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O Brasil consome 12,7 milhões de toneladas de trigo por ano, sendo mais de 50% da demanda importados, sobretudo da Argentina, mas essa realidade deve mudar em uma década, de acordo com a avaliação de pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que estão estudando a adaptação do cereal de inverno ao cerrado brasileiro.
O órgão divulgou em audiência no Senado os resultados da tropicalização da triticultura e a expansão para áreas no Ceará, no Piauí, no Maranhão e em Roraima. Em 2022, a produção nacional deve alcançar o recorde de 8,3 milhões de toneladas, com 90% do volume concentrado na Região Sul, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
A garantia de produção de abastecimento do cereal é uma questão de segurança alimentar. “Isso vai ser muito importante porque a pandemia e a guerra expuseram a vulnerabilidade do Brasil em diferentes produtos”, ressalta o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa.
Potencial do cerrado para o trigo
O trigo tropical ainda é bastante incipiente, mas tem um futuro promissor. O cerrado abriga 200 mil hectares de plantações, mas pode chegar a 4 milhões de hectares usando apenas áreas degradadas, com mais 2 milhões de hectares que podem ser cultivados em Roraima. Somadas, as áreas superam o dobro dos 2,9 milhões de hectares implantados na Região Sul.
Outra grande vantagem do cereal tropicalizado é a produtividade. Enquanto o rendimento médio no Brasil é de 2,9 toneladas por hectare, o grão cultivado no cerrado tem média de 6 toneladas por hectare e alcança produtividade de até 9 toneladas por hectare em Roraima. Entretanto, o caminho para a expansão das fronteiras da triticultura brasileira é longo.
“A produção é de excelente quantidade, mas ainda pequena. É necessário um grande investimento para desenvolver a cultura”, avalia Barbosa. Até 2025, a Embrapa espera que a área cultivada no cerrado seja de 353 mil hectares.
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Cereal transgênico
As pesquisas também se estendem à utilização do trigo transgênico no Brasil, já que as sementes têm um gene do girassol que confere maior tolerância ao estresse hídrico e resistência ao herbicida glufosinato.
O cultivo da HB4, desenvolvido pela argentina Bioceres, está sendo testado pela Embrapa em uma área de 100 metros quadrados no Riacho Fundo II, região administrativa do Distrito Federal. O plantio foi realizado em março, e os primeiros resultados devem ser conhecidos até agosto.
Ainda não há autorização para o cultivo comercial de trigo transgênico no País. Em novembro do ano passado, a Comissão Técnica de Biossegurança (CTNBio) aprovou a importação da farinha produzida com o cereal modificado geneticamente, mas não há plantio na Argentina. Os produtos devem demorar até quatro anos para serem viáveis comercialmente.
Projeção para o preço do cereal
Mesmo com o aumento da produção nacional de trigo, não deve haver queda nas cotações no mercado doméstico. Como acontece com outras culturas que são exportadas, o valor doméstico acompanha a variação internacional porque a cotação internacional acaba estimulando a exportação. Nos quatro primeiros meses de 2022, o Brasil já exportou 2,3 milhões de toneladas do cereal e deve alcançar 3 milhões de toneladas até o fim do ano.
“A alta do preço do trigo no exterior será constante e continuará por muito tempo”, avalia o presidente da Abitrigo. Os estoques globais estão apertados, principalmente devido ao conflito no Leste Europeu e aos problemas na produção dos Estados Unidos, o que elevou em 40% o preço do grão.
Fonte: Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Agência Senado, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Companhia Nacional do Abastecimento (Conab), Rubens Barbosa/Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo)