Estadão Meet Point discute caminhos para descarbonização do planeta

14 de março de 2023 6 mins. de leitura
Especialistas de diferentes setores se reuniram para debater desafios e soluções relacionados à descarbonização

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Quais são os caminhos necessários para continuar seguindo a descarbonização do planeta? Para refletir sobre esse tema, o jornalista Eduardo Geraque se reuniu, nesta segunda-feira (13), no Estadão Meet Point, com a ativista e empreendedora social do Instituto Oyá, Kamila Camilo, o diretor de Sustentabilidade da JBS Brasil, Maurício Bauer, e o presidente da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Rui Altieri. Confira alguns insights da conversa, disponibilizada integralmente no player abaixo.

Comportamento de consumo e peculiaridades

Kamila Camilo ressaltou, durante o bate-papo, que o assunto é do interesse de todos, mas que um dos principais desafios para a execução de ações efetivas rumo às metas de descarbonização é fazer que as pessoas compreendam os níveis de operações, o que exige a tradução de um universo que ela considera tecnicista. Segundo a empreendedora, o papel do indivíduo é diferente do da indústria, ainda que tudo esteja relacionado, especialmente no comportamento de consumo.

Somente o território da Amazônia Legal abarca nove Estados e quase 30 milhões de pessoas com realidades totalmente diferentes, exemplificou Camilo — e as prioridades dos mais diversos públicos precisam dialogar com um objetivo comum. Camilo destacou, também, que é possível ampliar a sustentabilidade individual e incluir mais gente no que se chama de funil de conscientização.

De acordo com ela, o processo envolve analisar o cenário não com a perspectiva de perda (como a quantidade de queimadas), mas a partir do questionamento do que a população quer em termos de benefícios. Para isso, as organizações precisam estar dispostas a repensar processos e operações não só na Amazônia, mas também em outros ecossistemas.

Às instâncias governamentais, complementou, cabe o acompanhamento dos movimentos de geração de emprego e renda que não agridam o meio ambiente. Nesse sentido, as transformações de longo prazo, indicou a especialista, vêm a partir da valorização da educação, pois o conhecimento desbloqueia a percepção de possibilidades; de políticas voltadas à manutenção das comunidades, reduzindo a evasão de pessoas qualificadas para as cidades em busca de novas oportunidades; de investimento em turismo de base comunitária, que garante o desenvolvimento sustentável; e de lideranças de mulheres, que, comprovadamente, protagonizam avanços em empregabilidade e renda.

A replicabilidade das ações é o maior desafio, Camilo acredita, pois cabe a cada agente reconhecer as peculiaridades de cada território.

O papel do indivíduo na descarbonização é diferente do da indústria, especialista destaca.
O papel do indivíduo na descarbonização é diferente do da indústria, destaca a especialista. (Fonte: Tom Fisk/Pexels/Reprodução)

Hidrogênio é a bola da vez

Em outro âmbito, Altieri afirmou que o Brasil está em posição privilegiada, uma vez que 92% de toda a energia elétrica no País são gerados por fontes renováveis — e isso pode melhorar. Segundo ele, especialistas projetam que, em 2030, o setor se baseará totalmente nesses recursos.

A partir desse momento, Altieri disse, seria iniciado o processo de descarbonização de fato, envolvendo também a substituição de opções danosas, como diesel, gás natural e carvão mineral, por outras menos agressivas e mais ambientalmente adequadas, especialmente em setores como a construção civil.

Quanto a tendências, o executivo destacou que o hidrogênio é a bola da vez. Apesar de não ser algo novo, a produção vem passando por aprimoramentos substanciais, garantindo uma alternativa economicamente viável. A cadeia de transmissão brasileira é uma das grandes vantagens do País para a comercialização desse combustível a preços competitivos, e a CCEE vem avançando em processos de certificação de geração de baixo carbono e até de carbono verde, de acordo com Altieri.

Para ele, os benefícios dessas iniciativas serão percebidos por toda a sociedade não somente pelos impactos ambientais, mas também graças às oportunidades de agregar renda que trarão.

Produção sustentável

Já o setor alimentício, o lado privado, de acordo com Bauer, tem papel fundamental na descarbonização. Ele disse que, para a indústria, isso se traduz em maior eficiência — produzir mais com menos recursos, o que possibilita, inclusive, a recuperação de áreas degradadas.

Um dos caminhos citados por Bauer é o desacoplamento da origem de matérias-primas de áreas em que há degradação ambiental, assim como a redução de emissão de gases de efeito estufa, o aumento de conversão alimentar, a promoção de sistemas integrados e o monitoramento da cadeia produtiva. Essas ações, juntas, auxiliam a curva de descarbonização do elo seguinte, mas dependem, segundo o executivo, de um esforço coletivo que deve incluir os setores privado e público, a sociedade e a academia.

Bauer reconheceu que as forças que movem a degradação ambiental são muito diferentes; logo, a bioeconomia, para ele, exerce papel crucial nessa história, promovendo o reposicionamento de incentivos econômicos e a promoção de sustento. Além disso, para ele, é necessário cuidar de comunidades mais distantes e populações originais, que são parte da equação rumo a um futuro sustentável.

Fonte: Vincenzo Malagoli/Pexels/Reprodução
“Para a indústria, a descarbonização se traduz em maior eficiência: produzir mais com menos recursos”, afirmou o executivo. (Fonte: Vincenzo Malagoli/Pexels/Reprodução)

Compromissos e ações

A descarbonização é um assunto caro e necessário a todos, mas o papel de cada um precisa ficar claro, enfatizou Bauer. Otimista, ele acredita que a mensagem chegou ao mundo de forma direta, citando como sinal o aumento de critérios em políticas de compras e complementando que é uma questão de tempo para haver conquistas substanciais.

Bauer também ressaltou que, de forma geral, não ver o caminho para o sucesso da empreitada não anula o fato de que a agenda chegou. Ele defendeu que tudo tem de ser sustentável e que o País está avançando, mas que investir em ferramentas é uma necessidade.

Altieri também está otimista, mas Camilo fez um alerta: no mundo, devido a conflitos econômicos e entre países (mencionando a Ucrânia e a Rússia), houve retrocessos, inclusive, em jornadas de descarbonização agressivas. Além disso, a empreendedora explicou que, quanto maior é a cadeia, mais complexa é a gestão — e que uma transformação organizacional, por exemplo, não acontece em curto prazo.

A distância entre o compromisso e a realização é longa, e é preciso transformar compromissos em ações práticas, ela não deixou de mencionar.

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Fonte: Estadão Meet Point

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