China ainda sofre consequências do surto de peste suína

12 de março de 2020 4 mins. de leitura
A redução da oferta de carne suína eleva a demanda de bovinos e contribui para o aumento do preço do alimento em muitos países

Ao longo de 2018 e 2019, a China se viu vítima do crescente contágio pela peste suína africana (PSA) nas criações de porcos, o que obrigou o país, tido como um dos maiores produtores e consumidores mundiais desses animais, a elevar a importação de outras carnes. Com isso, a menor procura de soja, usada para a alimentação de suínos na China, e a maior demanda por carne bovina se tornaram consequências. Diante da perda expressiva de oferta, a elevação do preço do alimento foi perceptível em muitos países, incluindo o Brasil.

De acordo com dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), estima-se que quase 2 milhões de animais tenham sido abatidos na China. Como boa parte do rebanho é criada em propriedades de pequeno porte, é grande a dificuldade de controlar e até extinguir a doença, que é altamente contagiosa e se transformou na maior ameaça contemporânea da segurança alimentar global.

(Fonte: Unsplash)

Apesar de o vírus não ser transmitido para humanos, tem alto poder letal para javalis e porcos, que rapidamente sofrem os efeitos da contaminação. A transmissão ocorre de forma direta entre os animais, e boa parte da preocupação da comunidade internacional se dá por conta da capacidade do vírus de sobreviver por meses em carnes congeladas e mal cozidas e mesmo em peças de vestuário, equipamentos e meios de transporte, o que facilita a rápida transmissão.

Além da China, Mongólia, Filipinas e Indonésia entraram na lista de países afetados pelo surto. O problema também chegou a atingir parte do rebanho da Polônia mais recentemente, o que preocupou a Alemanha. O receio de que o vírus se modifique geneticamente e se transforme em uma ameaça ainda maior persiste.

Crise gera desafios e oportunidades

O efeito da epidemia se mostra expressivo pela consequência econômica que gera aos países afetados pela redução da oferta de alimentos e mesmo pela falta de controle do surto, uma vez que tanto o tratamento quanto a erradicação do vírus ainda são problemas sem solução em um horizonte próximo.

No entanto, a abertura de oportunidades para países que exportam carne e têm potencial para elevar a produção global de alimentos, como é o caso do Brasil, é considerável. A população da China tem sofrido mudanças no perfil de consumo, e, com a redução do estoque interno de carne suína, a carne bovina tem ganhado espaço cada vez maior.

(Fonte: Unsplash)

Esse novo paladar dos chineses, que pode se consolidar como uma mudança de longo prazo, aliado à falta de carne de porco por conta do surto, resultou em maior exportação de proteína bovina brasileira, o que contribuiu para a elevação do preço da carne. A abertura desse mercado, mesmo que não tenha sido feita nas condições ideais, pode continuar representando uma boa oportunidade para o Brasil estreitar suas relações comerciais com o gigante asiático. A tendência é que a China flexibilize suas regras de importação na medida em que a escassez se mostrar mais evidente.

Se por um lado a carne bovina teve aumento da procura, por outro a soja teve queda, já que o grão era destinado para a alimentação dos suínos chineses. Para o Brasil, a expectativa é que a soja passe a ser usada para a alimentação de outras espécies até que a situação esteja normalizada na Ásia, o que pode levar anos para ocorrer. O primeiro semestre de 2020 será uma chance de analisar a demanda dos produtos, portanto.

Expectativas para o ano

Relatório divulgado pela Rabobank em janeiro de 2020 considera que as epidemias continuarão a desafiar o mercado internacional. A expectativa é que, apesar da redução do contágio da peste suína africana, a China permaneça com queda na produção de carne de porco. A demanda, por sua vez, deve permanecer elevada.

O ano promete ser de desafios para a comunidade internacional e de alerta para países exportadores de carne, pois o receio de contaminação persiste e dá um caráter ainda mais urgente para a aplicação de medidas sanitárias e de biossegurança mundial.

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Fontes: FAO, New York Times, Rabobank, Estadão

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