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A pecuária de corte no Brasil enfrentou um cenário de falta de animais de reposição, causado pela escassez de chuvas e pelo ciclo pecuário associado a uma redução no consumo doméstico da carne bovina em 2021. O preço da arroba do boi gordo se manteve acima de R$ 300 ao longo do ano passado e acelerou no início de 2022.
O setor enfrentou a suspensão de importações da China após o registro de dois casos atípicos da “doença da vaca louca”. Isso colaborou para uma queda de 7% nas exportações da proteína, que fechou o ano passado em 1,8 milhão de toneladas embarcadas — uma retração de 150 mil toneladas em comparação a 2020.
Nos próximos anos, a procura pela carne bovina deve crescer, no entanto a demanda passa por transformações. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a maior preocupação com saúde, impulsionada pela pandemia, deve reconfigurar os mercados doméstico e internacional.
Reposição de bezerros
Em 2021, a taxa de ociosidade dos frigoríficos no Brasil chegou a 45% por conta da falta de animais para abate. Para este ano, a preocupação com a ausência de reposição de bezerros aumenta, uma vez que houve crescimento no abatimento de novilhas. Cada fêmea que é retirada da fazenda representa a interrupção de um ciclo de produção de dois anos.
Com menos bezerros disponíveis no mercado, o preço do animal no ano passado se manteve acima do valor nominal médio registrado em 2020, mesmo com as quedas consecutivas nos últimos meses. Devido a essa valorização, os pecuaristas devem reter as fêmeas para aumentar a produção de bezerros. Assim, a oferta para os recriados pode se normalizar a médio prazo.
Em 2022, a expectativa é que a produção de bezerros alcance 53,3 milhões de animais, o que significa crescimento de 2,5% em relação ao ano anterior, quando foram produzidos 52 milhões. Isso, contudo, não será suficiente para normalizar a cotação. De acordo com a avaliação da Embrapa, os custos de reposição só devem baixar em 2023.
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Intensificação na produção
Para acelerar a reposição de animais, a intensificação da produção é um caminho para elevar o volume produzido sem avançar em novas áreas, de acordo com a Embrapa. Os pesquisadores da instituição sugerem que o desmame precoce, com a suplementação nutricional dos bezerros, pode garantir encurtamento do intervalo entre partos e taxas de gestação altas.
Um dos principais motivos para o baixo desempenho reprodutivo das vacas é a manifestação tardia do cio pós-parto. Esse evento está relacionado à deficiência nutricional e à intensidade de amamentação e é prolongado pela desmama convencional, que geralmente ocorre entre o sétimo e o oitavo mês dos bezerros.
Entretanto, é possível desmamar precocemente os bezerros com apenas 105 dias, uma vez que o trato digestivo do animal já está preparado para a alimentação com forragens. Com a técnica de creep-feeding, os bezerros recebem uma suplementação nutricional em cochos privados e exclusivos com uma ração balanceada para animais que ainda estão mamando.
Vantagens e desvantagens
O produtor deve considerar uma série de fatores antes de implementar o sistema de creep-feeding, de acordo com os objetivos e a realidade de cada propriedade. De forma geral, a técnica apresenta maior renda por unidade e ganhos sociais com maior número de bezerros produzidos.
O creep-feeding apresenta vantagens como o aumento da taxa de crescimento do animal durante a fase de cria, o incremento do desenvolvimento das crias e a facilidade do desmame. Além disso, a técnica reduz o intervalo entre os partos das vacas, estimula taxas elevadas de gestação e melhora o controle de parasitas.
No entanto, a depender do custo do concentrado e da implantação do sistema, a utilização do método pode não ser lucrativa. Outro ponto que o pecuarista deve considerar é a demora de adaptação dos bezerros submetidos ao creep-feeding à dieta baseada em pastagens.
Fonte: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).