O Presidente da República precisa ser o vendedor número 1 do agro brasileiro

6 de janeiro de 2021 6 mins. de leitura
A escolha das palavras corretas é fundamental para impulsionar o crescimento, a valorização e abrir mercados para a agropecuária nacional

Embaixadores do Agro

Por José Luiz Tejon Megido*

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Há quatro décadas atrás, em 1981, estava sentado em frente ao sr. Shunji Nishimura (1910 – 2010), imigrante japonês fundador da Jacto e da Fundação Shunji Nishimura de Tecnologia, que deixou um legado para a mecanização e agricultura de precisão no Brasil.

Sr. Nishimura me pedia para escrever sua filosofia e me explicava o maior de todos os poderes, o poder da palavra. Dizia que palavra boa é como água boa, gera a vida. Já a palavra errada, dita com raiva, destrói e mata. Desta forma, Nishimura clamava por ponderação e inteligência no uso da palavra, conselho sábio, válido até hoje para todos os líderes do agro e, em especial, para todos os presidentes de seus países.

Hoje vivemos uma guerra de palavras, uma pororoca das águas. Tudo amplificado pelas Redes Sociais, um fenômeno nunca vivido antes na história da humanidade. Além de bombas, terrorismo e/ou enfermidades, o homem tem o poder de gerar ou destruir, conforme o uso da palavra. Lembrando que a palavra errada vira um tsunami de desgraça. Há muito ódio, raiva e polarização também dentro do agronegócio, por isso inicio o ano desta forma.

Nos últimos 50 anos, o Brasil – graças aos líderes conscientes – conseguiu criar uma economia a partir do fundamento do agronegócio, que significa a integração da ciência, dos insumos, com tecnologia da produção agropecuária, da agroindústria, do comércio e dos serviços. A pujança do setor amenizou o tombo da economia em 2020 e nos manteve ativos. O destaque fica para a soja – introduzida no Brasil por Shiro Myasaka, e hoje líder das exportações brasileiras do agronegócio.

Palavras são como água, as palavras boas geram vida, as ruins destroem (Foto: Getty Images)

Isso foi possível por conta de visionários do passado, como Luiz Fernando Cirne Lima, criador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) com Alysson Paolinelli, que à frente do Ministério da Agricultura de 1974 à 1979, promoveu parcerias entre Embrapa, universidades, pesquisadores e produtores rurais. Estes últimos, verdadeiros desbravadores, que foram para o Centro-Oeste do Brasil e aplicaram a cartilha de recomendações das instituições de pesquisas, o que transformou os solos pobres efracos do Cerrado em um oásis da produção agropecuária.

Na lista de visionários do agro, também estão empresários, como Fernando Penteado Cardoso (Manah e Fundação Agrisus); Antônio Secundino de São José (geneticista); Ney Bittencourt de Araújo (fundador da Associação Brasileira do Agronegócio – Abag); Shunji Nishimura; Atílio Fontana (Sadia); a família Brandalise (Perdigão); Maurílio Biagi, do setor sucroenergético; os Maggi, produtores de soja; Aury Luiz Bodanese, da Aurora Alimentos; Aroldo Galassini, com 50 anos de Coamo, a cooperativa agroindustrial com sede em Campo Mourão (PR) e Francisco Turra, da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que foi o herói da crise gerada pela operação Carne Fraca.

Cito aqui apenas alguns nomes como símbolos do que precisamos, ou seja, lideranças autênticas de cujas bocas jorram as boas palavras. 2021 será intolerante com toda liderança incompetente e ignorante, os fake líderes. A paciência com a incompetência termina aqui.

O agronegócio precisa abraçar todo o país, assumir sua responsabilidade, impor a legalidade e representar todo o cidadão brasileiro, do campo e da cidade. O setor precisa mostrar o valor dos biomas brasileiros, dos solos, das águas e do plano de Agricultura de Baixo Carbono (ABC). O novo século XXI começa agora.

Para o futuro, não basta contar apenas com o crescimento dos preços das commodities ou com o show de inovações, que deve ocorrer em 2021.

Precisamos de um planejamento estratégico para o país dobrar o tamanho do agro brasileiro e permitir o crescimento sustentável do Produto Interno Bruto (PIB). Isso por meio da diversificação de produtos, da inclusão de milhões de propriedades agrícolas, da criação de empregos, de agroindústrias, de novos comércios e serviços gastronômicos, do turismo rural e cooperativismo.

Para que isso aconteça, minha recomendação é a criação de um conselho de sábios anciãos, gente cuja história é revelada pelas obras realizadas e que não precisa mais provar nada a ninguém. Gente que não se deixará guiar por facções políticas ou ideológicas que morreram no século XX. E também gente que já superou a guerra íntima do próprio ego, que leva a disputa de falsos poderes. 

Sugiro Alysson Paolinelli para a presidência desse conselho e, ao Presidente da República, seja ele quem for, dou uma orientação: seja o vendedor número 1 do agro do país. Abra as portas, conquiste clientes, corações e mentes. Nossa reputação e imagem sempre serão julgadas pela sensatez de seus atos e de suas palavras.

O mundo mudou, nosso cliente se transformou, a geopolítica do agronegócio com EUA, Europa, Ásia e China não correrá mais pelos mesmos cursos das narrativas de 2020. Saúde, meio ambiente e valorização das instituições dão o tom doravante.

É hora de inovar não só na tecnologia no campo, mas no conteúdo e na escolha das palavras a serem ditas. Que a boa palavra prevaleça em 2021, como aprendi no maior doutorado do mundo, o da vida prática, passando cinco anos ao lado do sr. Shunji Nishimura, em Pompéia, no interior paulista.

Que a sabedoria dos anciãos nos ajude nessa difícil travessia de 2021. Sim, ainda dá tempo de reverter o fluxo positivo das águas para a fertilidade das relações.

*José Luiz Tejon Megido é doutor em Educação pela UDE – Uruguay; mestre em Arte, Cultura e Educação pela Universidade Mackenzie; professor de MBA na Audencia Business School, em Nantes, na França; coordenador do Agribusiness Center da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP); sócio-diretor da Biomarketing e membro do Conselho Científico do Agro Sustentável (CCAS) e do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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