China e Estados Unidos firmaram a primeira etapa do acordo comercial que promete pôr fim às barreiras entre os dois países, o que preocupa o setor agrícola brasileiro
Publicidade
Iniciada em 2018, quando Donald Trump anunciou tarifas sobre os produtos chineses visando reverter o déficit comercial com o país, a guerra comercial entre China e Estados Unidos ainda não chegou ao fim. Em meio ao embate, o Brasil pôde aproveitar o aumento na demanda de seus produtos, como soja, carne de frango e bovina, para o gigante asiático. No entanto, caso as barreiras entre as duas grandes potências sejam desfeitas, o Brasil tende a perder espaço, e a soja pode ser um dos produtos mais afetados por tal mudança.
Ao longo do último ano, além da imposição de tarifas extras para diversos itens oriundos da China, como eletrônicos e peças de vestuário, as ameaças trocadas entre os dois países chegaram ao âmbito cambial e mostraram a intenção da segunda maior economia mundial de retaliar os Estados Unidos. Com a primeira etapa do acordo firmada entre as duas potências no fim de 2019, a promessa de redução das barreiras tarifárias gerou, para os produtores norte-americanos, a expectativa de retomada nas exportações de seus produtos para os chineses.
De acordo com um relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em 2019, o país teve de aumentar os subsídios ao setor agrícola, que se viu prejudicado por perdas nas colheitas devido às más condições climáticas. Além disso, a guerra comercial com a China prejudicou a exportação de milho e soja do país e trouxe incertezas para 2020.
A China é o principal destino dos produtos brasileiros e teve 28% de participação nas exportações. A soja foi o produto mais demandado, chegando a 34% do total enviado para o gigante asiático. Óleo bruto de petróleo e minério de ferro foram os outros itens mais demandados pelos chineses no período.
A segunda etapa do acordo com os EUA, que tende a ser mais decisiva, deverá ser concluída após as eleições presidenciais norte-americanas, que ocorrerão em novembro deste ano. O surto provocado pelo Covid-19, o novo coronavírus, também permanece trazendo indefinição para o mercado internacional.
A demanda por importação de soja e demais produtos no Brasil tende a ser afetada enquanto a situação não se normalizar na China. As cotações de soja e petróleo sofreram queda desde o início do ano e existe o receio de que a economia chinesa enfrente alguma desaceleração em meio ao combate do surto de coronavírus.
Outro ponto que pode afetar as exportações do Brasil diz respeito ao que foi definido pelo Departamento de Comércio dos Estados Unidos, que divulgou recentemente a alteração do status do Brasil de país “em desenvolvimento” para “desenvolvido”, conforme já publicado pelo Estadão.
Argentina, Índia, Indonésia, Malásia, Hong Kong, Singapura e Vietnã também tiveram a elevação de status. A mudança, que já tinha sido anunciada como uma das concessões por parte do governo brasileiro, visa ao futuro ingresso do País na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Na prática, a elevação do status pode representar maior endurecimento por parte dos Estados Unidos, uma vez que poderão combater mais efetivamente as medidas protecionistas e os subsídios adotados por países tidos como desenvolvidos. A combinação de cenários pode afetar a exportação de soja no Brasil caso a potência se sinta prejudicada e até mesmo gerar redução nas importações de café e aço, que têm papel importante na balança comercial entre as duas nações.
Os EUA são o segundo país no ranking das exportações brasileiras: entre janeiro e novembro de 2019, sua participação foi de 13,1%. De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a balança comercial nacional fechou o período em déficit nas relações com o parceiro, o que contrastou com o superavit nas transações com a China durante o mesmo período.
Se interessou pelo assunto? Aprenda mais com especialistas da área no Summit Agro. Enquanto isso, acompanhe as notícias mais relevantes do setor pelo blog. Para saber mais, é só clicar aqui.
Fonte: Estadão, MDIC