A dimensão oculta da degradação de pastagens

21 de fevereiro de 2022 5 mins. de leitura
Em 2021, as perdas totais pelos estágios mais avançados de degradação somaram R$13 bilhões aos pecuaristas

Por Maurício Palma Nogueira 

A degradação das pastagens é sempre apontada como um problema de ordem ambiental. A maioria dos especialistas entende que uma pastagem em degradação emite mais carbono do que remove. Isso ocorre pelo baixo vigor das plantas forrageiras (pastagens), cuja dinâmica seria insuficiente para compensar as emissões dos bovinos. O bovino continuará emitindo, enquanto a soma das folhas residuais dos pastejo e raízes será cada vez menor para retirar o carbono da atmosfera e incorporá-lo ao solo. 

A má notícia é que se estima algo entre 50% e 70% das pastagens em processo de degradação. É com base nessa proporção que geralmente se subestima todo o efeito das pastagens na remoção de carbono. O simplismo com o qual o tema é conduzido também acaba por dificultar um diagnóstico mais elaborado que poderia levar a soluções adequadas para lidar com o problema.

É comum confundirem pasto em degradação com pasto degradado. Daí, muitas vezes encontram-se números que parecem não fazer sentido quando apresentados. A degradação de pastagens é um processo gradual de perda de qualidade, fazendo com que a forrageira vá piorando ano a ano, perdendo vigor de rebrota, capacidade de produção de folhas e hastes e, consequentemente, menor capacidade de suporte.  O pasto degradado é aquele que já percorreu todo esse processo de piora de qualidade. 

Portanto, é possível encontrar pastagens em ótimas condições, ainda que em degradação. Ou seja, estavam melhores no ano passado e estarão piores no próximo ano. Da mesma forma, é possível encontrar pastagens de baixíssima qualidade que não estejam mais em processo de degradação. Estão estabilizadas num estágio bem avançado do processo de degradação, ainda que não tenham atingido o último estágio. 

Definida essa diferença, chega-se a um novo impasse que divide os pesquisadores e técnicos especializados na área. Qual é o critério para concluir que um pasto está, de fato, degradado? Responder essa pergunta foi uma das maiores dificuldades encontradas pela equipe que discutiu as metodologias adotadas no Rally da Pecuária a partir de 2011. 

Pela impossibilidade de levantar, a campo, o histórico de lotação da pastagem, optou-se por uma metodologia mais simples. Ficou decidido que seriam consideradas pastagens degradadas apenas aquelas que não tivessem mais condições de recuperação. Em outras palavras, reativar a qualidade daquela área exigirá, necessariamente, o replantio do capim envolvendo operações de preparo do solo e semeadura. Nesse caso, o item principal a ser avaliado é o stand da área, ou seja, a quantidade de plantas por metro quadrado, condição que define se há possibilidade de recuperar a área através de insumos, ou se haverá necessidade de replantar.

Nas dez edições do Rally da Pecuária, a quantidade de pastagens nessas condições oscilou de 3% a 5% nos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia. 

A degradação das pastagens, em si, também precisa ser compreendida melhor. O processo ocorre pela via agrícola, caracterizada pela rápida substituição das pastagens por plantas invasoras, e pela via biológica, quando se observa perda gradual da massa disponível.  

Análise por imagem de satélite dos pastos amostrados pelo Rally da Pecuária, em nove estados de relevância na produção, identificou que a degradação agrícola representou 37% do total. A pesquisa foi conduzida pela equipe da Agrosatélite e pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ano a ano, os pontos levantados a campo pela expedição confirmam a conclusão dos dados através da vistoria no local. 

No entanto, no bioma Amazônia, a quantidade se inverte, sendo que 60% do processo de degradação ocorre pela via agrícola. 

Com isso, a agressividade das plantas invasoras é suficiente para elevar, de imediato, o índice de vegetação da área, acelerando o restabelecimento das fases iniciais da retomada de matas nativas. 

Nesse caso, é fundamental observar que o balanço de carbono no processo de degradação é invertido, visto que as remoções de carbono serão muito mais significativas do que as emissões. Essa condição, que ocorre em 60% das pastagens no bioma Amazônia e em quase 40% de todas as pastagens cultivadas no Brasil não é levada em consideração nos relatórios de emissões e remoções de carbono. 

Embora o impacto ambiental do processo de degradação de pastagens esteja superestimado, não se pode dizer o mesmo da questão financeira. Em 2021, as perdas totais pelos estágios mais avançados de degradação somaram R$ 13 bilhões aos pecuaristas. Os produtores ainda perderam outros R$ 10,5 bilhões com o processo de degradação nas fases mais iniciais. 

O prejuízo total da degradação de pastagens em 2021 foi estimado em R$ 155 por hectare. Um custo alto demais para um cenário preocupante como vemos no Brasil.

Maurício Palma Nogueira é engenheiro agrônomo, diretor da Athenagro e coordenador do Rally da Pecuária

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