Com milhares de cafeterias fechadas na China, café registra queda após o início da epidemia
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Quando as autoridades chinesas confirmaram os primeiros casos de coronavírus, em dezembro do ano passado, a saca de 60 quilos de café arábica era cotada a R$ 548,41 (US$ 136,51), enquanto o contrato futuro era negociado em Nova York a 119,20 cents/lbp. Em 4 de fevereiro, o Covid-19 já tinha se espalhado para além da Ásia, atingindo mais de 23 países, e o preço do café atingiu seu menor valor do ano, com cotação de R$ 452,94 a saca (US$ 106,40), e o valor do contrato futuro despencou para 98,15 cents/lbp.
A queda de mais de 20% nos preços em dólar assustou os cafeicultores, ainda que em real tenham tido desvalorização menor, de 17%, em decorrência da valorização da moeda norte-americana frente à brasileira. No período, a China fechou mais de duas mil lojas da Starbucks no país, além de outras instalações da grande cadeia nacional Luckin, na tentativa de conter a propagação do vírus. Ainda que o país asiático represente apenas 2% da demanda mundial de café, as suas importações vêm aumentando exponencialmente nos últimos anos, e qualquer paralisação no mercado de lá afeta o mercado mundial.
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a normalização do clima, com o retorno das chuvas nas regiões cafeeiras do Brasil e a entrada de produtos de origem colombiana e de países da América Central, contribuiu para o arrefecimento das cotações.
A Conab estima que o Brasil deverá colher até 62 milhões de sacas de café em 2020, podendo igualar ou até superar a safra recorde de 2018. A receita bruta total é estimada em R$ 25,5 bilhões. O acréscimo de área em produção, bem como o indicativo de produtividade média superior a 2019, é fator importante para essa expectativa otimista. O anúncio da estimativa também contribuiu para parte da queda do valor do grão, segundo análise do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
O café arábica representa cerca de 75% da produção total. Para a nova safra, que é de ciclo de bienalidade positiva para a maior parte das regiões produtoras, estima-se que sejam colhidos até 45,98 milhões de sacas, o que representa aumento de 34,1% em comparação com a temporada anterior.
A maior parte dessa produção será exportada. Entre fevereiro de 2019 e janeiro de 2020, o Brasil exportou 40 milhões de sacas, segundo dados do Conselho dos Exportadores de Café no Brasil (Cecafe). Somente do tipo arábica, foram enviados 32 milhões de sacas, por isso o preço no mercado internacional e a valorização do dólar impactam diretamente na cotação do grão.
Após queda em janeiro e no início de fevereiro, o preço do café arábica voltou a subir, atrelado aos novos avanços do dólar frente ao real e às cotações externas do grão. A análise é do Cepea, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) na Universidade de São Paulo (USP).
O valor alcançou o mesmo patamar do fim do ano em reais, sendo cotado a R$ 548,53 em 3 de março (US$ 106,40). No mercado futuro da Bolsa de Nova York, a reversão na tendência de preços também foi sentida. Os contratos que devem vencer em maio, quando a colheita no Brasil começará a ganhar força, fecharam o dia cotados a 121,05 cents/lbp, indicando pequena valorização em menos de 30 dias no mercado futuro.
Essa retomada de preços deve favorecer não só a cultura cafeicultora mas também os resultados do setor agropecuário brasileiro. Para a Confederação da Agricultura e Agropecuária do Brasil (CNA), as culturas de café, milho e soja devem ser as principais responsáveis pelo crescimento do setor agropecuário em 2020, quando o Valor Bruto da Produção (VBP) deve ser de R$ 436 bilhões. Com relação a 2019, a CNA estima que o café arábica deve ter crescimento de 45,3% no VBP, alcançando R$ 22 bilhões contra R$ 15 bilhões no ano anterior.
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Fonte: Cepea, ecafe, CNA.