O agronegócio e as futuras gerações

11 de janeiro de 2021 5 mins. de leitura
Elizana Baldissera Paranhos fala da necessidade de revisão dos livros didáticos, já que muitos trazem uma visão equivocada da agropecuária nacional

Embaixadores do Agro

Por Elizana Baldissera Paranhos*

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Em quarenta anos, o Brasil passou de importador de alimentos à superpotência agrícola, exportando para mais de 160 países produtos de qualidade, produzidos com tecnologia e sustentabilidade. Uma em cada seis pessoas no mundo é impactada  pela produção nacional, que alimenta 1,6 bilhão de pessoas no globo.

O agronegócio representa 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e é responsável por um superávit na balança comercial superior a US$ 100 bilhões/ano. E responde por 37% dos empregos no Brasil. Dentro e fora da porteira, o setor gera postos de trabalho nas indústrias metalúrgicas de máquinas e implementos, nas indústrias químicas de insumos agrícolas, nas indústrias farmacêuticas de vacinas e tantas outras, como os segmentos de transportes, armazenagem e processamento.

Do território brasileiro, 66% das áreas são reservas e florestas e apenas 7,6% têm cultivo de lavouras. Tal porcentagem é muito menor se comparada aos países europeus que cultivam de 45% a 65% de seus territórios. O Brasil é competitivo, tem clima favorável e consegue cultivar duas ou até três safras por ano na mesma área.

É inegável que ilegalidades aconteçam tanto no cenário rural como no urbano. A grilagem, o desmatamento ilegal e outros problemas sociais e ambientais são muitas vezes causados pela ausência do Estado e pela sua incapacidade de ordenar o território, principalmente nas fronteiras, e não pela produção agropecuária responsável.

Filhos de agricultores aprendem em casa sobre a produção agropecuária, mas a versão ensinada na escola, muitas vezes, é bem diferente da realidade (Foto: Getty Images)

O que preocupa é que uma pequena parcela da realidade é transformada na história definitiva de todo um setor na mídia e no material escolar de nossas crianças. Mostra-se uma realidade que não representa o Brasil rural moderno e empreendedor, replicando estereótipos e polarizando a visão de produtores e da sociedade urbana.

Com a pandemia e aulas online, muitos pais e mães perceberam que os livros e apostilas trazem informações equivocadas, tendenciosas, que prejudicam a imagem do setor e cultivam nas crianças e adolescentes a percepção de um agro que fomenta a injustiça e que destrói o meio ambiente. 

A preocupação com tal situação fez nascer o grupo @deolhonomaterialescolar, que deseja que o conteúdo escolar, assim como o sistema educacional brasileiro, seja revisado e que a verdadeira história seja contada.

Existem muitos questionamentos da sociedade urbana em relação a produção agropecuária por falta de conhecimento. O material didático hoje apresentado nas escolas públicas e privadas não conta a história de que desbravar e incentivar a interiorização foi necessário para garantir a ocupação do território brasileiro.

Também não mostra a vocação agrícola do país, sua importância na segurança alimentar mundial, contribuição econômica e produção sustentável por meio de vários sistemas de produção, dentre eles o sistema de plantio direto e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).

O que esperar para as futuras gerações? Dado o contexto de aumento da demanda global, o agro representa uma formidável promessa de prosperidade e desenvolvimento social, econômico e ambiental para o país.

No entanto, é preciso formar pessoas que acreditem no setor para que isso aconteça. E essa formação depende de conteúdo de qualidade, não distorcido por uma visão anacrônica e ideológica.  Ninguém fala bem do que não conhece, ninguém quer trabalhar em algo que não é compatível com seus princípios e valores. Estes jovens da geração millennium – os nascidos entre o início dos anos 80 e meados dos anos 90 – gostam de trabalhar em algo no qual vejam propósito.

Há uma necessidade imensa de unir o campo e a cidade e disseminar informações verídicas, baseadas em fundamentos científicos. Há uma gritante demanda por mudanças no sistema educacional, o que engloba revisão de conteúdo e capacitação de professores. A pandemia trouxe muitos danos à sociedade, mas também despertou o alerta de que – somente através da educação – é possível mudar o Brasil.

*Elizana Baldissera Paranhos é engenheira agrônoma, formada pela UNESP/Botucatu, mestre pela Universidade de Tecnologia e Agricultura de Tóquio, tem MBA em Agronegócios pela ESALQ/USP e é membro do CESB**

**CESB é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), que tem por objetivo alavancar a produtividade da soja no Brasil. O comitê é composto por 22 membros e 25 entidades patrocinadoras: Syngenta, BASF, Bayer, Mosaic, SuperBAC, Jacto, Agrichem, Aprosoja, Corteva, Instituto Phytus, Brandt, Compass Minerals, ATTO Adriana Sementes, Stoller, UPL, Timac Agro, Brasmax, FMC, Strider, Albaugh, DataFarm, Calcário Itaú, SOMAR Serviços Agro, Ubyfol e Omnia. 

Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Estadão.

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