Como o fast fashion pode afetar o meio ambiente?

29 de junho de 2023 7 mins. de leitura
Entenda como a indústria da moda tem causado danos ambientais e sociais nas últimas décadas

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Estar na moda e, preferencialmente, com roupas bonitas e confortáveis é o desejo de muita gente. As roupas cumprem mais do que o papel de proteger do frio e de vestir, também são um modo de diferenciação e aceitação social. Graças ao fast fashion (moda rápida, em tradução literal), um modelo de negócios criado pela indústria têxtil, grandes empresas disponibilizam roupas baratas similares a roupas da moda de grifes caras.  

Assim, muita gente consegue acessar produtos similares a roupas que antes seriam exclusivíssimas. Mas esse movimento da indústria da moda tem afetado grandemente o meio ambiente nos últimos anos. Confira, a seguir, como o conceito do fast fashion impacta o meio ambiente. 

O que é o fast fashion? 

Fast fashion é o termo criado para designar uma tendência das empresas de roupa de desenvolver produtos baratos que se assemelhem às coleções de marcas de alto padrão. As roupas são desenvolvidas e comercializadas da forma mais rápida possível. Para isso, é necessário um grande nível de industrialização, muita mão de obra e grande precisão logística. 

O termo surgiu durante a década de 1990, quando houve uma expansão tecnológica na indústria têxtil. Nesse período, surgiram diversas empresas em diferentes países focadas em recriar peças que fossem similares às roupas da moda, mas voltadas a um público consumidor diferente. Para alcançar esse resultado, a qualidade dos produtos é normalmente comprometida, e as roupas são usadas por menos vezes antes de serem descartadas. 

Existe grande preocupação com as condições dos trabalhadores empregados na indústria da moda, principalmente em países em desenvolvimento. (Fonte: Pexels/Reprodução) 

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Problemas ambientais causados pelo fast fashion 

Esse modelo de negócio pode proporcionar uma série de benefícios, como o surgimento de novos empregos e a industrialização de países produtores. Além disso, o fast fashion disponibiliza produtos para classes sociais que estão excluídas da possibilidade de usar certos tipos de roupas. Cria-se assim uma sensação de pertencimento, além do fato de que muitas vezes essas roupas são as únicas com preços acessíveis. 

Porém, apesar dos benefícios, o modelo da indústria fast fashion se destaca mais devido aos aspectos negativos. Para garantir o volume e a velocidade de produção, algumas características são inerentes ao processo, entre elas: 

  • a utilização de pinturas mais poluentes, insolúveis em água ou à base de metais pesados; 
  • utilização de tecidos sintéticos, derivados de combustíveis fósseis; 
  • aumento de emissões de gases causadores do efeito estufa na produção e no transporte de produtos; 
  • incentiva o descarte excessivo de roupas que, na maioria das vezes, não são recicladas corretamente; 
  • uma das fibras mais usadas é o poliéster, que demora 200 anos para se decompor na natureza; 
  • para produzir uma camiseta de algodão, são utilizados 2,7 mil litros de água. 

Segundo dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU), a indústria têxtil é responsável por 2% a 8% da poluição mundial. Só no Brasil, estima-se que 170 mil toneladas de resíduos de tecidos sejam descartadas de forma incorreta anualmente. Esse “lixo” acaba em aterros sanitários e lixões e, dependendo do material, pode levar à contaminação do solo e de lençóis freáticos. 

Pigmentos e tinturas à base de metais são altamente poluentes, e utilizadas na indústria têxtil. (Fonte: Pexels/Reprodução) 

Outro grande problema da indústria do fast fashion é o relativo à mão de obra utilizada na cadeia produtiva. Com a globalização dos processos de criação, a mão de obra acaba sendo terceirizada para países de menor custo, e muitas empresas ignoram denúncias de situações de trabalhadores em condições análogas à escravidão. 

Mesmo em países com maior fiscalização trabalhista, como o Brasil, a indústria da moda e de roupas já esteve por trás de diversas situações similares. Com as indústrias sendo transferidas a localidades com alto número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, muitas se utilizam da maior necessidade para oferecer salários menores e explorar o trabalho local.  

Contratos ilegais, carga horária exaustiva (acima de 16 horas diárias), pagamentos inferiores ao mínimo legal e condições degradantes de ambiente de trabalho e hospedagem são algumas das denúncias mais comuns relacionadas à mão de obra das indústrias de fast fashion. 

Existe solução para os problemas causados pela fast fashion? 

Com a atenção mundial voltada para os problemas ambientais e a necessidade de cuidar do planeta, a indústria da moda começou a ser repensada nos últimos anos. Muitos influenciadores, empresas e ambientalistas propuseram diferentes padrões para o consumo de roupas e de moda. 

Empresas norte-americanas lançaram o conceito “slow fashion” (moda devagar, em tradução literal). Neste, preza-se pela reutilização de materiais, pela utilização de produtos recicláveis, pelo uso de matéria-prima orgânica e pela preferência por produtos de maior qualidade e que sejam mais duráveis. Ambientalistas também chamam a atenção para a necessidade das empresas buscarem maior transparência e exposição das relações trabalhistas na cadeia produtiva. 

Vale ressaltar que a solução do problema passa por uma necessidade da transformação do marketing da moda. O bombardeamento das propagandas em redes sociais é uma das maiores “armas” do fast fashion, novas coleções e a entrega rápida são os principais chamarizes para a manutenção desse modelo de negócios.  

Especialistas apontam para a necessidade da transformação de hábitos de consumo para uma maior sustentabilidade da indústria. Usuários com maior consciência ambiental podem pressionar as marcas para que tomem atitudes mais sustentáveis e, ironicamente, as redes sociais podem cumprir um papel importante nesse sentido. 

Outra solução passa por uma maior fiscalização dos governos locais e pelo fortalecimento de regras ambientais. Na perspectiva individual, o aumento da consciência ambiental na hora da compra e descarte de roupas é fundamental. Segundo diretrizes da ONU, uma moda sustentável também passa pela conscientização de compradores, que devem preferir marcas preocupadas com questões ambientais.  

Além de optar por produtos mais duráveis e consertá-los em vez de descartá-los, quando a reutilização não for possível, indica-se a venda para lojas de produtos usados (brechós) ou o descarte correto para a reciclagem. 

Fonte: Mckinsey and Company, Global Fashion Agenda, Organização das Nações Unidas (ONU), Nutrify, Ecycle, PUC MG 

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