Entenda o impacto da nuvem de gafanhotos para o agronegócio

24 de junho de 2020 4 mins. de leitura
Gafanhotos se aproximam do Brasil e podem afetar atividade agropecuária

Nos últimos dias, os noticiários foram invadidos por informações sobre uma infestação de gafanhotos que, após passar pelo Paraguai e pela Argentina, se aproxima do Uruguai e pode afetar o Brasil. Embora eles não transmitam doenças para humanos e animais, as consequências podem ser graves na agropecuária por conta do desequilíbrio nos ecossistemas.

Entenda os possíveis efeitos desse problema para o agronegócio.

Impacto

Brasil, que possui segunda maior frota de aviões agrícolas do mundo, prepara combate à infestação de gafanhotos. (Fonte: Shutterstock)

O problema causado pelos gafanhotos pode ter uma repercussão séria para a atividade agropecuária. Esses insetos se alimentam de folhas; por isso, há preocupação quanto às plantações dos locais por onde a nuvem passar, sobretudo considerando a velocidade da praga. Segundo o governo argentino, que vem monitorando o comportamento dos animais, a alta temperatura e o vento permitem que a nuvem de gafanhotos avance até 100 quilômetros em um único dia, deixando um rastro de destruição.

O estado gaúcho, primeiro afetado caso a nuvem avance em direção ao Brasil, possui intensa atividade agrícola, sobretudo ligada ao plantio de fumo, arroz, trigo, aveia e soja. Por ser um período de entressafra, a agricultura não seria tão impactada como poderia ocorrer caso a nuvem de insetos atacasse o estado no segundo semestre, época da colheita dessas culturas. No entanto, o manejo das culturas próprias do período fica comprometido.

Um dos possíveis impactos é na pecuária extensiva: é comum que as terras sejam usadas para pasto na entressafra. Além disso, dados da Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE/RS) mostram que cerca de metade das propriedades agropecuárias do estado têm atividade ligada à pecuária. Caso esse problema se confirme, artigos como leite e carne bovina podem ter seus preços afetados.

Segundo o governo de Córdoba, na Argentina, “em aproximadamente 1 km², até 40 milhões de insetos podem se mobilizar e comer as pastagens, o que equivale ao que duas mil vacas consumiriam em um dia”.

Reação

Diante da ameaça, órgãos brasileiros ligados à agricultura estão compondo uma força-tarefa junto a países do Cone Sul para monitorar o comportamento da nuvem de insetos e planejar as medidas cabíveis para a hipótese de os gafanhotos entrarem no Brasil. Caso isso se confirme, o governo já possui um plano de ação e orientará os produtores acerca das condutas necessárias.

Mas as medidas de prevenção já estão sendo providenciadas. O Ministério da Agricultura decretou Estado de Emergência Fitossanitária no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o qual permite que o Executivo assuma ações emergenciais para o combate à praga, como contratação de pessoal e aquisição facilitada de defensivos a serem pulverizados por mais de 400 aviões agrícolas.

Da espécie Schistocerca cancellata, os gafanhotos são nativos da América do Sul — há registros de sua ocorrência desde o século 19. No entanto, o enxame que se aproxima é resultado de um pico de desequilíbrio na taxa de reprodução do animal, que, diante da demanda alimentar de sua superpopulação, precisa migrar em busca de alimento. Por isso, teme-se que as plantações brasileiras sejam afetadas.

Origem

Nuvem de insetos é preocupação no agronegócio, sobretudo no Sul do país. (Fonte: Shutterstock)

É difícil precisar o histórico e as causas dessa superpopulação dos gafanhotos. Mas, como os primeiros ataques ocorreram na província argentina de Formosa, que faz fronteira com o Paraguai, imagina-se que a nuvem de insetos tenha se originado nessa região. Desde 11 de maio a questão é monitorada por ambos os países, onde plantações de milho, mandioca e cana foram destruídas.

É provável também que o fenômeno seja consequência de alterações no ecossistema original dos animais, como morte de predadores naturais ou de outro consumidor do mesmo nível trófico, além de mudanças climáticas. Esse arranjo geraria superabundância alimentar e condições de reprodução ideais.

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Fonte: Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser (FEE) e BBC.

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