental? Que nome é dado?

A pergunta é retórica, visto que a atitude da empresa ou organização será julgada como greenwashing, seja ele intencional ou não. É bem provável que toda essa flexibilização, que agora contribui para levantar dúvidas em relação ao futuro das políticas ESG, tenha sido consequência de metas, objetivos e estratégias que não se sustentaram conforme o esperado.

O planejamento foi falho em prever situações, simular cenários e se preparar para dificuldades que não estavam no horizonte, muito embora as ocorrências de tais dificuldades sejam possíveis, dada a experiência da própria humanidade. Em outras palavras, nações prometeram o que não seria possível entregar. E corrigir essa falha pode desgastar a credibilidade sobre a importância de ações focadas em proteção ambiental.

As empresas não estão livres desse tipo de equívoco. Em um mundo de rápida circulação de informações e de extrema relevância em se posicionar rapidamente diante das expectativas de clientes e investidores, o risco de erro acaba sendo maior.

Embora seja possível exemplificar com diversos casos de comunicação equivocada sobre sustentabilidade, gerando grandes prejuízos às empresas que se aventuraram em modismos sem se aprofundar no tema, esses, nem de longe, representam o maior risco.

O maior risco reside em ações que estão sendo propostas. Organizações de cunho ideológico, afoitas em apresentar resultados para seus doadores ou patrocinadores, fazem grande divulgação, o que acaba mobilizando o poder público, sociedade e investidores para pressionar que ações desejáveis sejam implementadas.

Quase todas as ações são realmente importantes e precisarão ser implementadas ao longo dos anos. No entanto, é imprescindível que sua execução seja planejada dentro das possibilidades técnicas e de acordo com a realidade do campo.

Um dos exemplos claros, em relação a esse risco, envolve os programas para controle dos fornecedores indiretos de bezerros. O tema representa hoje uma das maiores demandas ambientais à cadeia produtiva da pecuária.

Diversas iniciativas de monitoramento estão em fase de planejamento e execução, sendo avaliadas, testadas a campo e discutidas como ações factíveis para o controle dos fornecedores indiretos. Os desafios são grandes e, a cada passo que avançam, surgem novas dificuldades a serem superadas.

As iniciativas mais sérias estão lado a lado com produtores e frigoríficos, buscando respostas a todos esses questionamentos, adaptando o monitoramento etapa a etapa. Outras tentam se impor pela pressão e pela força da lei, embora se recusem a apresentar respostas satisfatórias aos desafios apresentados pelos seus interlocutores.

A sociedade, que vem pressionando para que o setor produtivo implemente tais ações, precisa também aceitar um cronograma executável com ações bem planejadas, estudadas e avaliadas. Só assim será possível chegar a um modelo completo, que abranja todos os produtores.

O outro caminho certamente levará a algo parecido com o que temos visto em outras partes do mundo, em relação a outros assuntos. Promessas não cumpridas e correções das rotas a um custo muito alto, do ponto de vista econômico, social e ambiental. Repetir essas experiências interessa a alguém?

Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária

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