Superação define o ano de 2020 para o setor de proteína animal

7 de dezembro de 2020 4 mins. de leitura
Neste artigo, Ricardo Santin fala dos desafios que a pandemia de coronavírus impôs ao segmento e como a cadeia se uniu para driblar as dificuldades

Por Ricardo Santin*

Superação. Esta é a palavra que, em meio a tantas expressões, define com clareza este difícil, atípico e complexo ano de 2020 para a proteína animal brasileira. Muitas vezes pouco visível para parte da população, o setor da produção de alimentos enfrentou de frente – e em pé – as dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19, para não deixar faltar comida no lar dos brasileiros.

E os impactos da maior crise sanitária de nossa história recente não se resumem apenas à preservação e ao abastecimento do mercado – que, por si só, é extremamente relevante. Mas, aos investimentos para a proteção de colaboradores e de clientes e os esforços para manter aquecidas as exportações e o consumo interno se somam a esta conta.

Mesmo antes do lockdown em todo o país, instituímos os primeiros planos de contingência setorial. Implantamos ao menos sete protocolos, sendo um deles validado pelo Hospital Israelita Albert Einstein, para manter a régua dos cuidados elevada – reforçados posteriormente por portaria do governo federal. Com planejamento, organização e muita responsabilidade, conseguimos preservar a produção, estimular as exportações e manter abastecido o mercado interno.

A oscilação do consumo interno, inicialmente impactado pelo aumento no desemprego e pelo fechamento de negócios país afora, também influenciou negativamente o comportamento do mercado. Vimos o cenário reagir apenas quando o chamado “coronavoucher” chegou, trazendo alento a milhares de famílias brasileiras e, claro, ao setor avícola.

O Brasil produziu 300 mil toneladas a mais de carne suína em 2020

Aliada à pandemia, a alta histórica nos preços do milho e do farelo de soja — dois insumos fundamentais para a cadeia produtiva de aves e suínos — pressionou a produção e chegou ao campo. Matrizes e poedeiras menos produtivas foram descartadas, reduzindo a oferta de produtos como carne e ovos. Além disso, a influência do dólar elevado atingiu em cheio os custos internacionais.

Muitos dos reflexos desta instabilidade, porém, foram minimizados pela palavra-chave do ano: superação. E, claro, pela ação enérgica das entidades setoriais representativas, em especial da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), das empresas e do governo federal, com as medidas emergenciais sociais. A prova disso está na produtividade. Graças a essa união de esforços, os níveis se mantiveram muito próximos das projeções traçadas ainda no início de 2020. Um resultado que, claro, também se deve à qualidade e à segurança alimentar que pautam a produção de proteína animal brasileira.

O Brasil continua sendo o nosso principal cliente. Hoje, representa uma fatia significativa das vendas: cerca de 70% do que é produzido fica aqui. E, mesmo em meio a tantos obstáculos, devemos encerrar o ano de 2020 com patamares superiores aos registrados em 2019. A capacidade para vencer desafios, mais uma vez, dita o ritmo deste setor que vem se mostrando resiliente dia a dia.

O mesmo vale para as exportações, apesar da retração nas vendas para as principais nações islâmicas. E o motivo vem da Ásia. O fortalecimento da China como principal importadora da carne de frango nacional, com 18% de participação nos embarques, vem puxando para cima o volume de vendas brasileiras para o exterior. Com relação à carne suína, o mercado asiático também é o grande responsável pelos bons resultados. Neste ano, o Brasil produziu cerca de 300 mil toneladas a mais do que em 2019 — alta direcionada especialmente às exportações que, além da China, foram expressivas para Hong Kong, Vietnã e Cingapura. 

Para 2021, as perspectivas não devem mudar. A alta nos custos de produção e a instabilidade no câmbio seguirão influenciando o desempenho dos mercados interno e externo. Por outro lado, a eminente retomada econômica deve favorecer o consumo residencial e o incremento de vendas para food service. E a demanda asiática por proteína animal permanecerá como o principal indicador de comportamento internacional e, assim, fator de ingresso de recursos externos à nossa economia.

Em meio às incertezas, 2020 provou que a ação organizada e coordenada e a integração dos setores foram os únicos caminhos para a superação de tantas crises. Este é o espírito que devemos preservar e prosperar para o ano que se avizinha.

*Ricardo Santin é presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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