Entenda o papel da agricultura para garantir a segurança alimentar

27 de setembro de 2019 5 mins. de leitura
Segundo estimativa da ONU, o crescimento populacional deve aumentar em 70% a demanda por alimentos até 2050

Comer é pré-requisito para a sobrevivência de todos os seres humanos; ainda assim, no ano passado, 820 milhões de pessoas sofreram com alimentação inadequada ou insuficiente em todo o mundo. Os dados vêm de um recente relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU).

No Brasil, a alimentação é assegurada como direito social na Constituição Federal de 1988. Para acabar com a fome, porém, não adianta garantir o acesso da população a qualquer tipo de comida, considerando que uma dieta segura deve levar em conta a variedade dos alimentos, a sua procedência e a sustentabilidade do seu modo de produção.

Pensando nisso, foi regulamentada em 2010 a Lei n. 11.346, que trata da segurança alimentar e nutricional da população. O decreto presidencial reforça que a nutrição adequada é um direito humano, e, para assegurar a variedade e qualidade dos alimentos, foram criados o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan) e a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PNSAN).

O acesso à alimentação adequada também é um direito humano citado pelo art. 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) da ONU, mas infelizmente nem todo direito documentado é de fato entregue para a população. Prova disso são os 7,2 milhões de brasileiros vulneráveis à fome, conforme último relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com o crescimento populacional, a tendência é que o problema da segurança alimentar se intensifique ainda mais no futuro. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), até 2050 a demanda por alimentos será 70% maior — e a agricultura precisa estar pronta para atendê-la.

O que é segurança alimentar?

A fome e a desnutrição nem sempre significam falta de acesso a qualquer tipo de alimento o tempo todo. O que acontece é que grande parte da população vulnerável não consegue comprar alimentos de qualidade ou na quantidade suficiente para manter uma boa saúde e qualidade de vida.

A segurança alimentar, portanto, compõe uma série de práticas e políticas voltadas para garantir que todos se alimentem bem levando em conta quantidades, proporções de grupos alimentares e características nutricionais dos alimentos. A variedade na dieta não é um simples capricho, mas uma questão de saúde pública. E a qualidade dos alimentos consumidos é definitiva para definir se alguém está ou não suscetível aos efeitos da fome.

Esse conceito teve início com o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o mundo precisava de novas técnicas capazes de impulsionar a produção de alimentos e fornecer para a Europa, que tinha estradas destruídas e recursos naturais comprometidos. A Revolução Verde, como ficou conhecida, aumentou significativamente a produção das lavouras do mundo todo ao adaptar a tecnologia de guerra para a agricultura.

O modelo de produção industrial de fato ajudou a alimentar o mundo, porém, após algumas décadas, seu foco parece ter sido deslocado para maximizar o resultado das monoculturas, usando agrotóxicos em larga escala para garantir insumos para a pecuária e indústria alimentícia. Esse cenário faz surgir a necessidade de pensarmos em novas formas de produção agrícola, mais seguras para a saúde do planeta e de sua população.

Como chegar lá?

Quando falamos em segurança alimentar, é preciso ficar de olho também nos índices de desperdício. Segundo a FAO, 33% de tudo o que é produzido no mundo acaba no lixo, e 50% desse descarte acontece durante a logística. Por aqui, o transporte por rodovias ruins encarece o produto e impede que alimentos de qualidade cheguem de maneira acessível a todo o território nacional.

E mesmo o produto que chega intacto até o ponto de venda não está exatamente seguro dentro do processo industrial — com frequência, está contaminado por agrotóxicos e pesticidas. Esse problema é especialmente grave no Brasil, campeão na liberação e no uso de defensivos agrícolas com potencial tóxico. O País usa hoje, só na produção de soja, mais de 35 tipos de pesticida proibidos na União Europeia e nos Estados Unidos.

É importante que o produtor pense em maneiras de minimizar os efeitos desses produtos químicos, optando sempre por alternativas menos agressivas para a saúde do consumidor. Ainda que seja possível diminuir os efeitos negativos da produção com agrotóxicos, nenhum produto garante a não contaminação dos alimentos, o que é pré-requisito da segurança alimentar.

Felizmente, parece que os primeiros passos já foram dados. Em maio deste ano, representantes da agricultura do Brasil, da Argentina, dos Estados Unidos e do Canadá se encontraram em Niigata (Japão) para discutir o papel da tecnologia na garantia da segurança alimentar no futuro. “Com a população mundial projetada para alcançar 9,8 bilhões em 2050, ciência e inovação terão papel-chave para permitir que produtores agrícolas alimentem a todos de forma segura”, declararam os países em comunicado conjunto.

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Fonte: Embrapa, BBC, ONU, Agência Brasil, Alimentação em Foco, Jacto.

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