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Brasil, o grande provedor de alimentos do mundo

12 de janeiro de 2021 6 mins. de leitura

Embora o setor de proteína animal sofra muitos ataques infundados, o segmento no país produz cada dia melhor e de maneira mais sustentável

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Por Ricardo Santin*

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Há quase 50 décadas, na capital sueca, era realizada a primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Ali começava a ser amadurecida a ideia de desenvolvimento sustentável, ideia que ganharia força em novas ações globais, à exemplo da Eco-92, no Rio de Janeiro. 

As investidas do passado frutificaram e, hoje, sustentabilidade é um cliché.  Não é mais uma vantagem competitiva, é uma expectativa. A atitude sustentável se tornou uma obrigação e, cada vez mais, se torna um hábito para os cidadãos e uma regra para as empresas.

No entanto, na ansiedade pela busca de atitudes sustentáveis, a lupa embaçada de alguns vigilantes pode cometer graves injustiças. Exemplo disso são propostas que determinadas organizações lançam rotineiramente, sob a égide da (pseudo)sustentabilidade. Faço referência à exemplos da “segunda sem carne” e outras propostas que buscam o banimento do consumo de proteínas de altíssima qualidade, como a proteína animal.

Não busco aqui lançar ideias sobre as reais motivações destas iniciativas – afinal, poderia incorrer em cometer as mesmas injustiças que nos acometem.  Mas, faço um reforço à necessidade de aprofundamento técnico-científico neste debate que tem permeado caminhos por águas rasas, encalhado em argumentos passionais.  

A produção de um frango no Brasil emite metade do CO2 de uma ave produzida em solo britânico

Neste devaneio de equívocos, surgem mitos que, por vezes, conflitam com os princípios de seus militantes. Afinal, reduzir o consumo de carne é uma ideia que alcança os três pilares de sustentabilidade estabelecidos na Declaração de Política de 2002 da Cúpula Mundial realizada pela ONU em Joanesburgo – sendo, portanto, economicamente viáveis, socialmente aceitáveis e de baixo impacto ambiental?

Nesta análise cabe uma palavra-chave sobre a qual é merecida uma reflexão: aptidão. Para aqueles que verdadeiramente conhecem o setor agropecuário brasileiro, é sabido que o Brasil possui características naturais que favorecem a produção de alimentos, sendo tais características de ordem ambiental, climática, territorial e cultural. 

A vasta disponibilidade de insumos – como grãos, água e terra – permite melhor competitividade. O clima favorável propicia tanto a disponibilidade desses insumos quanto o menor consumo energético nos sistemas produtivos. O sistema de integração permite melhor controle sanitário e impacto social. Tudo isso somado a uma legislação ambiental bastante restritiva.

A também cinquentenária avicultura é exemplo disto, assim como a suinocultura. Empenhadas na aplicação de novas tecnologias para ganhos produtivos com menor demanda de insumos, elas seguem rígidos protocolos e investem em inovações de redução de impactos e em iniciativas que vão da granja ao transporte dos produtos acabados.

Tudo isto em cadeias produtivas intensivas em mão-de-obra, com forte geração de emprego e renda, especialmente em regiões menos industrializadas. Fixam o homem no campo e contribuem para a melhora da renda na cidade, com impactos diretos no desenvolvimento humano. Ao mesmo tempo, ofertam alimentos acessíveis, geram riquezas para o país. No campo brasileiro, a produção de uma ave emite metade do CO2 de uma ave produzida em solo britânico – informação do próprio Departamento de Desenvolvimento Rural e Alimentação do Reino Unido.

É claro que todas as atividades agrícolas e agropecuárias enfrentam desafios constantes para a manutenção do equilíbrio entre o uso dos recursos naturais e a produção de alimentos acessíveis. Não se pode negar a necessidade de aprimoramento constante que permita uma produção mais limpa, eficiente e ao mesmo tempo competitiva. Afinal, esse é o verdadeiro conceito de desenvolvimento sustentável: aquele que resulta em crescimento econômico, garantindo a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento social para as gerações atuais e futuras.

Neste sentido, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) vem trabalhando fortemente em campanhas em prol do desenvolvimento sustentável, com o apoio às iniciativas para atendimento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), em especial, trabalhando em cinco objetivos definidos pelo Conselho Mundial da Avicultura como prioritários. O tema fome e o lema “sem fronteiras para alimentos” são bandeiras erguidas pela associação e pelo setor, reforçando ao mundo a aptidão brasileira para auxiliar na oferta de alimentos global. 

A responsabilidade do Brasil como grande provedor de alimentos para o mundo se reforça ainda mais neste momento de pandemia. A produção sustentável de aves, suínos e ovos está em evolução constante. Cada iniciativa conta para esse processo, como o atendimento de mercados diversos, que permite a distribuição de produtos para as mais diferentes culturas, com agregação de valor em todos os cortes (de aves ou suínos) de acordo com suas necessidades. Ao mesmo tempo, vários projetos que resultaram em melhor desempenho produtivo e menor perda foram iniciados e ou concluídos ao longo de 2020. Outros seguem neste ano, como iniciativas em estudo, implantadas nas unidades produtoras, voltadas para a redução do desperdício, com preservação da qualidade. 

A segurança alimentar não pode ser garantida sem considerar a aptidão das diferentes regiões e de sua população. É preciso que haja desenvolvimento para todos, assim como é necessário reconhecer os limites e a responsabilidade que estes nos impõem. Afinal, ser sustentável é considerar a essencialidade do meio ambiente. É, também, considerar que a sociedade precisa de desenvolvimento, e reconhecer que a desnutrição em todas as suas formas continua a ser um desafio para o mundo.

*Ricardo Santin é presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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