Relação entre valor da arroba na comercialização do boi gordo e o preço dos animais para reposição é o mais desfavorável desde 2000
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No início de novembro, foram necessários 10,2 arrobas de boi gordo para o pecuarista de São Paulo comprar um animal de reposição no mercado de Mato Grosso do Sul, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). Essa é a pior relação de troca já registada desde os anos 2000, quando o indicador começou a ser registrado pela instituição.
Os produtores que se dedicam a recria de gado viram a relação de troca subir 8,4% em outubro em comparação a setembro, e 16,8% quando comparado a outubro do ano passado. Os valores registrados estão cerca de um terço maior que a média histórica da relação de troca do Cepea, que é de 7,69 arrobas de boi gordo paulista para um animal de reposição sul-mato-grossense.
O recorde anterior era de abril de 2021, quando a relação de troca chegou a 9,89 arrobas por animal de reposição. Na época, a média do indicador do boi gordo estava em R$ 317,27 frente a um preço por cabeça de R$ 3.139,02.
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Os pesquisadores do Cepea apontam que o cenário está relacionado às quedas bruscas nos preços internacionais da carne bovina e à entrada de novos animais de confinamento no mercado spot nacional. O recuo na cotação global do boi foi provocado pela maior oferta de carne bovina, impulsionada pela suspensão de compras de carne bovina pela China. Desde a confirmação da ocorrência de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) — conhecida como doença da “vaca louca” — no Brasil, os chineses ainda não voltaram a importar o produto brasileiro.
Outro fator que contribui para a piora na relação de troca, segundo o Cepea, é a relativa sustentação dos preços de animais de reposição em várias praças. A cotação do bezerro saiu de R$ 2.851,71 no Mato Grosso do Sul, em agosto, para R$ 2.676,55, no início de novembro, uma desvalorização de 6% em três meses. Enquanto isso, o preço da arroba do boi gordo paulista despencou de R$ 315,13 para R$ 264,16 no mesmo período, um recuo de 16%.
Segundo dados preliminares da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, o Brasil exportou apenas 82,18 mil toneladas de carne bovina in natura em outubro, um resultado 57% inferior ao mês anterior. Essa é a primeira vez em um período de pouco mais de três anos que os embarques do produto ficam abaixo das 100 mil toneladas.
A redução nas exportações ainda é resultado da suspensão, por parte da China, da compra de carne bovina brasileira, que já dura mais de dois meses, apesar da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) atestar a qualidade do produto. O gigante asiático é o principal destino para a proteína produzida no Brasil.
Para contornar a situação, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) autorizou o armazenamento, por um período de 60 dias, de produtos bovinos congelados que eram destinados ao mercado chinês. A ministra Tereza Cristina descarta uso político da situação e se colocou à disposição para viajar à China para discutir o fim do veto.
Fonte: Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP).