Invenção brasileira permite produzir gado com mais qualidade

13 de março de 2020 5 mins. de leitura
Dispositivo de fácil leitura e com valor acessível pode ajudar produtores a conseguirem melhor preço pela arroba do boi para abate

O Brasil possui o maior rebanho bovino comercial do mundo, com 213,5 milhões de cabeças, segundo informações da Pesquisa da Pecuária Municipal 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país também é o maior exportador de carne bovina, com 1,64 milhão de toneladas exportadas no mesmo ano a um valor de US$ 6,57 bilhões, conforme dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec). Produzir carne com qualidade é requisito essencial para entrar em mercados exigentes, como a União Europeia, que chega a pagar R$ 4 a mais por arroba do boi.

No entanto, estima-se que apenas 15% do gado brasileiro de abate possuem carcaças com qualidade suficiente para a indústria frigorífica. Para tentar resolver esse problema, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolveu uma tecnologia capaz de avaliar a qualidade da carcaça bovina de forma simples, rápida e precisa. O Sistema de Avaliação do Grau do Acabamento Bovino (SagaBov) permite medir a espessura de gordura da carcaça e pode ser utilizado pelo próprio produtor.

(Fonte: Shutterstock)

O problema da cadeia da carne começa na mensuração imprecisa da qualidade dos animais. A avaliação visual é a prática adotada normalmente pelos produtores, pois a tecnologia disponível no mercado, a ultrassonografia, tem um custo de cerca de R$ 15 por animal — um preço relativamente alto para a maioria.

O envio de animais de má qualidade para o abate tem impacto em toda a cadeia produtiva. Prejudica o produtor, que recebe um valor menor do que o esperado pela arroba, e ainda afeta a indústria frigorífica, pois o custo para abater carcaças inadequadas ou de qualidade é o mesmo, ainda que o rendimento seja menor. A carne bovina com menor qualidade também não atinge os níveis esperados para a exportação e acaba sendo negociada no mercado interno, que deixa de receber os melhores cortes.

A tecnologia desenvolvida pela Embrapa está validada para ser utilizada em machos castrados e fêmeas zebuínos, que representam cerca de 80% do rebanho nacional. A validação para machos inteiros e para animais da raça Angus está em andamento. O dispositivo foi patenteado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e está licenciado pela Embrapa para ser comercializado por três empresas credenciadas. A ferramenta tem um custo baixo e pode ser encontrada por cerca de R$ 40. O produto é destinado a produtores e compradores de gado, confinadores e frigoríficos.

O pesquisador da Embrapa Rondônia e inventor do SagaBov, Luiz Pfeifer, avalia que o dispositivo vai gerar um impacto positivo no mercado bovino brasileiro. “O uso dessa ferramenta pode beneficiar todos os elos da cadeia da carne. Com a avaliação e a seleção de animais adequados para o abate, a indústria terá aumento do rendimento de carcaça fria; o produtor, acesso aos programas de bonificação; e o consumidor, maior qualidade de carne disponível no varejo”, explica.

Como avaliar a qualidade do animal

É importante lembrar que existe uma diferença entre o gado bem pesado e o gado acabado, com o nível adequado de gordura. A qualidade de um animal é medida pelo grau de acabamento. Uma carcaça com níveis adequados de gordura proporciona um melhor rendimento e palatabilidade à carne. O índice de gordura tem uma relação direta com cor, brilho, odor, sabor, maciez e suculência da carne, e isso também influencia seu preço. A indústria frigorífica requer uma espessura de gordura do gado que varia entre 3 a 6 milímetros. Níveis abaixo ou acima desse intervalo são indesejados e derrubam o valor da arroba do gado.

(Fonte: Renata Silva/Embrapa/Reprodução)

O dispositivo é composto por duas hastes articuladas que formam um ângulo que indica se o animal está magro, com gordura adequada para o abate ou até mesmo com excesso de gordura. Para avaliar o acabamento de cada animal, o Sagabov deve ser posicionado sobre a garupa do boi, entre a última vértebra lombar e a primeira vértebra sacral. O dispositivo deve ser fechado de forma lenta até que ambas as réguas tenham o maior contato possível com a pele do animal. O visor da ferramenta dará a leitura do nível de gordura por meio de três cores, que oferecem um resultado imediato e de fácil entendimento ao produtor, para ajudá-lo a produzir uma carne de melhor qualidade.

O verde indica que o gado tem níveis adequados de gordura mediana e uniforme na carcaça. Já o vermelho sinaliza que o animal está com gordura ausente e escassa e deve ser engordado para o abate. Por fim, o amarelo indica que a caraça possui gordura em excesso, e o gado também deve ser ajustado antes de ir ao frigorífico.

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Fonte: IBGE, Abracomex, Embrapa

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