A partir da descoberta, Embrapa pretende desenvolver variedades de cana-de-açúcar mais resistentes
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Em tempos de covid-19 muito se comenta sobre a capacidade do corpo humano lutar contra os vírus e curar a si próprio. Um raciocínio semelhante pode ser aplicado à cana-de-açúcar: um estudo descobriu que algumas plantas, quando atacadas pela broca-da-cana-de-açúcar, produzem ácido clorogênico, substância que combate a praga. A pesquisa foi liderada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em parceria com cinco institutos de pesquisa nacionais e estrangeiros, e publicada na revista científica Industrial Crops & Products.
A broca-da-cana — cujo nome científico é Diatraea saccharalis —, uma espécie de mariposa, é considerada a principal praga na cultura de cana-de-açúcar do Brasil. Os insetos adultos depositam ovos nas folhas da planta. Esses ovos eclodem e as lagartas se alimentam das folhas, posteriormente abrindo galerias em seu interior, até que se desenvolvam completamente.
O ciclo inteiro da broca-da-cana dura em torno de 60 dias, resultando em quatro gerações de insetos que afetam as plantações de cana-de-açúcar durante toda a safra. Entre os principais prejuízos, a abertura dessas galerias gera a perda de peso e até a morte das gemas. Além disso, elas podem servir como entrada para fungos, que causam outros problemas nas plantas e atrapalham a produção da cana-de-açúcar.
Na pesquisa, plantas da variedade SP791011 que foram submetidas a ataques da broca-da-cana desenvolveram, por conta própria, altas quantidades de ácido clorogênico, enquanto as plantas do grupo de controle, que não foram expostas à praga, não apresentaram níveis elevados da substância. O ácido faz com que a broca-da-cana se desenvolva mais rápido na fase de pupa, mas gere uma mariposa com asas deformadas.
De acordo com a Embrapa, o ácido clorogênico pode ser considerado um biopesticida natural, não apenas contra a broca-da-cana, mas contra outras pragas que prejudicam a produção do café, milho e tomate, entre outras culturas.
A variedade de cana-de-açúcar utilizada no estudo, SP791011, é de domínio público e amplamente utilizada nas lavouras brasileiras. Dessa maneira, a Embrapa e seus parceiros pretendem fazer novas experiências de melhoramento genético, com o objetivo de criar novas variedades de cana-de-açúcar mais resistentes a pragas como a Diatraea saccharalis.
Para tornar essas pesquisas possíveis, a Embrapa mantém o Banco Ativo de Germoplasma (BAG) Cana, uma espécie de arquivo com amostras de material genético de diversas variedades de cana-de-açúcar. Além de acessos mantidos in vitro, nos laboratórios, o BAG Cana conta com exemplares plantados no campo, totalizando 128 amostras.
A curadora do BAG Cana, Adriane Amaral, acredita que a descoberta sobre o ácido clorogênico é bastante animadora para a cultura de cana-de-açúcar. Em entrevista para o portal da Embrapa, a pesquisadora afirmou: “A partir desses achados, devemos realizar experimentos com outras variedades do banco, tanto as domesticadas quanto as silvestres, para verificar o comportamento de produção de ácido clorogênico e, possivelmente, ampliar o leque de cruzamentos viáveis”.
Uma pesquisa com resultados animadores pode ser de grande importância para o setor de cana-de-açúcar, que sofre com os desdobramentos da crise causada pelo novo coronavírus. De acordo com um relatório emitido pelo banco holandês Rabobank, a pandemia, somada às disputas políticas que derrubaram as cotações do petróleo, foram uma “verdadeira bomba” para a produção etanol.
Dessa maneira, seria mais vantajoso para os produtores direcionarem sua colheita para a fabricação de açúcar — o Rabobank estima que 45% da cana-de-açúcar terá esse destino, em média. Ainda assim, não seria o suficiente para dar conta de toda a produção, que deve terminar a safra 2019/2020 com um excedente de 6,7 milhões de toneladas.
Frente a esse cenário, a Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou um pacote de medidas para auxiliar os produtores de cana-de-açúcar, que envolvem mudanças em tributos que incidem sobre o etanol e a gasolina, bem como linhas especiais de crédito para financiar o armazenamento do biocombustível por até um ano, uma vez que a cana não pode demorar para ser processada.
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Fonte: Embrapa e Reuters.