Cenário a curto prazo é bom para o leite, mas coronavírus gera incertezas a longo prazo
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A aquisição de leite no Brasil registrou um recorde de 25 bilhões de litros em 2019, um aumento de 2,3% em relação a 2018. A indústria leiteira esperava continuar registrando crescimento com a abertura do mercado chinês no final do ano passado, mas os planos foram frustrados pela crise do novo coronavírus.
O colapso na saúde está impactando negativamente a economia mundial, e o setor do agronegócio brasileiro não está a salvo. A curto prazo, os sinais de desaceleração ainda não estão muito claros em alguns segmentos do mercado, como o do leite.
Há uma tendência natural de elevação dos preços do leite, por conta da entressafra. A estiagem no Rio Grande do Sul e os elevados preços de grãos, como milho e soja, usados nas rações para os animais diminuíram a produção nas principais bacias leiteiras.
O produto ainda apresenta boas vendas nos supermercados, com a população procurando estocar alimentos em meio à quarentena. Esses fatores associados à alta do dólar, que desestimula a importância do produto, têm segurado o preço do leite UHT, que chegou a R$ 3,15 por litro em São Paulo nas últimas semanas.
O valor do leite em pó industrial, por sua vez, está sendo sustentado pelos baixos estoques da indústria, a baixa competitividade do produto importado e a queda na produção nacional.
As operações de coleta e transporte de leite assim como de fabricação e distribuição dos derivados lácteos continuam normais na maioria das empresas do mercado.
A longo prazo, porém, as perspectivas ainda são incertas. Se confirmada a reversão do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, de 2,1% para 0,4%, o mercado leiteiro poderá ser afetado pela diminuição do poder de compra dos consumidores. Alguns sinais do mercado começam a confirmar essas previsões, mas ainda são temporários.
Pequenos e médios laticínios sofreram com a baixa demanda de clientes institucionais, como restaurantes e distribuidoras. Por isso, indústrias nordestinas recomendaram aos produtores a redução da captação de leite a partir de abril.
Os queijos também sentiram a forte queda no volume de pedidos de restaurantes, bares e pizzarias. Ainda assim, o movimento foi compensado pelo aumento da procura nos supermercados e atacarejos. Nesta área, as vendas continuam boas, mas ainda assim as empresas focadas no setor mantêm estoques reduzidos.
Os iogurtes apresentaram desaceleração em grandes centros, como São Paulo, e no interior dos principais estados do País.
Outro fator que impacta diretamente nesse mercado é o transporte. O frete a partir de importantes bacias leiteiras do Sul do país e de Goiás para São Paulo está custando mais caro — por causa da redução da atividade industrial paulista, os veículos têm retornado vazios, o que encarece o transporte.
Para contribuir no desenho de um cenário de alerta, cresceram a inadimplência nas vendas da indústria aos canais de distribuição e os pedidos de prorrogação de prazo de pagamento de vendas já faturadas.
Tendo tudo isso em vista, a Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite) solicitou ao governo federal a suspensão temporária de encargos, como atividade do FGTS e Funrural, para garantir a viabilidade da cadeia produtiva de lácteos no país durante a pandemia de coronavírus.
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Fonte: Milkpoint e USP.