Levantamento aponta quais regiões do Brasil são as mais afetadas com vestígios de agrotóxicos na água
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De acordo com dados levantados junto ao Ministério da Saúde, entre 2014 e 2017, a água consumida em 1 a cada 4 cidades do País continha uma série de agrotóxicos. Essa informação veio à tona em um trabalho de investigação em conjunto entre Agência Pública, Repórter Brasil e a organização suíça Public Eye.
Os dados são parte dos relatórios do Sisagua (Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano), que agrupa os resultados obtidos por meio de testes realizados em companhias de abastecimento.
A presença de agrotóxicos foi percebida na água fornecida para o abastecimento de 2,3 mil cidades analisadas. A situação se torna ainda mais preocupante quando se observa que na grande maioria delas foram encontrados indícios de todos os 27 agrotóxicos pesquisados. Nesse caso, os estados que mais chamaram atenção pela contaminação foram Mato Grosso do Sul, Tocantins, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Entre as regiões que apresentaram contaminação múltipla por agrotóxicos estão as capitais Palmas (TO), Florianópolis (SC), Cuiabá (MT), Campo Grande (MS), Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Manaus (AM), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Fortaleza (CE).
Mesmo sabendo que a maior parte dos testes realizados demonstrou que a concentração de agrotóxicos na água permanecia dentro dos limites estabelecidos pela lei brasileira, os dados do Ministério da Saúde não deixam de assustar, afinal são milhares de cidades com vestígios de produtos químicos em um dos bens essenciais à vida humana.
Além disso, ainda pairam no ar as incertezas sobre o que fazer para regular e manter a fiscalização nas regiões em que os limites ultrapassaram o permitido pela legislação. Em termos comparativos, parte da água contaminada e consumida por milhares de brasileiros seria considerada como imprópria para consumo no continente europeu.
No período avaliado para o levantamento das informações, as companhias de abastecimento de água encontraram em 1.396 municípios os 27 pesticidas que a lei brasileira obriga a testar. Desse total de produtos químicos, a Anvisa categoriza 16 como altamente tóxicos, 11 deles ligados ao aparecimento de doenças relacionadas a disfunções reprodutivas e hormonais, malformação de fetos e até câncer.
Outro fator evidenciado por esses dados diz respeito ao nível de contaminação, que está crescendo a passos largos e de forma contínua. Em 2014, cerca de 75% dos testes realizados detectaram a presença de agrotóxicos; no ano seguinte, o índice subiu para 84%. Em 2016, chegou a 92% e em 2017 já estava presente em 92% das análises.
Nesse ritmo, não levará muito tempo para que se torne uma tarefa complicada ter água sem agrotóxicos e pesticidas em alguma torneira do Brasil.
Por meio de alimentos ou pela água, a ingestão dos mais diversos tipos de venenos usados no setor agrícola pode provocar uma série de doenças, não importando se esse consumo se dá em pequenas ou grandes quantidades. Dependendo da extensão do período que pessoa permanece ingerindo a água contaminada, podem aparecer lesões nos rins, alguns tipos de câncer, convulsões e problemas no sistema nervoso. Em casos extremos, o sistema imunológico pode ser afetado e ocorrer risco de morte.
Além de toda a preocupação com os altos índices de agrotóxicos na água e a saúde humana, há o fator ambiental. A água contaminada prejudica de forma direta tanto a fauna quanto a flora aquática, e um claro exemplo disso é que se um veneno chegar às águas correntes (rios), como um herbicida, pode provocar a morte de plantas aquáticas: se for um veneno que afeta os animais, peixes serão os primeiros a morrer.
Por sua vez, o Ministério da Saúde, ao responder aos questionamentos feitos pelos sites e pela Public Eye sobre o problema, ressaltou que a exposição aos agrotóxicos é danosa para a saúde, mas que ações apenas podem ser implementadas quando os limites não são respeitados. E é aqui que reside o problema: o País não conta com nenhum limite em se tratando de um coquetel de substâncias.
Fonte: SISAGUA, Repórter Brasil, Public Eye.