Vilã ambiental: como melhorar a imagem da pecuária brasileira?

30 de novembro de 2020 5 mins. de leitura
Segundo painel do Summit Agro 2020 reuniu especialistas para debater tema que afeta a imagem do Brasil no exterior

A pecuária brasileira tem apresentado uma série de melhorias nos últimos anos. Graças ao aprimoramento genético, à intensificação do uso do solo e à fixação de carbono, é possível dizer que o setor está na vanguarda mundial e atende satisfatoriamente a mercados mais exigentes, a exemplo do europeu. Mas por que a reputação da área ainda é ruim?

Jornalista Andreia Lago abriu a mesa coordenada por Gustavo Porto. (Fonte: Summit Agro 2020/Reprodução)

O segundo painel do Summit Agro 2020 (“Pecuária, o calcanhar de Aquiles da boa imagem ambiental do agronegócio do Brasil”) se dedicou a tratar essa questão e contou com a apresentação de Gustavo Porto, editor do broadcast Política do Estadão, e teve como debatedores:

  • Breno Felix, diretor de produtos da Agrotools;
  • Caio Penido, presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS) e membro da Liga do Araguaia (MT);
  • Liège Vergili Correia, diretora-executiva da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec);
  • Nivaldo Grando, diretor da área de grandes animais da Boehringer Ingelheim.
  • Marcio Nappo, da JBS.

História

Nas últimas décadas, a Amazônia teve grande área desmatada para a instalação de pastagens. (Fonte: Shutterstock)

Segundo Nappo, o fato de 60% da pecuária do Brasil se concentrarem na região mais ao norte do País se refere a uma estratégia de ocupação com origem há 50 anos: “Não havia estrutura, estrada, armazém, então a pecuária foi a única atividade capaz de ocupar esse papel”. 

Atualmente, a produção cresceu em produtividade, e parte do território derrubado deixou de ser pastagem: parte virou lavoura, parte virou floresta. A agenda de modernização da pecuária tem trazido resposta a desmatamento, rastreabilidade, bem-estar animal e outros eixos ligados à conformidade socioambiental. Em razão disso, Nappo avalia que os problemas do setor passam hoje por duas grandes questões: complexidade e heterogeneidade.

“Conseguimos rastrear o gado que vai para o frigorífico, mas antes ele passa por outros produtores, responsáveis pela cria e pela recria. O desafio agora está em incluir esses setores na cadeia de rastreabilidade”, conta. A tecnologia é uma aliada nesse processo, porque, em vez de excluir produtores que não estão em conformidade, é possível levar uma política mais sustentável até o início da cadeia. 

“Nos últimos anos, a gente identificava um problema e evitava a compra de produtores que desmatavam. Mas isso não acabava com o problema do desmatamento. Queremos agora, em vez de excluir, levar conformidade aos nossos fornecedores”, diz Nappo.

Tecnologia e qualidade

Instrumentos tecnológicos são fundamentais no controle de conformidade para a cadeia pecuária. (Fonte: Shutterstock)

Segundo Correia, os frigoríficos com inspeção federal são os mais conhecidos e destinam sua produção à exportação; para isso, têm fiscais agropecuários em tempo integral, que inspecionam a conformidade da produção. Mas 80% da produção ficam no País — o Brasil consome cerca de 40 quilos de carne bovina por pessoa ao ano —, e parte disso vem de frigoríficos que não apresentam o mesmo rigor de fiscalização e de conformidade organizacional. 

A executiva da Abiec entende que é necessário introduzir boas práticas no setor, mas não excluir os produtores. Segundo ela, existem formas de aprimorar a produção e interromper definitivamente o desmatamento se os menores negócios também tiverem acesso à tecnologia. “Hoje é possível chegar a 20, até 45 arrobas por hectare sem derrubar mais áreas de floresta”, defende.

Grando concorda e entende que a tecnologia é uma aliada, razão por que a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e universidades devem estar próximas do setor produtivo. “Conseguimos ser o maior produtor de alimentos do mundo mesmo sem derrubar mais uma árvore e, assim, construir um novo futuro”, enxerga.

Ele admite também que é necessário dar atenção ao problema de imagem pelo qual o setor passa. Para o executivo, pecuaristas tiveram mais foco em produzir do que em contar a história dessa produção, por isso a crise do setor pode ser vista como uma oportunidade de derrubar o mito de que a pecuária é a grande vilã do desmatamento.

Compartilhar responsabilidades

Setor pecuário brasileiro precisa criar estratégias para lidar com crise de imagem internacional. (Fonte: Shutterstock)

Mais de 63% do território brasileiro são voltados para a preservação, então por que temos essa fama ruim? Esse foi o questionamento lançado por Penido, do GTPS. Segundo ele, é necessário que a pecuária reinvente seus métodos e aposte em tecnologia, mas que haja um balanço mais equilibrado do real impacto dela no desmatamento. “Exportamos para o hemisfério norte, cujo grau de consciência está mais sofisticado: eles demandam um cuidado com o meio ambiente e o bem-estar animal”, aponta.

Por isso, além de aprimorar os métodos do setor, é necessário apontar outras áreas que também contribuem para os problemas ambientais. “O setor madeireiro e outras culturas, como a soja, são também responsáveis”. Felix concorda: “Temos que enfrentar esse assunto, mas o monstro que estão pintando vai ser um pet. Será tranquilo olhar para ele”.

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