Perspectivas e oportunidades para a agricultura de baixo carbono

23 de novembro de 2022 11 mins. de leitura
O Summit Agronegócio 2022, realizado pelo Estadão, reuniu diversos especialistas do setor para debater temas importantes. Confira.

Summit/Produzindo Certo/Charton Locks: poucos produtores têm assistência técnica no país, e menos sobre sustentabilidade

Por Tânia Rabello e Isadora Duarte

São Paulo, 09/11/2022 – Uma das principais deficiências para o agronegócio se tornar mais sustentável no Brasil é a falta de assistência técnica e mais: uma assistência técnica especializada em práticas ambientais, disse hoje o diretor de Operações da Produzindo Certo, Charton Locks, durante o Summit Agro 2022, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo ele, o País dispõe de cerca de 2,7 milhões de técnicos extensionistas, “mas nem todos têm formação para olhar para a adequação ambiental das propriedades rurais”. Tanto que a Produzindo Certo foi selecionada pelo Land Innovation Fund (LIF), um fundo de fomento a soluções de inovação, para formar extensionistas com conhecimento em sustentabilidade. “O objetivo do programa é democratizar a assistência técnica para o agro, independentemente do porte do produtor rural, seja ele pequeno, médio ou grande”, reforçou.

Em relação às métricas para medir a sustentabilidade dos produtores rurais, a Produzindo Certo desenvolveu 90 indicadores a fim de medir a conformidade dos produtores em relação a eles. “Com essa métrica fica possível tornar tangíveis essas práticas”, acrescentou. Porque, para o produtor rural, embora ele tenha interesse crescente em sustentabilidade, você tem de chegar com o tema sustentabilidade de forma pragmática. “Ele olha pra nós e pergunta o que ele tem de fazer para ser mais sustentável.” Assim, os extensionistas que serão capacitados pela Produzindo Certo vão ser treinados nesse sentido, de entender e aplicar os indicadores na prática.

Essas métricas são essenciais, segundo Lochs, para que o agricultor “entregue mais valor, além da geração da sustentabilidade”. Atualmente, a Produzindo Certo já conta com 6,5 milhões de hectares sob gestão com sustentabilidade e com assistência técnica e a meta, até o ano que vem, é aplicar mais meio milhão de hectares nesse sistema. “Vamos também oferecer um curso por mês, gratuito para profissionais do agro, para treinar as pessoas, a partir deste mês até novembro do ano que vem.”

Summit/Produzindo Certo/Locks: metodologias para cálculo de crédito de carbono ainda são muito caras

Por Isadora Duarte e Tânia Rabello

São Paulo, 09/11/2022 – Um dos desafios para viabilização do mercado de carbono na agricultura é o custo elevado das metodologias para aferição do balanço de carbono e, consequente, cálculo do crédito, segundo o diretor de Operações da Produzindo Certo, plataforma que certifica propriedades agrícolas em conformidade socioambiental, Charton Locks. “Hoje no Brasil temos agricultura que cada vez menos emissora de carbono por quilo de produto produzido. O problema é o custo para calcular o crédito de carbono. O investimento é muito grande das empresas em sensores para que o custo de transação diminua”, disse Locks durante o Summit Agronegócio Brasil 2022 “Desafios à frente”, promovido pelo Estadão, que começou na última segunda-feira (7) e se estende até hoje. Ele citou um projeto de crédito de carbono em Mato Grosso, acompanhado pela Produzindo Certo, em que somente a coleta da linha de base custará seis vezes mais o valor do crédito.

Na aValiação de Locks, o custo para cálculo de crédito de carbono pode ser reduzido caso o País enfrente o desmatamento ilegal no País. “O desmatamento pesa muito na cesta de produtos do que é produzido. A pegada da soja brasileiro por causa do desmatamento está em 600 kg de CO2 equivalente por tonelada produzida. Se tirasse o desmatamento, isso cairia pela metade”, afirmou.

Locks relatou que algumas empresas têm desenvolvido metodologias próprias para crédito de carbono. “Vejo nisso um espaço grande para o produtor brasileiro participar. Foi lançado um giro de investidores e eles pretendem não deixar passar a contribuição da agricultura de 1,5 grau na temperatura global nos tempos pré-industriais e colocam o produtor no centro”, afirmou. Ele acrescentou que a maioria das empresas está inclinada a estabelecer uma data de corte para restringir desmatamento em sua cadeia, mas ponderou que para isso as companhias precisam conhecer a pegada de carbono do seu fornecedor.” Isso pode servir como uma barganha do produtor porque a indústria assumiu o compromisso com seus investidores. Existe uma expectativa de que esse mercado privado valorize uma produção de baixo carbono no Brasil”, afirmou.

Também presente no evento, o presidente da Yara no Brasil, Marcelo Altieri, avaliou que o caminho é a cadeia trabalhar o compromisso da redução de carbono de forma integrada. “Começamos esse caminho na Yara em 2005 e desde então baixamos 45% das emissões. E para 2030 baixaremos outros 30% e em 2050 seremos carbono neutro”, apontou. Ele acrescentou a necessidade de um marco regulatório para o mercado de carbono. “Tem que ser forte para incentivar de maneira que venha essa produção de grãos com baixas emissões. E a combinação do setor público e privado com a cadeia de produção para encontrar as oportunidades e poder reduzir. Já é uma realidade e temos que dar escala”, disse.

Summit/Regrow/Renato Rodrigues: agricultura brasileira peca em desmatamento e pastagem degradada; é grande oportunidade

Por Isadora Duarte e Tânia Rabello

São Paulo, 09/11/2022 – A pecuária brasileira, especialmente a de corte, tem um imenso potencial ambiental a partir da recuperação de pastagens, disse hoje o líder de Região para América Latina da Regrow, Renato de Aragão Ribeiro Rodrigues. Ele participou, hoje, de painel sobre créditos de carbono do Summit Agro 2022, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo. “O Brasil tem 180 milhões de hectares de pastagens, sendo que 100 milhões de hectares são degradadas ou abaixo da capacidade produtiva”, acrescentou.

Nesse âmbito, o setor agropecuário brasileiro também tem, por consequência, “um imenso potencial” para participar do mercado de créditos de carbono. Ele citou práticas como agricultura de baixo carbono, contempladas dentro do Plano ABC. “Este plano é o mais consistente do mundo em termos ambientais”, assegurou.

Rodrigues disse que os produtores são sustentáveis e querem participar do mercado de crédito de carbono. “Mas o Brasil ainda peca no desmatamento e nas pastagens degradadas”, disse, assinalando, porém, que justamente as pastagens degradadas “são uma grande oportunidade para sequestrar crédito de carbono (se reformadas e intensificadas)”. Outro ponto a ser trabalhado, conforme Rodrigues, é a imagem do produtor rural nas áreas urbanas, “onde ele ainda é o vilão”, mas ninguém vê que ele quer melhorar sua produção mais ainda. “Na Europa, o produtor é herói nacional.”

Para Rodrigues, a agricultura brasileira já usa tantas práticas ambientais que às vezes fica difícil mitigar mais carbono, em propriedades mais tecnificadas. “Os agricultores brasileiros estão muito à frente”, garantiu. “Se a gente comparar um produtor brasileiro com um norte-americano a distância é enorme, tanto que fica mais fácil mitigar carbono nos EUA do que no Brasil (dada a falta de sustentabilidade da agricultura nos EUA)”, assegurou. “Se o produtor nos EUA usar plantio direto isso já gera crédito de carbono pra ele.”

O grande gargalo no Brasil, porém, ainda é assistência técnica em larga escala e crédito, disse o executivo, além do desmatamento.

Summit/Yara Brasil/Marcelo Altieri: agro tem boas práticas ambientais e precisa aprender a monetizá-las

Por Isadora Duarte e Tânia Rabello

A indústria de créditos de carbono já é uma realidade e, para o futuro, vai haver, especificamente para a agricultura brasileira, mais demanda do que oferta. “O Brasil tem boas práticas ambientais mas precisa aprender a monetizá-las”, disse hoje o presidente da Yara no Brasil, Marcelo Altieri. Ele participou de painel sobre o tema no Summit Agro, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo. Para ele, o agronegócio brasileiro “está à frente em relação à sustentabilidade e o ponto forte é um importante marco regulatório, que é o Código Florestal”, disse. “Mas ele precisa ser implementado.”

Altieri defendeu também que o agricultor brasileiro já dispõe de muitas práticas sustentáveis, como rotação de culturas, cultivos integrados e plantio direto. “Mas estamos precisando ter uma certificação dessas boas práticas”, acrescentou. “Ou seja, temos de transformar em um bom negócio a preservação do meio ambiente.” Em sua opinião, a agricultura brasileira “tem um grande potencial”, e não só no campo, “mas em toda a cadeia produtiva de alimentos”.

Nesse âmbito, ele citou uma tendência atual, que é a agricultura regenerativa e que a Yara trabalha nesse sentido, com a produção de fertilizantes verdes. “São fertilizantes minerais, mas produzidos com energia 100% renovável, como biometano”, informou ele, acrescentando que na Europa a Yara tem utilizado também energia eólica em seus processos produtivos.

Outra frente de atuação é a pesquisa da substituição do adubo nitrogenado por nitratos. Segundo Altieri, o nitrogênio aplicado nas lavouras tem boa parte dele liberada para a atmosfera, o que não acontece com os nitratos, que é uma tecnologia já disponível e garante 90% menos emissões na atmosfera em relação ao nitrogênio. “Só falta ter produção em escala industrial para um uso amplo pelo agricultor, que pode fazer a substituição automaticamente”. De todo modo, segundo Altieri, o agricultor já tem também a opção da ureia verde.

Em relação aos processos produtivos da própria Yara, Altieri informou que a companhia já reduziu 45% das emissões de carbono desde 2005, deve reduzir mais 30% no ano que vem e, em 2030, alcançar o “net zero”, ou seja, neutralizar 100% das emissões.

Summit/Insper/Jank: vilão do brasil na cop-27 é desmatamento ilegal, mas vamos levar muita coisa boa

Por Tânia Rabello, Isadora Duarte e Vinicius Galera, especial para a Agência Estado

São Paulo, 09/11/2022 – Embora o vilão da imagem do agronegócio brasileiro no exterior ainda seja o desmatamento ilegal, o Brasil terá condições de apresentar “muita coisa boa” na 27ª Conferência do Clima, que ocorre até o dia 18 no Egito, disse o professor sênior de agronegócio global e coordenador do Insper Agro Global, Marcos Jank, que participou, nesta manhã, de painel sobre China no Summit Agro 2022, promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Ainda conforme ele, o desenvolvimento de uma agricultura altamente eficiente e sustentável no Brasil é uma solução para as economias emergentes globais. Segundo ele, que viajará amanhã para participar das discussões da COP-27, os países e, principalmente as empresas, que desde a última COP-26, em Glasgow, Escócia, tiveram participação ativa, devem apresentar na conferência compromissos de redução de emissões, inclusive de net zero (neutralização total das emissões de carbono).

“Tem muita coisa acontecendo no mundo que afeta nossa economia. Eu reconheço que o Brasil tem um lado vilão, que é o desmatamento ilegal, e seremos questionados sobre isso, mas temos a solução, que é a agricultura de baixo carbono (ABC), temos energia renovável em larga escala, enquanto na Europa a base da energia é fóssil, por exemplo”, disse.

Segundo Jank, é importante que o Brasil concentre seus esforços nas discussões sobre as demandas produtivas e ambientais dos principais parceiros, como a China. Ele diz que hoje a Europa representa 16% das exportações brasileiras, enquanto a China responde por quase 40% e a Ásia, como um todo, 66%. “Essa questão de exportação, do que a Europa vai querer ou não nos afeta muito menos hoje do que afetava há 20 anos”, avaliou.

“Nossa questão, é discutir nossas soluções com a China outros mercados emergentes. O que vai se discutir é o exemplo modelo produtivo que gera segurança alimentar, climática e produtiva. O Brasil tem tudo isso. Somos solução principalmente para economias emergentes.

Assista o evento em: https://www.youtube.com/watch?v=Pu4p_B9Z3Hw

Contato: isadora.duarte@estadao.com; tania.rabello@estadao.com

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