A maior preocupação do agronegócio é com o fornecimento de fertilizantes pela Rússia e Belarus, o que atinge a produção de grãos e carnes no Brasil
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O Brasil é o maior produtor mundial de grãos, com destaque para soja e milho, além de ser um dos principais fornecedores de proteína animal, como carne e frango. Contudo, uma boa parte dessa cadeia produtiva depende de fertilizantes importados, em especial os de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK).
Dessa forma, considerando que a Rússia é um dos principais fornecedores mundiais desses insumos, a guerra na Ucrânia e as sanções decorrentes dela devem ter impacto direto no agronegócio brasileiro.
Logo, não devem faltar fertilizantes, pelo menos em curto e médio prazos, mas seus custos tendem a aumentar, gerando um efeito cascata em toda a cadeia. Além disso, a Ucrânia é outro grande produtor mundial de grãos — de modo que, se a guerra afetar suas safras, as cotações desses produtos também serão puxadas para cima, inclusive aqui no Brasil. Em resumo, o cenário indica um aumento geral nos preços dos alimentos.
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Com clima tropical na maior parte do território, a agricultura brasileira depende bastante de fertilizantes para conseguir produzir em um solo pobre em nutrientes. Dessa forma, o Brasil é o quarto maior consumidor desse insumo no mundo, mas é o maior importador. De acordo com informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), 80% dos fertilizantes usados aqui vêm de fora.
Nesse sentido, é relevante observar que a produção brasileira de fertilizantes diminuiu 33% nas últimas duas décadas, enquanto a demanda quadruplicou. Isso tornou o agronegócio mais dependente das importações — especialmente da Rússia, que tem grandes minas de fósforo e potássio, além de ser um dos principais fornecedores de nitrogênio, que é extraído do gás natural. Do que importamos, 23% vêm de produtores russos.
Isso não era necessariamente um problema, inclusive porque os fertilizantes russos eram mais baratos do que os nacionais, mas o início da guerra na Ucrânia e as sanções contra o governo de Vladimir Putin já estão atrapalhando o fornecimento de insumos para o agronegócio brasileiro e levantando preocupações com o futuro do setor.
Ainda em fevereiro, por exemplo, cargas de fertilizantes de Belarus (aliado de primeira hora de Moscou) ficaram presas nos portos da Lituânia — membro da Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) e que está no outro lado do conflito.
Além disso, diversas instituições russas foram expulsas dos sistemas financeiros internacionais. Isso atrapalha transações comerciais de qualquer tipo, mesmo que o Brasil não tome iniciativa de impor sanções ao regime de Putin.
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Segundo o Mapa, essa dependência dos insumos russos não deve impedir a continuidade da produção brasileira a curto prazo — a ministra Tereza Cristina afirmou que as próximas safras de milho e soja estão garantidas.
Enquanto isso, o órgão está buscando alternativas com o objetivo de impedir a falta de fertilizantes para as próximas safras caso a guerra na Ucrânia continue. O Ministério já estava negociando cargas maiores de fertilizantes com Canadá, Irã e Chile, por exemplo.
O governo brasileiro também quer se reunir com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para pleitear que os fertilizantes não façam parte das próximas rodadas de sanções.
Além disso, existem planos para autorizar a mineração desses insumos em terras indígenas, aumentando a produção nacional. Contudo, são planos a longo prazo. No futuro próximo, a escassez de fertilizantes e grãos por conta da guerra, assim como a insegurança generalizada na economia mundial, deve aumentar os custos do agronegócio. Com isso, o impacto no custo dos alimentos será inevitável.
Fonte: Ricardo Leães/Twitter, BBC, Ministério da Agricultura.