Desvalorização do real e demanda alta no exterior causaram escassez do produto no mercado interno e pressionaram preços
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Com o dólar acima de R$ 5 há mais de seis meses e uma demanda crescente por soja em outros países, principalmente na China, a balança comercial do agronegócio brasileiro está bastante positiva em 2020. De acordo com informações da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as exportações somaram US$ 69,6 bilhões de janeiro a agosto de 2020 — 8,3% a mais que o mesmo período do ano anterior — e superávit recorde de US$ 61,5 bilhões.
A soja em grãos foi o produto mais exportado, com renda de US$ 25,7 bilhões nos oito primeiros meses de 2020, um valor 30,8% maior em comparação com o mesmo período do ano passado. Em volume, a variação foi de 33,7%, chegando a 75 mil toneladas.
Mesmo com uma safra recorde, acima dos 250 milhões de toneladas, toda a produção está sendo negociada rapidamente: mais de 95% da safra 2019/2020 foi vendida e cerca de 45% da próxima safra, que ainda será plantada, também já foi comercializada para compradores internacionais, segundo informações divulgadas pelo Estadão. A média anterior de parcela da produção já comprometida nesta época era entre 20% e 25%.
O produtor brasileiro prefere negociar com compradores internacionais não apenas pela questão cambial, mas também porque a soja está com cotações altas em dólar — acima de US$ 26 pela saca de 60 quilos, em setembro. Segundo o relatório da CNA, a exportação de soja brasileira cresceu 24,6% em peso, mas 25,1% em valor, como reflexo dessa valorização.
Essa grande procura pelo produto gerou escassez no mercado interno e causou duas reações da agroindústria, que precisa do grão aqui no Brasil: a importação aumentou (400 mil toneladas entre janeiro e julho de 2020, quatro vezes mais do que no mesmo período de 2019), e os compradores passaram a pagar preços semelhantes aos do mercado externo, para conseguir competitividade.
O indicador da soja, publicado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo, estava em R$ 87,61 em fevereiro, mas passou dos R$ 100 já em abril (R$ 102,30). O movimento de alta não parou desde então, chegando a R$ 138,10 na média de setembro. Em alguns dias, o valor alcançou quase R$ 150 pela saca de 60 kg (R$ 147,33 em 22/09, por exemplo).
Em seu relatório quinzenal mais recente, publicado em 16 de setembro, o Cepea informou que a China voltou a comprar mais soja dos Estados Unidos — o que tende a arrefecer as cotações do produto brasileiro em dólar. Mesmo assim, fontes da Fundação Getulio Vargas (FGV) ouvidas pelo jornal Estadão acreditam que a desvalorização do real vai evitar que os preços diminuam no mercado interno, em um futuro próximo.
A alta das commodities e seu reflexo nos preços dos alimentos nos supermercados ganharam o noticiário nas últimas semanas, com destaque para a soja e o arroz. Com efeito, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou alta de 0,45% em setembro, a maior para esse mês desde 2012.
O óleo de soja foi um dos principais responsáveis por isso, com aumento de 20,33% em seus preços no mês. Ao longo do ano, a valorização é de 28,05%, segundo o instituto. Contudo, por mais que a desvalorização do real e o foco do mercado nas exportações sejam responsáveis por essa alta, análises publicadas pelo Estadão observam que as mudanças nos hábitos de consumo dos brasileiros durante a pandemia e a injeção de R$ 154 bilhões na economia, por meio do auxílio emergencial, também são fatores que precisam ser levados em conta — elevando a demanda nos supermercados, o que contribui para o crescimento dos preços.
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Fonte: Estadão, IBGE e CNA Brasil.