Cientistas criam detector de agrotóxico nos alimentos

31 de maio de 2023 4 mins. de leitura
Cientistas brasileiros criaram dispositivo que capta, em questão de minutos, presença de agrotóxico carbendazim, proibido em alimentos

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Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) criaram um dispositivo que, ao entrar em contato com a superfície dos alimentos, pode detectar a presença do fungicida carbendazim. Apesar de proibido, este produto ainda é amplamente utilizado como agroquímico no Brasil. 

O estudo sobre a criação do detector foi publicado na Revista Food Chemistry, com o título “Optimized paper-based electrochemical sensors treated in acidic media to detect carbendazim on the skin of apple and cabbage”. 

Representação do sensor criado pela pesquisa. (Fonte: ScienceDirect/Reprodução)

Dispositivo com sensor barato e eficiente 

Atualmente, a maioria das técnicas de detecção de pesticidas em alimentos depende da retirada e trituração de amostras dos alimentos, do encaminhamento laboratorial e de uma série de processos químicos. Esta metodologia é mais demorada e pode levar dias, de acordo com as reações químicas necessárias. 

A invenção dos cientistas da USP agilizará o modo de detecção de substâncias impróprias na comida. O sensor é feito de papel kraft e contém uma tinta condutora de carbono, que passa por um tratamento eletroquímico a fim de identificar e mensurar em poucos minutos a quantidade presente de carbendazim na amostra analisada. O sensor é conectado a um dispositivo que faz a análise, e os dados podem ser consultados por meio de um computador ou smartphone. 

O dispositivo, que se assemelha aos medidores de glicose utilizados por diabéticos, pode abrir novas oportunidades para a detecção de diversos elementos. De forma rápida, confiável e muito mais barata do que os métodos tradicionais, os sensores de papel kraft podem ser usados em diversas situações. Normalmente, os eletrodos similares aos utilizados na pesquisa são feitos de plástico ou de cerâmica, e a invenção de papel kraft pode ser alterada no futuro para detectar outros elementos e modificar procedimentos nas áreas da agricultura e até da saúde. 

Carbendazim está entre os 20 agrotóxicos mais usados do Brasil. (Fonte: Pixabay/Reprodução) 

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O carbendazim é um fungicida sistêmico que pertence à classe dos benzimidazóis. No Brasil, ele esteve até recentemente entre os 20 agroquímicos mais utilizados, sendo amplamente aplicados em culturas como algodão, cana-de-açúcar, cevada, cítricos, feijão, maçã, milho, soja e trigo, e na aplicação em sementes de algodão, arroz, feijão, milho e soja. 

Em 2022, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) analisou uma Ação Civil Pública que pedia a permissão do uso enquanto o processo de banimento era reavaliado. Após a análise das evidências científicas mais recentes, o plano de banimento da substância foi mantido. A descontinuação foi feita através de um cronograma que, periodicamente, impediu a importação, a formulação de novos produtos baseados na substância, a comercialização e, por fim, a aplicação. 

Até a decisão, existiam no Brasil 41 produtos formulados com base em carbendazim e outros 33 produtos técnicos à base da substância com registro ativo no Brasil, sendo fabricados por um total de 24 empresas. De acordo com a Anvisa, a principal motivação para o banimento da substância são os aspectos toxicológicos e as evidências que apontam mutagenicidade, carcinogenicidade, toxicidade para o desenvolvimento e toxicidade reprodutiva. Segundo o órgão, não é possível estabelecer um limiar de dose segura para a exposição humana. 

Como os produtos que utilizam a substância não têm data de validade, muito do que já foi comercializado pode ainda estar em uso no País. A nova descoberta dos cientistas da USP poderá facilitar os processos de vigilância do uso da substância. 

 
Fonte: Revista Food Chemistry, Agência Brasil, Anvisa, Câmara Legislativa, Revista Planeta 

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